Do final da semana passada até essa quarta-feira o futebol, com seus gols e lances indescritíveis, mostrou mais uma vez por que é tão amado e indecifrável. Começo pelo gol que o Coritiba tomou do Toledo no último lance da partida. Em qualquer esporte praticado nesta terra, jamais aconteceria isto. Não há lógica num gol como aquele. O mais interessante que não foi e nem será o único. Quarta-feira, o Palmeiras marcou na prorrogação, contra a Portuguesa.
Para não ficarmos apenas na terrinha, o gol do Pato no jogo da Seleção, quarta-feira, foi algo de cinema, acho que nem ensaiando faria algo parecido. O que dizer dessas “mágicas” que assolam o rude e viril esporte bretão? Não posso comentar os jogos de ontem dos nossos times, mas o que foi que o Atlético fez para pagar caro com os seus últimos resultados? Não era O time imbatível? O Paraná não estava numa crescente, como dizem os treinadores? Que crescente é essa? Parece uma coisa espírita.
Todos esses fatos e surpresas fazem do nosso esporte uma razão para acreditarmos cada vez mais no inesperado. Não resta outra coisa para o torcedor fanático em dias de jogos: roer as unhas, beber umas (sempre com moderação) e se comprometer ainda mais com as promessas. Foi-se o tempo em que só o homem era o sofredor; agora a família toda é cúmplice. Tenho um amigo próximo que, pela paixão pelo seu clube, transformou parte da casa em templo do Atlético, um museu com fotos e lembranças do seu time que faz inveja à própria sala de troféus do Furacão. De lambuja, toda a família tem uma cadeira na Arena, ou seja, sofre junta.
Acho até que inconscientemente todos estejam esperando um gol como o do Pato, como esse pela Seleção. Ninguém faz um investimento desses – como o meu amigo apenas pela paixão. Como dizia o poeta, o coração tem razões que a própria razão desconhece. Uma delas é a certeza do inesperado, do mágico, do improviso. Levamos uma vida regada a valores culturais, quase sempre brigando contra a morte. Coisas de Nietzsche.
Resta-nos a alegria de torcer por algo inacabado. A magia do futebol pode compensar nossa finitude. O que nos resta é saber que, no próximo encontro futebolístico, algo desconcertante pode acontecer. Um gol “espírita”, um gol na prorrogação, uma bala na cabeça do adversário, ou mesmo um encontro casual numa tarde de domingo num campo de futebol. Plagiando Pessoa, tudo vale a pena quando a alma não é pequena e, quando acreditamos no impossível, então…
Assine
e navegue sem anúncios