Sérgio Neiva Cavalcanti nasceu no dia 12 de outubro de 1955, na zona sul carioca. Transitava livre da praia à turma do jiu-jítsu, sem faltar às aulas de teatro. Escolheu o humor e consagrou-se como Serginho Mallandro. Fez cinema, passou pelas principais emissoras de TV (Show do Mallandro na Globo, Programa Sergio Mallandro no SBT, Festa do Mallandro na Manchete). Entre quadros bizarros e pegadinhas de pura baixaria, criou um estilo próprio de humor trash e imortalizou as expressões rá, glú-glú, yeah-yeah, entre outros absurdos cômicos. Nos anos 80, seu disco Vem Fazer Glú-Glú, vendeu 1 milhão de cópias. Três décadas depois, o sucesso ecoa. O trash virou cult, ele se reinventou com o stand-up Sem Censura (até sábado no teatro Anhembi Morumbi) e, em abril, estreia um reality show no Multishow. Com o incansável boné de pirocóptero, dono de uma casa de cinco andares, Mallandro é grife. E recebeu a reportagem no apartamento que mantém em São Paulo, para contar histórias de Silvio Santos, Xuxa e de fé.
Agência Estado — Você adquiriu status de cult. Sente que seu público é saudosista dos anos 80?
Serginho Mallandro — O que acontece hoje comigo é o que acontecia há 30 anos. Eu nunca parei. Sempre fiz shows, faço participações na TV, cinema. Fui me atualizando, me adaptando ao público que foi crescendo. Eu não sou um personagem, eu danço conforme a música. Uns anos atrás, fiz show para alunos de Direito da USP, eles ficaram loucos.
Agência Estado — Você também pegou carona no sucesso do stand-up.
Serginho Mallandro — Esse negócio de stand-up eu faço desde criança. Recentemente surgiu esse nome, e eu adotei, afinal a gente precisa acompanhar a modernidade. O meu show durou dois anos e meio e o diferencial é que eu lembro histórias que são referência para muita gente. Lembro do Silvio Santos, do filme Lua de Cristal (1990), do quadro Porta dos Desesperados. Na plateia você vê jovens e idosos, o garçom e o gerente de banco.
Agência Estado — Foi Silvio Santos quem te descobriu?
Serginho Mallandro — Eu sempre gostei de humor e todo mundo me falava para fazer teatro. Fui fazer, e depois comecei a participar do programa Cidade Contra Cidade do SBT. Foi ali que o Silvio me viu pela primeira vez.
Agência Estado — É verdade que, quando ele te contratou, a Xuxa foi dispensada?
Serginho Mallandro — Um dia eu precisei levar uma loura para representar o Rio neste programa. Uma namoradinha da época me apresentou a Xuxa, que topou ir comigo e ficamos amigos. Eu sempre brinco com o Silvio que o anjo da guarda dele estava dormindo. Afinal, ele tinha a Xuxa, mas me escolheu para jurado do Show de Calouros.
Agência Estado — Você foi o príncipe da Xuxa em Lua de Cristal. Já ficaram?
Serginho Mallandro — Ah, não. A Xuxa e eu éramos amigos, eu dava carona para ela.. Ela é uma querida. Ah, isso que falam aí é glú-glú, yeah-yeah…
Agência Estado — Não quis investir em ser galã?
Serginho Mallandro — Eu, galã? Eu sou humorista. Não me acho feio, mas galã, não. E estudei teatro no Tablado no Rio, sei que posso representar um personagem dramático se preciso. Fiz 12 filmes. Em Garota Dourada(1984), por exemplo, fiz cenas sérias com a Andrea Beltrão. Mas não é meu estilo.
Agência Estado — Fez mais amigos ou decepções na carreira?
Serginho Mallandro — Fiz muitos colegas legais, mas amigo mesmo é a família. Decepções, não. Eu nunca espero nada em troca das pessoas. Deus já me deu mais que eu esperava. A vida dá muitas opções para quem sabe enxergar. Tem gente que só sabe ver um caminho e, às vezes, a gente tem altos e baixos, se desestabiliza financeiramente, mas é só correr atrás. Nunca tive um momento de pensar em parar.
Agência Estado — Você foi homenageado com o curta Ópera do Mallandro (2007). Sentiu-se lembrado?
