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Denise Fraga e Tony Ramos já contracenaram em filmes e novelas, mas esta é a primeira vez que se encontram nos palcos. (Foto: Cacá Bernardes)

Pela primeira vez contracenando no palco, Denise Fraga e Tony Ramos estreiam “O Que Só Sabemos Juntos” no Teatro Guaíra, em Curitiba. Nos dias 14 e 15 de fevereiro (sexta e sábado), os atores propõem uma montagem diferente, com direito a reflexão, risadas e interação com a plateia. “Uma proposta honesta, humanística e verdadeira”, como diz Tony Ramos. Os ingressos estão disponíveis pelo Disk Ingressos.

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O ator, que estava há 20 anos afastado dos palcos, percebeu, em uma montagem anterior de Denise (Eu de Você), o desejo de estar de volta aos tablados brasileiros. Em entrevista exclusiva ao Bem Paraná, o ator contou como surgiu a parceria com Denise, os caminhos tortuosos para a construção da peça e ainda comentou sobre o orgulho de ser paranaense. Confira a entrevista na íntegra aqui.

Bem Paraná – Tony, normalmente, eu iria te pedir uma sinopse, mas, neste caso, acredito que faz mais sentido te perguntar: qual é a proposta de ‘O Que Só Sabemos Juntos’?

Tony Ramos – Falar de uma sinopse dessa peça, de fato, é muito complicado. Não é uma peça do imaginário popular, ela não se trata de João e Maria, que começam a peça fazendo isso, que passam por isso, por aquilo, e terminam assim. Daí o projeto, para mim, cativante e estimulante, Eu não gosto muito da palavra desafiador, porque parece que você está brigando no ringue com alguém. Não é desafiador, é estimulante. É uma peça que propõe uma reflexão moderna sobre o comportamento humano. O que é o comportamento humano de cada um de nós, dos que assistem do lado de lá, de uma tela de computador ou onde estiver? O que é o comportamento humano frente ao humanismo, ao respeito ao próximo?

Então, a peça tem um casal que é central no espetáculo. O espectador vai ver cinco movimentos desse casal. Desde lá o começo, o momento em que ele fica sem emprego, o momento em que ela começa a se destacar na carreira e ele não consegue mais colocação, é um executivo, e ela progredindo cada vez mais. O espectador vai vendo isso, percebendo isso, e, no meio desses diálogos, de repente, nós começamos a conversar com a plateia. Portanto, não é uma peça convencional.

Conversar com a plateia não é constranger a plateia. Conversar com a plateia é convocar essa plateia a uma reflexão sobre tudo o que nos rodeia e, assim, aparecem textos que muitos vão descobrir. Aparece um Fernando Pessoa, sem falar que é Fernando Pessoa. Agora, chegamos a Curitiba, neste icônico templo e cenário que é o Teatro Guaíra. Isso é fascinante. É um retorno e uma possibilidade de nós estarmos falando para essas duas mil e tantas pessoas e convocando essas pessoas para uma alegria sobre o pensamento, sobre a reflexão, quem somos e o que é que nós só sabemos juntos, perante a vida, perante aquilo que nos rodeia. Como fazer uma sinopse disso? Não há possibilidade. Sempre prefiro dizer: desfrutem do espetáculo, convivam conosco e sintam que é uma proposta honesta, humanística e verdadeira.

BP – Foi esse toque ‘não convencional’ de ‘O Que Só Sabemos Juntos’ que te seduziu a voltar aos palcos depois de 20 anos?

Tony – O que me seduziu foi o espetáculo anterior de Denise Fraga, o “Eu de Você”. Brilhante espetáculo, inesquecível, cativante e que me deixou muito incomodado quando vi a primeira vez. Eu a vi pela primeira vez em São Paulo. Uma noite eu fui ver um espetáculo e fiquei incomodado, perturbado, mas achei lindo e com uma atriz maravilhosa. Passaram-se os tempos e veio a pandemia em 2020, tudo parou. Quando eles voltaram com o espetáculo em 2022, eu quis ver de novo. Tanto Denise quanto o diretor da peça, que é seu marido, Luiz Villaça, souberam que eu ia ver de novo e disseram: “Ué, de novo?”. Mas eu queria ter certeza daquela perturbação que tive e daquele momento revelador para mim.

