Fórmula 1, futebol e língua

Bem Paraná

O suíço Ferdinand de Saussure, pai da lingüística moderna, diz que
língua é “sistema de relações internas”, a ser analisado por suas
estruturas. Um dos elementos é presente, linear, direto. A outra
estrutura é o elemento que não está presente, ou seja, criam-se
associações para funcionar nessa hora.

Explico-me: o futebol e a Fórmula 1 são formas de linguagens que
apresentam certas características de língua. A primeira estrutura da
língua citada anteriormente é a mesma relação entre o jogar com a bola
ou, no caso da fórmula 1, dirigir com o carro. No outro caso, é jogar
sem a bola e dirigir sem o carro. Os dois eixos cruzam-se o tempo todo,
evidentemente.

Enquanto o jogador que está com a bola precisa de alternativas para
fazer o passe, outros jogadores se posicionam para recebê-la (sem a
bola). Na corrida de carro, quando o piloto vai para os boxes, quem
trabalha são os mecânicos, mas a corrida continua (dirigir sem o
carro). Então, posso me comunicar pela escrita, literalmente ou não,
mesmo a palavra não estando editada.

Também podemos fazer com o esporte uma outra analogia com a nossa
língua. O futebol de hoje é o que chamamos na nossa língua de futuro
subjuntivo, ou seja, eventos futuros condicionados a certas hipóteses.
Por exemplo, se o Paraná perder a próxima partida, estará praticamente
na Segundona.

Outro exemplo do futuro subjuntivo: o Massa precisa ficar mais tempo
dentro dos boxes do que o Raikkonen, caso contrário vai parecer
marmelada a ultrapassagem no final da corrida. Tudo isso são
planejamentos inteligentes, são jogadas ensaiadas – um jogador na bola,
os demais se mexendo para fintar os adversários.

A troca de pneus, como a quantidade certa de combustível, é situação
mais relacionada com a competência do que com a sorte. No futuro do
indicativo, não há novas chances: errou na hora de trocar marchas,
pronto, é o suficiente para se perder um campeonato.

De Saussure ensina assim, traduzido em bom português: quem estuda melhor a “lição de casa” tem menos chance de errar.