Esta semana choramos a perda de um músico local, o Emerson Gus, do Loaded, Sofia e Góticos 4 Fun. O fato trouxe de volta a saudade de um outro rapaz daqui que partiu cedo demais, mais ainda que Gus, e cuja morte completa neste sábado, 15 anos. Tô falando do primeiro vocalista da Relespública, Daniel Fagundes. Era 1994 e, desde então, sempre que se aproxima o dia das mães ou se fala do falecimento de Senna, é da nossa tragédia que lembro. Porque foi assim que a notícia do acidente de carro  caiu sobre a cena musical local, que vivia no porão do 92 seu momento de “seattle brasileira”. Naquela manhã o telefone tocou logo cedo, primeiro, com Fábio Elias contando sobre acidente que quase levou também o batera Emanuel Moon, que quebrou os ossos da bacia e afetou igualmente o trio Good Witches – com dois de seus integrantes também envolvidos. Com o Daniel minha proximidade era maior, há dois anos eu convivia com aqueles garotos, que  me impressionavam pelo talento musical. Daniel, em especial, tinha tantos planos, tantas vontades e projetos nascendo. Em seguida, veio a confirmação de que aquele menino de jeito tímido não tinha conseguido segurar a gravidade dos ferimentos e se fora. Palavras, em teoria, não adiantam de nada, nessas horas. Mas colocar o compacto da Bloddy Records e ouvi-los cantando “Capaz de Tudo”,  me pareceu a única saída tolerável para conseguir respirar fundo e ir pra perto de quem, com certeza sentia uma dor ainda mais lancinante. Naquela hora, de alguma forma o alento veio nas palavras tão simples da canção  que sempre, desde então, nos momentos difíceis volta a rondar. Por isso, também, essa semana foi tão triste.  Sentimentos se revolveram. Por que, do pensamento sobre como pode ser injusta essa existência – por conta da morte do Gus -, inevitavelmente fui pelos meandros da memória de volta para perto de Fabio, Cassiano e do André Fagundes, na Cemitério Parque Iguaçu, e outros amigos tão incrédulos quanto baqueados pela dor.  Nem era pra ter a coluna Piracema hoje, mas, um imprevisto caiu como uma luva. Porque a gente costuma lastimar a perda de pessoas de visibilidade nacional, com as quais nunca convivemos de verdade, nos envolvemos em comoções em torno delas, mas nem sempre nos comportamos assim, com alguém mais próximo. Se usamos datas de falecimentos para manter viva a memória dessas pessoas, é bom que o façamos também por essas outras, tão mais importantes pra gente. Não tive a oportunidade de escrever, como jornalista, sobre o Daniel. Até agora. Pois que se saiba agora que esse artista curitibano que partiu tão cedo deixou suas marcas inclusive no jornalismo que faço com o compromisso de que essas figuras “nossas”, que essas histórias não se percam – e também não fiquem só dentro da gente.

Terras de Cabral
Nesta semana excepcionalmente, por problemas técnicos, a coluna Piracema substitui a Terras de Cabral. Pra quem ficou com vontade de saber as notícias  sobre o que anda fazendo Ivam Cabral e sua trupe dos Satyros, eles sãos os responsáveis por Além do Horizonte, da série Direções, da TV Cultura e TV Senac, que será exibido neste domingo, às 22h. A direção é de Rodolfo García Vázquez, com roteiro de Ivam Cabral. Em quatro capítulos, conta sobre a provinciana cidade Pérola do Norte, prestes a passar por uma destruição maciça. Diz a lenda da cidade que os pais de Esperantino, um padre e uma prostituta, foram pegos fazendo sexo no altar-mor da igreja em plena luz do dia e apedrejados em praça pública. Quando o filho volta, traz à tona sentimentos. Tema interessante para o projeto, cujo propósito é experimentar novas abordagens em teledramaturgia.