Quando vi de novo, lotado, era um sábado à noite, aquelas 700 pessoas ali… Meu Deus, que espetáculo cativante! Eu os convidei para jantar. Nós somos amigos há muito tempo. E, no meio do jantar, eu disse como esse espetáculo me perturbou. “Se é para eu voltar ao teatro, gostaria de encontrar um projeto com vocês, com essa interação de plateia que eu vi no “Eu de Você”, brilhante, perturbadora, e que desse chance a mim, junto ao meu público, de mostrar a eles que não estou acomodado. Nunca estive”, disse. A minha caminhada é longa, mas, muitas vezes, as pessoas falam que eu não faço teatro, mas eu faço desde sempre. Apenas tive esse hiato de 20 anos, porque me dediquei muito ao cinema. Foram dez filmes, seis novelas e minisséries. Então, acabei não achando agenda para o teatro, mas desde 2022 eu vinha dizendo que iria retomar ao teatro em 2024, o que aconteceu.

BP – Tony, nesses últimos anos, Curitiba tem recebido muitas peças construídas a partir das memórias e vivências pessoais dos atores. Desde Nena Inoue, que traz uma peça sobre família e ancestralidade, até a Luciana Braga contando a sua história em paralelo com Judy Garland. Essa percepção me fez refletir: é o momento de olhar para dentro para conseguirmos olhar para fora e para o outro?

Tony – Eu acho bonita a tua observação, aliás, inteligente. Me permite formar uma observação correta. Será que é um movimento? Não, não é um movimento. Não há nenhuma organização nesse sentido. Não há nenhuma preocupação em criar-se um novo teatro. Não há novo teatro. O que existe é teatro. O que existe é um tablado. O que existe é uma arena. O que existe é o espectador e um bom texto, uma boa ideia, uma boa intenção. Eu poderia estar montando agora o Tchekhov, o brilhante Tchekhov, que amo. Você sempre passará por alguns textos que você vai dizer que é engraçado esse texto, clássico da dramaturgia internacional, e tem momentos aqui que parecem a minha vida. Cada um de nós. Você pode estar fazendo uma comédia fascinante, rasgada, shakespeariana, e, de repente, você percebe que essa peça tem 500 anos, mas parece que foi escrita ontem à tarde.

Então, as reflexões da vida, as coincidências ou não fazem parte do cotidiano. Talvez, a pandemia tenha trazido a muitos uma necessidade de repensar o que dizer no palco, mas não é o caso nem de Denise, nem o meu. Pode ser que, daqui a dois anos, depois da próxima novela, eu volte com uma peça diferente. E, desde que ela me faça refletir, eu volto com uma comédia retumbante. O que eu não quero é parar de fazer teatro. O que me interessa é o teatro, é o ser humano, é quem vai lá e me assiste e o ritual que me acompanha antes de cada peça. Pensar em cada movimento, em cada gesto, em cada ser humano com seu olho aberto e seus ouvidos atentos.

BP – Agora, você e Denise comentaram algumas vezes que essa foi uma peça construída na sala de ensaio. Para você, como foi poder brincar, tentar, falhar e arriscar novamente? Como esse encontro repercutiu em você?

Tony – Com afeto, respeito e vontade, sem saber direito o que seria. Quando começaram os ensaios, eu me sentia, na idade que tenho e são muitos anos, e não que eu não tenha essa pretensão, mas me sentia de novo no processo de recomeço, de “o que será que eu vou encontrar pela frente?”. Eu estava curioso, eu estava experiente, na minha vida profissional — não vou ser hipócrita —, vivido, respeitador que sou desse meu trabalho, porque começo todo o meu processo pelo respeito a mim mesmo. Tenho respeito por mim, pelo que quero oferecer a quem me assiste. Tenho respeito por quem vai, por quem se desloca de uma residência, seja apartamento, casa, onde for, compra o ingresso e se propõe a desfrutar comigo. Isto é um ritual imbatível e inigualável.

