Depois do jogo do Fluminense e da choradeira nas arquibancadas, seguida das velhas e esfarrapadas desculpas, naquele instante me veio à mente a teoria da Gestalt. Ela pode explicar um pouco do que acontece nesses momentos de tristeza e alegria no futebol. Um grupo de psicólogos alemães, nas décadas de 20 e 30, desenvolveu a teoria que em português podemos chamar de “Padrão”.

O princípio dessa descoberta é que a visão humana tem a capacidade de perceber padrões em tudo que vê. Assim, quando olhamos uma imagem, nossa mente faz a extração de padrões dessa imagem e força o estabelecimento ou criação de algum significado para o que é visto. É por isso que sempre enxergamos com o cérebro e não com os olhos. Eles simplesmente captam a luzes; as respostas são do nosso cérebro.

O que quero dizer com isso? A torcida esperançosa, a choradeira depois do jogo, as desculpas de sempre; tudo isso já vimos e ouvimos diversas vezes. Basta recordar a copa de 1950. Nunca mais fomos os mesmos, tudo se repete. Criamos os nossos padrões de comportamento. Nessa enxurrada de imagens e discursos, o que está por trás são as mensagens persuasivas. O técnico Renato Gaúcho afirmou antes do jogo: “Vamos ser campeões a qualquer custo.”

Que custo? Só se for pelos “padrões” que recebemos anteriormente. Essas festas antecipadas, antes de qualquer evento esportivo, atrapalham a análise real do observador. Basta acompanhar os Jogos Pan-Americanos. Acreditamos que na Olimpíada tudo vai ser igual. O resultado é uma decepção geral. Não conseguimos analisar e refletir friamente o que acontece em nossa volta.

O pior disso tudo é que o segundo lugar não serve, o vice-campeonato fica desprezado. Não sou contra a vitória, sou contra os “padrões” que adotamos como verdade absoluta. Por isso que não sofro mais com o meu time, o Paraná. Na falta de um “padrão”, prefiro a observação sem me contaminar. A realidade acaba sendo outra.

É dessa técnica da Gestalt que todo político se apropria. É por isso que, invariavelmente votamos no candidato cujo nome não recordamos um mês depois da eleição, muito menos o que foi prometido. O resultado são as decepções. Portanto, precisamos adotar os nossos “padrões”. Observar, como dizia o Walter Franco: “Tudo é uma questão de manter/a mente quieta/a espinha ereta/e o coração tranqüilo.”


Esta coluna é de responsabilidade do professor
de Educação Física Carlos Mosquera