“A figura do diretor ainda é anônima”

Ele é filho de Fernanda Montenegro e Fernando Torres (1927- 2008). É irmão de Fernanda Torres e é casado há seis anos com a atriz Maria Luisa Mendonça, e diretor da nova safra, mas ainda assim Cláudio Torres é “desconhecido”

Maiara Camargo/Agência Estado

Ele é filho de Fernanda Montenegro e Fernando Torres (1927- 2008). É irmão de Fernanda Torres e é casado há seis anos com a atriz Maria Luisa Mendonça. Ainda assim, o cineasta Claudio Torres, de 48 anos, preza pelo anonimato. O que não quer dizer que não aproveite o talento da família, com quem sempre trabalha em seus filmes. No quinto deles, O Homem do Futuro, que está em cartaz, Torres brinca de voltar no tempo. Pessoalmente, o pai de Davi, de 10, e padrasto de Júlia, de 14, diz que mudaria apenas o dia em que levou um tombo esquiando.

Agência Estado — Em algum momento, sentiu peso por ser parte dessa família?
Cláudio Torres —
  Era o peso que tem quando você é filho de pessoas públicas. De você ir a um restaurante e as pessoas pararem. Os atores pagam esse preço, de não poder transitar livremente. Mas as pessoas sempre me receberam bem, por terem carinho pelos meus pais.

Agência Estado — Acha que isso te abriu portas?
Cláudio Torres —
Sim, mas abrir a porta não é o suficiente. Você tem de mantê-las abertas. As pessoas têm uma simpatia pré-concebida por mim. Por exemplo, eu fazia cenário para show antes de ser diretor. Ia montar cenário no Teatro Castro Alves, na Bahia. Lá, os maquinistas do teatro adoravam meu pai. Então, eu tinha a simpatia deles.

Agência Estado — Como eram seus pais?
Cláudio Torres — Eram tradicionais, mas não rígidos, era época de uma educação libertadora. Sempre conversamos muito. Mas tinha a desvantagem de eles trabalharem aos fins de semana. Em compensação, tive acesso a coisas divertidas.

Agência Estado — Você acompanhava eles no teatro, em gravações?
Cláudio Torres —
Sim, me lembro da primeira vez que fui. Meu pai fez um filme em que era um vilão que ficava num navio na baía de Santos. Ele me levou lá. Eu tinha uns 5 anos, mas aquilo me marcou para o resto da vida. Pensei: ‘Oh! O papai tem um emprego interessante’.

Agência Estado — Na escola, você contava de quem era filho?
Cláudio Torres —
Eu escondia de todo mundo, mas a minha irmã contava. Uma vez, mudei de colégio. No ano que passei sem ela, ninguém soube. Quando ela pisou lá, dancei (risos).

Agência Estado — Teve algum momento rebelde?
Cláudio Torres —
De uma coisa eu tinha certeza: não queria ser ator de jeito nenhum.

Agência Estado — Por quê?
Cláudio Torres —
Por causa da questão do anonimato. A ideia de ser parado na rua, de toda hora alguém pedir autógrafo era insuportável para mim. Eu via acontecer com meus pais. E olha que cresci em um período em que eles faziam mais teatro. Além disso, a imprensa ainda não tinha virado essa coisa de celebridade.

Agência Estado — E diretor não sofre assédio?
Cláudio Torres —
Eu desenhava, não achava que ia para esse meio. Dei uma volta enorme e me achei diretor. Mas a figura do diretor ainda é anônima. As pessoas reconhecem o trabalho, não a mim.

Agência Estado — Então, você é contra essa cultura de paparazzi?
Cláudio Torres —
É o fim da picada, a coisa mais horrenda que existe na face da Terra. Acho que deveriam ser todos presos. Se quero colocar uma foto num filme, tenho de negociar a imagem. Então, não entendo como uma revista pode vender uma foto roubada na rua.

Agência Estado — O casamento da sua irmã (Fernanda Torres é casada com o diretor Andrucha Waddington) sofreu com isso. Isso já aconteceu com você?
Cláudio Torres —
Comigo não, mas vejo o que a minha família passa. Teve isso e todo o resto. Fotografaram meus sobrinhos. Acho isso horrendo. No caso deles, foi uma crise como a que qualquer outro casal tem. Eles estão juntos, se amando.