Então, quando você está em uma sala de ensaios, onde tudo é uma interrogação para criar alguma coisa, você cria a partir de contextos lentos. Estes que vieram da própria Denise, que você deve saber, excepcional escritora que ela é, de Luiz Villaça, esse observador agudo do cotidiano. Luiz tem o prazer do trabalho e tem o prazer do humor, porque a vida sem humor é um porre, eu repito sempre isso, e é um porre de bebida ruim. Então, a vida tem que ter humor, porque o humor é criativo. O humor é observador, o humor é crítico, o humor espia o ridículo do ser humano e expõe esse ridículo. Então, tudo isso estava na sala. Nós demos vazão a isso, inclusive com depoimentos de nossas vidas pessoais, que foram para o espetáculo.

Então, eu sou esse homem, com essa idade, com essa vivência que tenho, mas crente numa única coisa definitiva: o que me move e o que determina em mim essa vontade de continuar produzindo é o espectador. Eu não cortejo crítica, não cortejo ninguém. Trabalho para ele. É o meu ofício. Como tricotar, como ser um tecelão, como ser um mecânico, como ser um pedreiro. Esse meu ofício me move pela emoção e pelo respeito. É isso que determina em mim essa vontade de trabalhar, essa é a minha vida.

BP – Por último, você poderia deixar um convite para os seus leitores paranaenses? Por que eles deveriam assistir a “O Que Só Sabemos Juntos”?

Tony – Às vezes, andando por esse país, me perguntam: “Você é do Paraná?”. Eu sou de Arapongas, do norte paranaense e sempre reafirmei que sou do Paraná. Eu sou de uma família totalmente paulista, mas eu sou de uma época em que a região estava sendo desbravada e meu avô paterno era um desses homens que acreditou no norte paranaense. Minha cidade é, claro, mais velha que eu, mas não tão mais velha, e lá foi o meu avô. Ele levou três filhos mais velhos, incluindo o meu pai, para esse desbravamento do norte paranaense. Mamãe estava grávida de quatro meses e eu vinha a nascer em Arapongas, onde eu fiquei apenas os quatro meses iniciais do resguardo da minha mãe. Ela, como professora, tinha que reassumir a cadeira dela no estado de São Paulo, mas eu sou bicho do Paraná. É isso.

Bom, querida Curitiba, estaremos neste palco icônico, e é icônico, ponto final. Não é pompa o que estou falando. O Teatro Guaíra é icônico neste país, como outros teatros, é claro, mas o Guaíra tem esse lugar forte, grande e enorme. Eu estou convidando vocês, nos dias 14 e 15 de fevereiro, sexta e sábado, para um espetáculo que propõe uma reflexão com humor. Em primeiro lugar, um humor que vocês estarão sendo, a cada dois ou três minutos, surpreendidos. Ao mesmo tempo, propondo a olhar à sua volta, a olhar inclusive para aquele que está ao seu lado, que você talvez nem conheça, assistindo a esse espetáculo, desfrutando dessa comunhão. Prefiro dizer que o nosso espetáculo é uma comunhão absolutamente de alegria e de reflexão. Este cidadão, que tem uma certa idade, chamado Tony Ramos, bicho do Paraná, está louco para que vocês desfrutem comigo de um espetáculo que nós temos, sim, uma alegria enorme e orgulho de fazê-lo.

Serviço – O Que Só Sabemos Juntos

Quando: Dias 14 e 15 de fevereiro de 2025 (sexta e sábado).

Onde: Teatro Guairão (R. XV de Novembro, 971 – Centro).

Duração: 90 minutos.

Vendas: No site Disk Ingressos ou no dia do espetáculo na bilheteria do Teatro.