O esporte imita a vida ou vice-versa? Quem é mais importante na formação educacional de uma criança: a família, a escola ou o esporte? Alguns podem alegar que a somatória dos três é a resultante mais confiável; outros podem afirmar que a soma das partes não condiz com o todo.
Por aí vai toda uma discussão que me remete aos tempos que acompanhava de perto a explosão do futebol de salão, ou o futsal como alguns preferem. Início da década de 80 e todos jogavam futsal. Os que não levavam jeito para a coisa acabavam indo para o gol. Assim, ninguém perdia chance de estar próximo da “balada”. Isso mesmo, o esporte era tão atraente que todos nós, de alguma maneira, gostávamos de estar por perto.
Posto de outra forma, é o que a escola devia fazer e não conseguia. Era o prazer de estar próximo dos amigos, coisa que a família não percebeu. E assim foi uma década toda de muita paixão pela “redondinha”. Mesmo com a bola pesada e com pouco espaço pra jogar, todos éramos induzidos à prática. Foi uma evolução, sem percebermos, pela naturalidade dos acontecimentos.
Na infância, jogávamos bola na rua ou, quando podíamos, num campo improvisado. O meu era o “campinho da véia”, onde hoje está instalado a FESP, na Dr. Faivre (ou pela General Carneio, em frente ao HC, para quem vinha pelo muro da casa de dona Anne).
Como os campos foram desaparecendo, precisávamos encontrar outros espaços, ou quem sabe, um novo esporte. Aí apareceu o futebol de salão, que caiu como uma luva para todos da minha geração. Quem levava jeito para os dribles curtos, então, nunca mais foi esquecido. Recordo-me quando o time do Circulo Militar jogava contra o Curitibano ou outro time do interior: a cidade toda comentava sobre o resultado. Todas as crianças, junto aos seus familiares, participavam das conquistas municipais e a escola completava a festa, era o fechamento das discussões.
Pois bem, assistindo à final do futsal no domingo, entre Brasil e Espanha, vieram-me à lembrança todas essas cenas e me perguntei: por que toda essa magia do futsal desapareceu? Por que a nossa cidade já não disputa mais campeonatos estaduais? E nossa última geração de craques do salão? Todos estão em grandes times do país e no exterior. Por que tudo desapareceu? Foram os clubes que esqueceram do esporte ou a escola que não se interessa mais pelo futsal?
Algumas famílias alegam que levar os filhos aos treinos é muito difícil, não há mais tempo para essas coisas, levar e buscar para a escola já é demais, fora isso, só com a ajuda de terceiros. Coisas de cidade grande. Posso estar enganado, mas, será que a expansão do Trieste no futsal é decorrente de que as crianças vivem próximo do estádio? Será que esta nova geração será de campeões de vídeo game?
Uma pena que a alternativa do futsal seja desprezada ou mal utilizada por todos nós, escola, família e clubes. Talvez seja o único esporte nacional que em qualquer lugar existe uma “quadra de salão” e mesmo assim é subaproveitada. Como não sei quem imita quem, mas da mesma forma que o construtivismo apareceu e as crianças deixaram de praticar os ditados escolares e com isso desaprenderam a escrever, com a implantação do “novo esporte escolar”, as crianças também desaprenderam a jogar.
Como ninguém se responsabiliza por nada, quem sofre com tudo isso são as próprias crianças, que vão deixar de aproveitar uma fase da vida em que a melhor coisa é o jogo. Só para terminar a idéia. Também me recordo no início da minha profissão quando nós propúnhamos competições de futsal relâmpagos. Em poucos dias, saia o time campeão da escola, e todos participavam da festa. Mesmo assim éramos rotulados de preguiçosos, não queríamos dar aulas. Agora nós queremos dar aulas, mas ninguém quer fazer.
P.S.: Boa sorte aos novos Conselheiros do Clube Atlético Paranaense.
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