Comentar sobre as vitórias do judô no XXV campeonato mundial, no Rio de
Janeiro, fica fácil nesse momento, pois as imagens não mentem. O que
sobra, talvez, seja escrever porque o judô sendo tão competente nos
seus resultados não é tão apreciado como o futebol. Vale lembrar que,
aqui em Curitiba, na década de 80 tínhamos uma das melhores equipes de
judô do Brasil, mesmo assim pouca gente acompanhava o judô. O “caminho
suave”, tradução literal do judô, é um esporte individual, com
características próprias. Não se pode transferir responsabilidades, nem
ao menos “deixar para depois”.
Diferentemente do ludopédico que é coletivo e as “obrigações” podem ser
“terceirizadas”. Com isso, o jogador pode ser compensado pela
disposição do seu companheiro, em casos de algumas indisposições. No
judô, o atleta se concentra para não cair, este ato para os humanos têm
uma simbologia do fracasso, quando é no tatame este sentimento parece
que é maior. No bretão os atletas caem com uma escrupulosa lucidez, nem
criança acredita mais nestes tombos.
O palco verde dos boleiros é uma arena que transfere para o
subconsciente dos torcedores a imagem de uma guerra, a possibilidade de
superar o adversário a qualquer custo, podendo até parecer uma festa,
em alguns momentos, pelo menos nas comemorações dos gols. Até o
Vaticano já condenou aqueles que “levam o futebol demasiado a sério”,
talvez por ter percebido o sentido religioso do jogo, ou mesmo a fé
“desvirtuada”. O improviso da arte com a bola nos pés é permeada de
ginga e suspiros, terminando em sorrisos e choros, o futebol não é
linear, consegue resultados assim.
No esporte japonês, com sotaque português, a lógica e a linearidade são
os fatores mais importantes para a vitória. O improviso é pecado, a
ginga é impossível, as ordenadas são treinadas exaustivamente, até a
orelha se espedaçar – se você ainda não reparou nas orelhas dos
lutadores, está perdendo tempo.
Acho que estas diferenças são fundamentais para entender porque o
futebol é tão apreciado, tão amado, venerado. Precisamos em algum
momento da nossa semana de um pouco de improviso, de soltar o grito
engasgado.
No judô isso não é possível, a cultura nipônica não permitiu a evasão
de sentimentos, os “keutsquei” eram fundamentais, por isso esta arte
guerreira continua para poucos, felizmente, campeão.
Esta coluna é de responsabilidade do professor de Educação Física Carlos Mosquera