Agência Estado — O seu próximo filme, As Bruxas, terá no elenco sua mulher, sua irmã e sua mãe. Por quê?
Cláudio Torres —
Tenho trabalhado com as pessoas da minha família há alguns filmes. É um jeito de conviver com os entes familiares, e tenho a sorte de ter uma família que bota para quebrar.

Agência Estado — Você está casado há seis anos com a Maria Luisa. Como é misturar casamento com trabalho?
Cláudio Torres —
É uma relação de troca. Ela conhece muito de dramaturgia. A família não deixa de ser família, mas você ganha um canal de parceria. Por exemplo, a produtora de O Homem do Futuro falou: Vou pôr vocês em quartos separados. A gente dormia junto, mas eu levantava cedo e ia para meu quarto trabalhar. A convivência do casal ficava no quarto dela. No meu, ficavam os problemas de profissão, digamos assim.

Agência Estado — Isso cria mais cumplicidade?
Cláudio Torres —
Sim, você entende o que o outro está passando. Se sua mulher está fazendo novela, vai sumir por um ano. Quando estou fazendo um filme, trabalho 16 horas por dia. Não tem de explicar. E meus filhos também entendem isso, assim como eu entendi isso lá atrás.

Agência Estado — Como você é como pai?
Cláudio Torres —
Eu sou muito coruja, parceiro de viagem. Meu filho vai fazer 11 anos e nós temos vários interesses em comum.

Agência Estado — Dá medo ser pai de adolescente?
Cláudio Torres —
Minha enteada, Júlia, vai fazer 15 anos e tem sido divertido. Lembro de como eu era e levo no humor.

Agência Estado — E como você era?
Cláudio Torres —
Eu era um rebelde familiar. Como diz o Ultraje a Rigor: Meus dois pais me tratam muito bem. O que é que você tem que não fala com ninguém? Eu fui muito amado. Era difícil ser rebelde com eles.

Agência Estado — Pensam em ter mais filhos?
Cláudio Torres —
Se vier, será bem vindo. Se pararmos por aqui, paramos por aqui. Mas, quem é que sabe, né?

Agência Estado — Que ator fará As Bruxas?
Cláudio Torres —
O Wagner Moura falou que topa. Ele vai tentar.

Agência Estado — E como foi trabalhar com ele?
Cláudio Torres —
Foi muito mais do que eu esperava. Além do ator, veio aquele ser humano lá. Virou irmão. É um cara simples, é canceriano também.

Agência Estado — Você entende de signo?
Cláudio Torres —
Não, só sei o mais comum.

Agência Estado — Tem alguma religião?
Cláudio Torres —
Acredito na biologia. Não em Deus. Mas, sempre que me vejo afogando na vida, chamo por Ele (risos).

Agência Estado — Em O Homem do Futuro, o personagem do Wagner volta no tempo e se encontra mais novo. O que diria se pudesse fazer isso?
Cláudio Torres —
Eu diria: Vai ser duro, mas você vai aguentar e vai ser divertido. A vida é enfrentar problemas, mas eu não mudaria nada.

Agência Estado — Nada?
Cláudio Torres —
A única coisa que eu mudaria é que, há dois anos, teria pego outra pista de esqui e não teria rompido o ligamento do joelho. Não operei, então, não posso jogar bola.

Agência Estado — Por que não operou? Tem medo?
Cláudio Torres —
É. Odeio hospital. Vou esperar a medicina avançar mais uns 10 anos.

Agência Estado —Qual sua relação com a idade?
Cláudio Torres —
A idade tem sido boa comigo. Tenho um filho lindo, uma enteada maravilhosa, estou sobrevivendo do meu trabalho, tenho saúde e me sinto jovem. Antes, eu tinha cabelo, mas não tinha experiência.

Agência Estado — Você é vaidoso?
Cláudio Torres —
Não, né? Dou uma malhada, que é mais uma coisa geriátrica do que para ter tanquinho (risos).

Agência Estado — Para encerrar, você pode me dar seu e-mail?
Cláudio Torres —
Começa com ‘mordor’… Foi assim, muito antes do filme Senhor dos Anéis, fui fazer um e-mail e descobri que não tinha direito ao meu nome na internet. Então, coloquei Mordor (nome de uma terra fictícia). Ninguém sabia o que era. Veio o filme e fiquei com esse e-mail de babaca (risos).