Aos 35 anos, o ator Danton Mello celebra 30 de carreira. A infância no trabalho não foi a única coisa precoce em sua vida. O casamento também veio cedo, aos 19, com seu primeiro e grande amor, a roteirista Laura Malin, 36. A relação entre ele e a ex-mulher, de quem está separado há 5 anos, acabou salvando sua vida, quando sofreu um acidente em Roraima e ficou três dias perdido na Floresta Amazônica. Do casamento, vieram as duas pessoas que Danton considera as mais importantes em sua vida: as filhas Alice, 6, e Laura, 8. Elas vêm sempre em primeiro lugar. Até mesmo de um trabalho com o melhor diretor do mundo. Em cartaz no teatro Frei Caneca, em São Paulo, com o espetáculo Os 39 Degraus, o ator falou à reportagem.
Agência Estado — Consegue manter o estilo de família mineira com suas filhas?
Danton Mello — Coloco minha vida pessoal e particular em primeiro lugar. Sempre. Por exemplo, estou com a peça em cartaz e acabei de recusar dois filmes que eu queria fazer. Eu teria de filmar de segunda a quinta. Não teria mais tempo para elas. Também ajuda a relação que tenho com minha ex-mulher (Laura Malin), que é maravilhosa.
Agência Estado — O que suas filhas acham de ter um pai ator?
Danton Mello — Elas curtem. Acho que elas ainda não entendem eu ser famoso. Elas assistem muito pouco à TV. No Brasil, toda criança assiste novela. Minhas filhas não assistem. Novela não é para criança. Elas têm coisas mais importantes para fazer do que ficar vendo novela.
Agência Estado — A decisão de elas não assistirem novela veio de você?
Danton Mello — Foi natural. Nem eu nem minha ex-mulher assistimos televisão. Não me interessa e eu não tenho tempo pra isso.
Agência Estado — E se suas filhas quiserem se tornar atrizes?
Danton Mello — Vão ter o meu total apoio. Assim como se elas quiserem ser médicas, engenheiras, presidentas.
Agência Estado — O que acha de termos uma presidenta da República?
Danton Mello — Eu nunca votei no PT, meu voto não foi para a Dilma. Mas tenho esperança de que ela faça um governo bacana e olhe pelo povo.
Agência Estado — Voltando à TV… Que atores você mais admira?
Danton Mello — Admiro muito o Tony Ramos. Quando fui convidado para a novela Caminho das Índias e soube que eu ia fazer o filho mais velho do Tony Ramos, fiquei muito feliz. Era um sonho pra mim. Quando começamos a trabalhar na novela, eu virei a sombra do Tony.
Agência Estado — É inevitável a comparação entre você e seu irmão (Selton Mello). Como lidam com isso?
Danton Mello — Todo mundo compara. Mas essa diferença na carreira aconteceu naturalmente. Ele abriu mão de muita coisa em televisão para se dedicar ao cinema. Eu não abro mão nem de TV nem de teatro pra fazer cinema. Se surge um convite para um trabalho de 3 meses no Nordeste, eu não vou. Nem que seja com o melhor diretor do mundo Não vou ficar 3 meses longe das minhas filhas.
Agência Estado — Pensa em trabalhar com Selton?
Danton Mello — A gente tem vontade. Acho que o público também gostaria de ver os irmãos juntos. Seria bacana.
Agência Estado — As pessoas na rua falam com você sobre isso?
Danton Mello — Falam, confundem muito a gente. Confundem os trabalhos. É comum me chamarem de Selton e o chamarem de Danton.
Agência Estado — Sobre o acidente que você sofreu (em 1998, ele estava a bordo de um helicóptero que caiu na selva amazônica, em Roraima). Na época, foi divulgado que sua ex-mulher pressentiu algo e pediu para começarem as buscas.
