É recorrente escutarmos pela imprensa alguns desafios, quase impossíveis, que os técnicos de futebol enfrentam em seus clubes quando estão lidando com os “boleiros”. Nestas últimas semanas, aqui em Curitiba, o que mais se fala é que o Coritiba não ganha mais porque está em “final de feira”. Já o Atlético está se recuperando graças à união do grupo. Viajando para outros estados, o discurso também não é diferente. O Muricy, do São Paulo, consegue “tirar” tudo dos jogadores. É diário, também, o seguinte discurso: O Vanderlei é um grande motivador.
Quem não está acostumado ao futebol ou mesmo os mais distraídos apaixonados pelo bretão talvez não tenha percebido a nítida inversão de profissão que os técnicos estão exercendo. Se eu fosse presidente do Conselho Nacional de Psicologia, iria autuar todos os técnicos de futebol profissional. Estão exercendo a profissão sem a mínima formação. Não é assim que acontece com os conselhos e sindicatos? Parece-me que os técnicos precisam estar muito mais mexendo com o emocional dos jogadores do que os treinando. É reunião antes dos treinos, é reunião depois dos jogos, concentração, conversas particulares e aí vai mais um montão de estratégias motivadoras.
Em qualquer empresa séria deste planeta, todos os funcionários precisam permanentemente estar se capacitando. Os de empresas privadas, para se manter no emprego; os servidores públicos, para ascender na carreira. A única coisa para motivar, com que a empresa se preocupa, é manter os salários em dia. O restante é por conta do empregado. Não é isso que acontece no mundo? Pois então, por que com os profissionais da bola a coisa tem que ser diferente?
Detalhes para os que esquecem a realidade da “desmotivação”: os treinos são em dois períodos, não passando de quatro horas diárias. Com direito a massagem, hidroterapia, direitos a imagem e mais algumas regalias extra-campo. Os mais céticos dirão: “Em compensação, eles viajam quase todas as semanas e precisam estar concentrados todos os finais de semana, deixando a família e amigos sempre longe do convívio.” Resposta para os defensores de uma causa perdida: as concentrações são resultados da própria indisciplina dos jogadores, o timão do Sócrates foi campeão paulista sem nunca precisar de concentração.
Outro dado: o profissional do futebol, quando é bem orientado, encerra a carreira sem nunca mais precisar bater o cartão ponto de todos os mortais. Pode se aposentar e nem chegar perto da aposentadoria do governo. Noves fora e ainda ser a personalidade que todos gostariam de ver e conversar, para conhecer de perto: um ídolo.
Então, raro leitor, que lhe parece? Quer trocar de profissão? Aí está mais uma dica para os treinadores do nosso Brasileirão: mostrar aos atletas a vida de todos os cidadãos “normais” deste país. Com salários que nem sempre cobrem todas as despesas, os mortais, fazem de tudo para não perder o emprego, se esforçam e se automotivam para cada dia se sentirem produtivos. Se assim mesmo não servir de exemplo, que mostre a realidade dos outros esportes brasileiros. Muitos atletas olímpicos recebem no final do mês apenas um “meus parabéns” e, mesmo assim, continuam motivados.
Esta coluna é de responsabilidade do professor de Educação Física Carlos Mosquera – [email protected]