Meu primeiro contato com o futebol de salão foi aos nove anos de idade, quando fui convidado a jogar no pré-mirim do extinto Pitrica. A alegria foi tão grande que até hoje me recordo da ansiedade, da curiosidade, da compra do primeiro tênis (um Rainha preto de couro), da bola pesada, da quadra aberta de cimento do Círculo Militar do Paraná, do primeiro técnico. Era uma época mágica, em que passávamos uma parte de nosso tempo livre treinando e, a outra parte, jogando futebol. Jogando na rua, nos parques e também nos campinhos improvisados.
Tive o privilégio de ver desfilarem pelos ginásios curitibanos craques da bola pesada como: Nelsinho, Julinho, Elbi, Carioca, Casinha, Amauri, Fernando Sanches, Didu, Ivano e tantos outros que nos encantavam com suas habilidades. Essa paixão insana pelo esporte fez com que o futebol de salão jamais se afastasse de minha vida, tanto como atleta quanto como técnico e dirigente.
Até hoje sou questionado por alunos, pais e familiares sobre a importância do futsal na formação do atleta de futebol. Depois de tantos anos de experiência e de ter visto muitos craques nascerem, crescerem e se consagrarem no esporte, sem recear eu diria: iniciem sempre no futsal e não percam o momento certo de migrarem para o futebol de campo.
Justifico: o futsal desenvolve uma velocidade de reação muito grande; o espaço reduzido, a tomada de decisão rápida, a necessidade constante de atacar e defender, os lances decisivos em pequenos segundos, tudo isso cria um desenvolvimento diferenciado no atleta. E mesmo o futebol de campo, por estar atento a essas exigências, utiliza-se muito de trabalhos em campo reduzido, forte marcação, alta velocidade na realização dos exercícios e uma preparação física bem apurada.
Mas essa migração deve ser feita na fase certa (dos 12 aos 14 anos), pois temos observado que atletas que são encaminhados muito tardiamente para o campo não conseguem adaptar-se às condições exigidas por essa nova modalidade. Com essa receita de iniciação no futsal, migração para o campo na hora certa, talento, determinação, disciplina e força de vontade, temos observado grandes atletas oriundos do futsal brilharem no futebol mundial. Posso citar como exemplos: Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e mais precisamente, em nosso Estado: Pachequinho, Paulo Rink, Ricardinho, Alex, Alexandre Pato, Batatinha, Pedro Ken e tantos outros que estão por vir.
Que nossos técnicos, pais e dirigentes observem que o futsal é um grande aliado do futebol e não um esporte antagônico, pois ambos têm conseguido excelentes resultados para o nosso tão vitorioso futebol.
Newton Zanon é professor de Educação Física, especialista em Fisiologia do Exercício e técnico de futsal.