No ano em que completa 50 anos de carreira o artista plĂ¡stico Jair Mendes apresenta a exposiĂ§Ă£o Pequena Retrospectiva, a partir de hoje, no Museu Guido Viaro (Rua XV de Novembro, 1348 – Centro). Na ocasiĂ£o serĂ£o apresentadas 240 obras de sua trajetĂ³ria artĂ­stica que inclui 40 pinturas de tamanhos variados e 200 desenhos, organizados em quatro cadernos que o pĂºblico poderĂ¡ manusear. Os trabalhos, pela primeira vez reunidos numa mostra, pertencem ao acervo do artista e coleções particulares. O perĂ­odo abrange desde um quadro que retrata a paisagem da antiga fĂ¡brica de fitas que existia na Ubaldino do Amaral, pintado pelo artista em 1956, atĂ© a produĂ§Ă£o recente, mais figurativa, realizada atĂ© 2009. A exposiĂ§Ă£o, com entrada franca, tem apoio da Secretaria de Estado da Cultura e poderĂ¡ ser visitada de terça-feira a sĂ¡bado, das 14h Ă s 18h, atĂ© o dia 4 de julho.
Nascido em SĂ£o Paulo mas cidadĂ£o honorĂ¡rio de Curitiba (com orgulho), Jair Mendes conta que desde que se mudou, em 1950, para a capital do ParanĂ¡ ela tem sido inspiradora para sua obra. É uma cidade que me inspira na polĂ­tica, no social, na paisagem e, sobretudo, no clima. Por vezes cinza e chuvoso mas quando o sol aparece ele Ă© ardente e isso influencia diretamente na composiĂ§Ă£o da obra, comenta e completa: Nesta trajetĂ³ria artĂ­stica o tema recorrente nos meus trabalhos Ă© o ser humano. Os aspectos sociais, religiosos, polĂ­ticos e mĂ­sticos que envolvem as pessoas. Sempre tive uma pintura eclĂ©tica, reconhece.
De fato, como observa a curadora da exposiĂ§Ă£o Rosemeire Odahara Graça, representando cenas que abordam o sagrado ou profano, Jair tem como ponto central o humano e suas diferentes situações e condições. Mesmo ao representar a paisagem (que Ă© urbana na sua maioria) sua atenĂ§Ă£o se volta para os seres humanos nela inseridos. Para ela Jair Mendes Ă© um criador irrequieto que passou por vĂ¡rias fases, nas quais se pode observar seu interesse por determinado tema ou tĂ©cnica, mas sempre se mantendo fiel Ă  figuraĂ§Ă£o. Entretanto, nos Ăºltimos anos, ao mesmo tempo em que suas obras em pintura cresceram em proporĂ§Ă£o e a linha se libertou da forma, e seus trabalhos passaram a se aproximar do abstracionismo gestual.
O artista concorda. Minha fase atual possui uma tendĂªncia a abstraĂ§Ă£o gestual com grafismo. Cria uma nova linguagem que Ă© ligada mais a pintura pura, sem formas, diz. Para ele isso vem junto a uma evoluĂ§Ă£o artĂ­stica no uso das cores em seu trabalho. A cor foi se limpando ao longo dos anos. Ficou mais pura, Atualmente a composiĂ§Ă£o cromĂ¡tica faz parte de cada obra de maneira lĂ­mpida, considera.
Essa retrospectiva de carreira tem um sabor muito especial para Jair Mendes. NĂ£o somente por celebrar 50 anos de carreira mas, tambĂ©m, pela mostra acontecer no Museu Guido Viaro, artista de quem foi aluno e amigo. Durante 15 anhos fui diretor do Museu Guido Viaro quando ele pertencia a FundaĂ§Ă£o Cultural de Curitiba. Depois ele fechou e a prĂ³pria famĂ­lia criou no ano passado o museu particular. Fiquei muito feliz com o convite ainda mais porque essa Ă© a primeira individual que ocupa o espaço, conta agradecido.
O diretor do Museu, Constantino Viaro (filho de Guido), explica no texto de apresentaĂ§Ă£o da exposiĂ§Ă£o que jĂ¡ conhece o artista hĂ¡ muito tempo. É muito difĂ­cil misturar o artista com a pessoa. Quando Jair chegou a Escola de MĂºsica e Belas Artes, para fazer o curso de pintura, jĂ¡ demonstrava um talento incomum dentre seus vĂ¡rios colegas. A escola naquela Ă©poca era extremamente acadĂªmica, conduzida pelos discĂ­pulos de Alfredo Andersen. Somente um dos fundadores, destoava do grupo: era Guido Viaro. Percebendo a importĂ¢ncia de sua modernidade, aderiu de forma intensa e competente, pesquisando tĂ©cnicas, conceitos, fazendo experiĂªncias, manipulando a forma e a cor de maneira muito pessoal, sempre evoluindo e crescendo artisticamente. Jair achou o seu caminho. Hoje, transmite a segurança e a solidez do grande artista, dentro de uma temĂ¡tica universal, que o consagra como um dos mais importantes pintores do Brasil.
Rosemeire Odahara lembra que apesar de herdeiro direto das tradições visuais de Guido Viaro (1897-1971) e, tambĂ©m, de Poty Lazzarotto (1924-1998), Jair sintetizou de modo pessoal e Ăºnico os ensinamentos que por meio deles recebeu sobre a arte clĂ¡ssica e o modernismo social de origem franco-italiana, e concebeu uma produĂ§Ă£o artĂ­stica singular. Suas obras tĂªm o traço como base e força, e foram criadas em obediĂªncia maior Ă  idĂ©ia que a tĂ©cnica. Seja no desenho ou na pintura, a linha se sobressai Ă s massas de cor, e a mistura de materiais Ă© predominante. ProfĂ­cuo criador, suas obras sĂ£o tĂ£o variadas em temas quanto em tĂ©cnicas e proporções, finaliza a curadora.

