Sociedade e talentos

Gostaria de completar a idéia da coluna da semana passada, quando comentei sobre a facilidade de participação esportiva em jogos de futebol. Mesmo acima do peso, com alturas variadas, qualquer um pode jogar “com igualdade de condições”, desde que tenha um mínimo de talento. Foi o que escrevi então.

O historiador Robert Levine definiu o esporte como “metáfora da dinâmica social”. Em outras palavras, quis mostrar que o papel que se espera do futebol, jogo coletivo e de contato físico, somente poderia ser cumprido desde que estivesse claramente disciplinado. E a lógica esportiva continua sendo a mesma há centenas de anos, desde quando os atletas gregos tinham regalias pelas suas “disciplinas”. Mas é exatamente nesse ponto que as ideologias se misturam.

Compreendemos que em qualquer esporte existe a necessidade de disciplina, mas, no futebol, a realidade é diferente – lógico que não é regra. Não me assusta mais saber que um jogador de futebol foi multado por indisciplina, que um Kléber da vida, o do Palmeiras, fica mais tempo suspenso do que trabalhando. Uma postura radicalmente diferente em outros esportes. Ricardinho do vôlei que o diga.

As origens e a existência do futebol sempre foram decorrentes das próprias necessidades. Professor Hilário explica no livro “A dança dos deuses” que a geografia futebolística inglesa mostra como, na década de 1920, o surgimento ou fortalecimento de clubes de futebol seguiu muito de perto o traçado das ferrovias. Os interesses estão sempre comandando a lógica do esporte.

Só para terminar. Por que o Ronaldinho Gaúcho, que precisa voltar a ganhar ritmo de jogo com os novos companheiros, é liberado pelo Milan e o Kaká, que já está integrado, não é liberado? Qual a lógica dessa decisão? Por essas e outras acho que Levine tem muita razão quando estabelece o termo “metáfora da dinâmica social” para a realidade esportiva. É mais atual do que nunca. Se gordo e fora de forma pode jogar, porque a “disciplina”?