Serginho Mallandro — Nossa! Um dia o (diretor) André Moraes me ligou e disse que queria me homenagear, que ia fazer um filme com Wagner Moura e Taís Araujo. Perguntei se ele estava maluco. Até Caetano Veloso cantou música minha. Foi demais. O Wagner tinha acabado de lançar o Tropa de Elite e eu disse: fazer Capitão Nascimento é fácil. Quero ver fazer glú-glú. E ele fez.
Agência Estado — Sua popularidade quase rendeu um cargo político (pelo PSB).
Serginho Mallandro — Recebi 23 mil votos e nem fazia campanha na TV. Eu queria ser vereador só para fazer mais creches. Tenho uma em Guarulhos há 15 anos. Mas política não é minha praia, não vou insistir.
Agência Estado — E como é o Sérgio Mallandro pai?
Serginho Mallandro — Tenho três filhos. O Serginho Tadeu, de 26 anos, trabalha comigo e é filho da minha primeira ex-mulher, a Mary (Mallandro) E os dois moram comigo no Rio. O Edgar, de 14 , e a Stephani, de 17, moram em Londres com a mãe, a (modelo) Carolina Costa. Mas eles sempre passam férias aqui comigo.
Agência Estado — Como é morar com a ex-mulher?
Serginho Mallandro — Há uns anos disse para o Serginho ir morar lá em casa e levar a mãe dele. A casa é grande, tem cinco andares. Cada um tem sua turma. Às vezes a gente faz churrasco, minha turma mistura com a dela, dá aquele tre-le-lê e fica tudo certo.
Agência Estado — Você está namorando?
Serginho Mallandro — Estou com uma gata que conheci há dois meses, na gravação do reality. Vai aparecer a gente se conhecendo. Joguei aquele talento, mas ela demorou a me dar bola…
Agência Estado — Ela é famosa? Aliás, você já namorou muitas famosas ?
Serginho Mallandro — Ela não é famosa, mas comigo vai ficar, né? Já namorei muitas famosas. A gente joga um glú-glú, muitas vezes nem pode ser chamado de namoro. Mas não conto. Rá!
Agência Estado — Você disse uma vez que faz sexo oito vezes por dia. É verdade?
Serginho Mallandro — Humorista tem de levar as coisas na brincadeira. Era um programa de sexo (Amor & Sexo, da Globo), me perguntaram e eu brinquei.
Agência Estado — E o que acha de usar Viagra?
Serginho Mallandro — Ah, e você acha que não vou usar? É a pílula do homem. Viagra não é só para quem é impotente. É para quem gosta de uma performance, uma graça com a mulher, fazer várias posições. Está aí para ser tomado. O problema é usar sempre.
Agência Estado — Seu apartamento tem muitos ícones religiosos (Bíblia, crucifixos). Em que você acredita?
Serginho Mallandro — Meu pai me ensinou a ser devoto de Nossa Senhora Aparecida e São Judas Tadeu. Nos anos 90, eu conheci o Chico Xavier e comecei a frequentar palestras espíritas.
Agência Estado — Por que foi conhecê-lo?
Serginho Mallandro — Eu perdi meu pai aos 11 anos, queria saber dele. E também queria saber por que tantas coisas boas tinham acontecido na minha vida. Chico me recebeu muito bem, mas não recebi nada do meu pai. Disse que eu precisava ler mais, e me deu livros. Cheguei à conclusão de que todas as religiões que falam de Jesus levam para o bem. Tenho fé, acredito que quando a noite está ficando escura é porque está perto de nascer o dia.
Agência Estado — Você tem medo de morrer?
Serginho Mallandro — Acredito que todo mundo que ama alguém tem esse medo. Eu tenho porque amo meus filhos e a vida.
Agência Estado — Cuida bem da saúde?
Serginho Mallandro — Controlo açúcar, não como fritura e tomo muita água. Tento caminhar todo dia e faço jiu-jítsu desde os 17 anos, me formei com os Gracie. Me cuido bastante.
Agência Estado — E o que é, enfim, ser malandro?
Serginho Mallandro — É saber viver intensamente, não prejudicar ninguém e fazer o bem. Assim as portas se abrem. A malandragem da vida é ter fé. Não importa a religião. Com fé, sempre vai ter energia boa para você.