Serviço

Pequena retrospectiva – ExposiĂ§Ă£o individual do artista plĂ¡stico Jair Mendes, com 240 obras realizadas ao longo de 50 anos de carreira artĂ­stica. Abertura dia 31 de maio, segunda-feira, Ă s 19 horas, no Museu Guido Viaro (Rua XV de Novembro, 1348 – Centro) Tel: (41) 3018-6194. www.museuguidoviaro.org. A exposiĂ§Ă£o poderĂ¡ ser visitada de terça-feira a sĂ¡bado, das 14h Ă s 18h, no perĂ­odo de 01 de junho a 04 de julho de 2010.

O artista
Jair Mendes nasceu em SĂ£o Paulo e veio cedo para Curitiba (SĂ£o JosĂ© do Rio Pardo, SP, 1938). Pintor, desenhista, gravador e muralista. Residente e atuante em Curitiba, ParanĂ¡, desde a dĂ©cada de 1950. Graduado em Pintura pela Escola de MĂºsica e Belas Artes do ParanĂ¡ e Licenciado em Desenho pela PontifĂ­cia Universidade CatĂ³lica do ParanĂ¡. Realizou estĂ¡gios de aperfeiçoamento profissional no Centre Georges Pompidou (Paris, França) e na Academia di Belle Arti di Brera (MilĂ£o, ItĂ¡lia). Pela qualidade de seus trabalhos foi premiado em significativos salões nacionais. Obras suas participaram de importantes mostras coletivas no Brasil e no exterior, e integram diferentes coleções pĂºblicas e privadas do mundo. Realizou mostras individuais de seus trabalhos em diversas localidades. Foi professor da Faculdade de Artes do ParanĂ¡ e atuou como gestor cultural em diferentes instituições pĂºblicas do ParanĂ¡ e de Santa Catarina.
Sempre envolvido com os principais movimentos culturais da cidade. No inĂ­cio da carreira criou no Teatro de Bolso o atelier livre de artes plĂ¡sticas, que dava aula de graça para quem estava esperando Ă´nibus na Praça Rui Barbosa. Depois montou o Centro de Criatividade de Curitiba, ao lado do Parque SĂ£o Lourenço. Foi diretor do Museu Guido Viaro por 15 anos. Diretor do Museu de Arte ContemporĂ¢nea do ParanĂ¡ e atualmente Ă© Coordenador de AĂ§Ă£o Cultural da Secretaria de Estado da Cultura.