Danton Mello — Durante meu casamento com a Laura, eu falava com ela todos os dias. No dia do acidente, eu não liguei. Ela começou a achar que tinha acontecido alguma coisa. Aí, aconteceu uma grande coincidência. Eu chamo de coincidência. Outros chamam de destino, visão. Mas uma amiga ligou pra ela, e ela disse que estava me procurando. Essa amiga estava jantando num restaurante onde estava o Boninho (diretor da TV Globo). A Laura falou: Avisa o Boninho que aconteceu alguma coisa com o Danton. Daí, o Boninho acionou o jornalismo e começaram as buscas. Fomos encontrados 30 horas depois. De fato, aconteceu isso da Laura pressentir algo. Eu não acho que foi uma visão ou nada disso. Sou meio cético.
Agência Estado — O que passou pela sua cabeça?
Danton Mello — Eu sempre acreditei que ia sair de lá. Aí, na metade do segundo dia, passou um helicóptero de resgate e não viu a gente. Entrei em desespero. Pouco depois, veio outro helicóptero e nos viram. Mas o tempo estava fechando e ele foi embora avisar o resgate. Depois o helicóptero veio e fez o nosso resgate.
Agência Estado — Depois disso, você voltou lá?
Danton Mello — Não. Mas tenho vontade. Não tive tempo, porque preciso me preparar. São 3 dias de caminhada, porque de helicóptero eu não vou.
Agência Estado — Voltou a voar de helicóptero?
Danton Mello — Nunca mais. No início, foi por respeito à Laura, que pediu pra eu não ir. Mas não tenho medo de voar. Pego avião toda semana.
Agência Estado — Você disse que é cético. A maioria das pessoas agradeceria a Deus por sobreviver a um acidente como esse, no meio da selva..
Danton Mello — Pra mim, foi puro acaso, sorte, foi forte. Só isso. Nada mais.
Agência Estado — Não acredita em Deus?
Danton Mello — Não. Sou ateu.
Agência Estado — Não chegou a rezar nem quando estava perdido na Amazônia?
Danton Mello — Não. Não preciso de nenhuma religião pra praticar o bem. Não é nenhuma religião que vai ditar meus valores morais.
Agência Estado — Você se casou aos 19 anos. Acha que foi cedo demais?
Danton Mello — Foi muito precoce. Eu sou muito precoce em tudo. Tanto que eu saí de casa aos 18 anos, exatamente pra morar com a Laura.
Agência Estado — Ela tinha a mesma idade?
Danton Mello — Ela é um ano mais velha. Ficamos juntos dos 17 aos 30 anos. E foi uma relação linda.
Agência Estado — Não foi mais difícil por serem muito jovens?
Danton Mello — Não. Foi acontecendo e foi ótimo. A gente foi aprendendo no dia a dia, crescendo juntos.
Agência Estado — Como foi a decisão de se separar?
Danton Mello — É difícil falar disso. Começaram a rolar atritos e a gente achou melhor não ficar mais junto. A gente ainda tentou voltar a namorar e não deu certo. Não estava legal como foi durante tanto tempo.
Agência Estado — Acha que todo casamento sofre esse desgaste natural?
Danton Mello — Muitos conseguem passar, e outros, não. A gente não conseguiu. Hoje, eu ainda penso que se a gente tivesse tentado mais um pouquinho, talvez a gente tivesse conseguido ficar junto.
Agência Estado — Adaptou-se à vida de solteiro?
Danton Mello — Passei por um período meio esquisito. Eu me vi sozinho aos 30 anos. Foi estranho. Mas hoje consigo ficar muito bem sozinho. Uma coisa que eu costumo falar sobre esse assunto é que eu estou sozinho, não solteiro. Solteiro é quem procura outra pessoa. E eu não estou à procura de ninguém.
Agência Estado — Acha que pode rolar o mesmo que rolou com Laura outra vez?
Danton Mello — Como rolou, não. Mas sou muito jovem. É claro que ainda posso amar alguém e construir uma nova história. Mas hoje, isso nem passa pela minha cabeça. Minhas filhas estão em primeiro lugar, a criação delas. Não consegui nesses últimos anos colocar ninguém na minha vida a ponto de ter uma parceria. Vou devagar, curtindo o dia a dia. Não penso muito no amanhã. Aprendi com o acidente que a gente tem de viver o dia de hoje porque pode não existir o dia de amanhã.