O músico, ensaísta e professor de literatura José Miguel Wisnik esteve na última semana em Curitiba, proferindo palestra na Universidade Federal e lançando seu novo livro “Veneno Remédio, o futebol e o Brasil”.
Como sou apaixonado pelo assunto, fui prestigiar o Wisnik e não me arrependi. Só para citar uma das falas do músico: ele lembra o Pier Paolo Pasolini, que interpretava muito bem o futebol por meio da literatura, como um “discurso” dramático que podia ser jogado em prosa realista, como a dos alemães e ingleses; em prosa algo estetizante, como a dos próprios italianos; e em poesia, como a dos brasileiros.
Futebol em prosa significa, segundo Pasolini, jogo coletivamente articulado, buscando o resultado por meio da sucessão linear e determinada de passes triangulares. Futebol em poesia é o contrário, não linear, cheio de jinga, meio “bossa”. Ainda segundo Wisnik, o gol despontaria idealmente como a “conclusão” de um raciocínio visível. O gol tenderia a aparecer, dentro dessa cultura futebolística, como a seqüência pragmática de ações dominadas muitas vezes por uma causalidade previsível e, ainda assim, efetiva, isso para os que gostam de prosa. Para os poetas, o gol pode ser inventado por qualquer um e de qualquer posição.
Essa analogia faz do futebol uma magia que justifica a nossa paixão pelo bretão ou para alguns, como diz o próprio José Miguel, nossa paixão pelo futebol é igual a escutarmos uma música sem métrica. Tudo isso para dizer que há, sim, uma simbologia por trás de tudo que acontece em cima do “tapete verde”, entre “quatro linhas”, dentro do “caldeirão”. Para os aficionados pelo esporte, o resultado positivo basta; para os não apaixonados, o espetáculo do jogo já é suficiente.
Ruben Alves faz uma outra analogia, que se parece muito com o futebol-arte e o futebol de resultados. Ele compara o tênis com o frescobol. O primeiro é resultado de muita técnica e busca incansável do resultado, ou seja, busca-se sempre o erro do adversário. No frescobol, ao contrário, a bola não pode cair, se isso acontecer, o jogo perde a graça. Os jogadores estão sempre buscando o prazer de jogar. Busca-se, com isso, um pouco de poesia, de sincronia, de paixão em manter a alegria em brincar. No tênis, como é comum, se você não entrar de cara amarrada para jogar, não é respeitado. Igualzinho a cara de um zagueiro. Por isso que o Guga é admirado por todos, fugiu desse estereótipo.
O mesmo acontece com os grandes “deuses” dos gramados. Só para terminar as analogias e concluir um pouco dessas paixões, pergunto: se o Garrincha ainda fosse vivo, com quem você gostaria de conversar numa mesa de bar: com ele ou com o Pelé?
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