Após dezessete dias de competições, encerraram-se no domingo dia 29 de
julho, os Jogos Pan-americanos de 2007 no Rio. Foram ganhas cento e
sessenta e uma medalhas e o Brasil ficou em terceiro lugar no quadro
geral.

Com ampla cobertura realizada pela mídia, pôde-se acompanhar a melhor
campanha em jogos Pan-americanos do país. Vários desportistas subiram
ao pódio e, representados nesse “corpo nacional”, subiram junto todos
os brasileiros. Nestas oportunidades, revigoraram-se o sentimento de
pertencimento à nação.
Trata-se de um momento ligado ao esporte em que se percebe com clareza
o sentido de unicidade de um país que vibrou orgulhoso por ser, naquele
instante, uma nação-vencedora, esquecendo brevemente as vicissitudes e
frustrações a que está submetido o povo brasileiro.

Refletindo sobre este tema, o historiador Eric Hobsbawm explica por que
o esporte tem este efeito nos sentimentos nacionalistas. Afirma que
existe uma identificação com a nação, simbolizada por jovens que se
destacam no que praticamente todo homem quer, ou uma vez na vida terá
querido: ser bom naquilo que faz. A imaginária comunidade de milhões
parece mais real na forma de um time ou de um atleta individual que
leva todos com ele na bandeira de seu uniforme. O indivíduo, mesmo
aquele que apenas torce, torna-se o próprio símbolo de sua nação. Até
mesmo o Hino Nacional, tantas vezes cantado obrigatoriamente nos tempos
de escola, passa a ser cantado por afeto, por cidadania.

Mas, como entender o conceito de cidadania em um país onde, como afirma
o sociólogo Roberto da Matta, a malandragem e o “jeitinho” se tornaram
o modo de navegação social? Como alienar-se a esta nova cultura de
mercadoria e de investimento permeada pela lógica do individualismo, em
que as vontades e necessidades são balizadas pelo capital,
estabelecendo uma equivalência entre pessoas e coisas, entre corpos e
produtos? A moralidade tem se organizado em torno da obtenção de lucros
em detrimento dos direitos individuais e da justiça social.

Que não se deixe então esmorecer esta recuperação das noções de pátria,
de nação, de solidariedade e de coletividade, surgidas nos Jogos
Pan-americanos de 2007, para que se possa com urgência voltar a falar
de “nós”. É preciso ver no Esporte um aliado para a Educação e a
condição necessária para desabrochar a cidadania, com vistas à formação
do indivíduo, num contexto de direitos e deveres, em que se destacam os
direitos humanos e os deveres de cidadão.

Pensando na aliança “Esporte e Educação”, até mesmo os atletas
envolvidos na competição admitiram ter iniciado suas atividades no
universo escolar e externam sua expectativa de que o Pan do Rio sirva
de incentivo para crianças e adolescentes seguirem ou se iniciarem no
esporte e que os pais possam animar seus filhos para a prática
desportiva. Vendo os pais torcedores, vibrando com as conquistas de
seus filhos e a gratidão dos atletas que recebiam as premiações para
com seus familiares e treinadores, percebe-se o quanto a vida e a
rotina do atleta estão permeadas por investimento, carinho e dedicação
de vários agentes.
Pra frente então Brasil, rumo a Pequim 2008.