Seleções Selvagens

Carlos Mosquera

Tenho vários amigos que estão encaminhando seus filhos, naquela faixa dos 10 aos 14 anos, para as famosas “peneiradas” nos clubes de futebol da capital. A semelhança nas respostas dos clubes para as crianças sempre são as mesmas: “O menino é bom, mas não serve para o nosso time”. E esse procedimento não é de agora, sempre foi assim. Recordo-me, de quando trabalhava no antigo Colorado, que, nos dias de seleção, apareciam centenas de crianças. Não exagero, eram centenas de crianças se aventurando. E os pais corujas, babando na gravata.
Hoje em dia a coisa não é muito diferente, a exceção é que as classes média e alta também estão se submetendo a esses crivos. O mais cruel disso não é ser dispensado na primeira “peneirada”; ao contrário, é ser aprovado, treinar anos no clube, abandonar os estudos e a família e, pouco antes de se profissionalizar, não passar na outra seleção, talvez a mais difícil delas. Explico melhor: uma criança com muito talento aos 12, 13 ou 14 anos, para o futebol, não é sinônimo de sucesso futebolístico na vida adulta. São tantos obstáculos que pouquíssimos conseguem “chegar lá”.
Façamos uma revisão breve do nosso futebol paranaense: quantas crianças “talentosas” estão treinando em nossos clubes? Centenas de promessas. Como foi feita a seleção? Critérios metodológicos próprios, planejamento ou coisa que o valha de cada clube. Muito bem, quais são os craques profissionais paranaenses que jogam no nosso futebol? Será que eles podem ser contados nos dedos das duas mãos?
Posso estar enganado, mas onde estão aqueles talentos que começaram aos 12 anos? Os meninos de antigamente que hoje deveriam estar com 18 e 19 anos, e podendo “arrebentar” nos nossos gramados, aonde foram parar? Acho que essas seleções de talentos são tão selvagens que só os profissionais da bola conseguem explicar. Nenhuma ciência séria pode provar os motivos de tanto abandono no meio do percurso. Fico com pena dos muitos sonhos serem abandonados no caminho, como castelos de areia.
Nos outros esportes a coisa não é tão diferente, mas no futebol é mais evidente e mais triste. Sem falar, é claro, nas crianças que largaram as suas famílias e cidades para se aventurar em mundos completamente diferentes, quase todos com muito pouca estrutura, por mais que os clubes digam que a criança é obrigada a estudar para jogar. É diferente.
Agora, levar o filho para apenas fazer um teste e ver provado – à criança e ao pai – que craque o filho não é, não custa nada. Terá sido apenas uma tarde diferente.

Esta coluna é de responsabilidade do professor de Educação Física Carlos Mosquera