Natureza x criação

Carlos Mosquera

Dois bons livros que explicam os fatores genético e meio ambiente no esporte e outras áreas de interesse são “O erro de Descartes” de Antonio Damásio e “Tabula Rasa a negação contemporânea da natureza humana” de Steven Pinker. Eles explicam, resumidamente, o seguinte: somos impelidos  a dizer, depois de uma boa jogada dos filhos, em qualquer esporte que assistimos, “puxou o pai”. É natural neste raciocínio imaginarmos que a genética é um fator determinante na opção por um esporte. Coisa que não é verdade, os fatores determinantes em um bom atleta são muitos, inclusive a sorte. Os jesuítas diziam “Dêem-me a criança nos primeiros sete anos e lhes darei o homem”. Nós brasileiros, mas do que ninguém sentimos na pele, ou melhor, no bolso o resultado dessa colonização. Para ser mais direto e não precisar dos ensinamentos de John Locke, podemos hoje, afirmar que tanto o meio ambiente quanto os fatores genéticos interferem no aparecimento de talentos esportivos. O exemplo mais recente é o maratonista brasiliense Marílson Gomes vencedor da maratona de Nova York, no último final de semana. De uma família pobre, como muitas no Brasil, corria descalço e levava jeito para o esporte. A única solução para um talento como Marílson era treinar em centros maiores, o que aconteceu com ele aos quatorze anos. Daí pra frente não precisa mais comentar. Neste país imenso quantos Marílson não existem, quantos Robinhos estão perdidos. Por isso, só a genética não favorece o aparecimento de campeões, muito menos o meio ambiente sem a genética. É certo também fugirmos desse raciocínio acadêmico e pensarmos na transpiração, a dedicação no esporte escolhido é um fator de igual importância. Quando associamos bons treinadores, atletas esforçados e dedicados temos uma receita infalível, principalmente quando a sorte está próxima. Além de tudo isso, temos um outro agravante no esporte de rendimento em nosso país tupiniquim. As universidades brasileiras não têm como prioridade à prática de esportes, diferentemente das americanas. Quando o atleta está para despontar como promessa ele precisa optar entre a universidade ou a permanência no esporte. Quando a dúvida for com o futebol, a escolha não é demorada, o que não acontece com os outros esportes. Por isso a inexistência de tradição em nosso país quando associamos esporte de rendimento e estudos universitários.  O calendário escolar, a mentalidade das reitorias, a concepção dos professores, poucos patrocinadores e competições, tudo isso favorece o abandono do esporte. A discussão desse assunto é longa, merece outras reflexões, enquanto isso não acontece, concluímos que nem a genética nem o meio ambiente, o negócio mesmo é ter sorte.

Esta coluna é de responsabilidade do professor
de Educação Física Carlos Mosquera