Cultura Entrevista

Adriana Calcanhotto aborda relação com o mar e a condição do artista em novo trabalho

‘Margem’, 11º álbum de estúdio da cantora, integra trilogia iniciada há 21 anos

Henrique Romanine, especial para o Bem Paraná

Leo Aversa - Adriana Calcanhotto lançou

Influenciada pelo Tropicalismo, pela Bossa Nova e por diferentes ritmos, Adriana Calcanhotto lançou, na última sexta (07), seu 11º álbum de estúdio, intitulado ‘Margem’. Ao lado de ‘Maritmo’ (1998) e ‘Maré’ (2008), o novo trabalho forma uma trilogia visual e musical sobre o mar e a relação da cantora com o oceano. Longe de ser um trabalho apenas conceitual, Adriana busca constatar a importância da natureza e do processo artístico, através das ideias contidas em cada disco.
“Eu tinha algumas ideias. Em relação ao ‘Maritmo’, era um trabalho bem ligado à dança, tanto que liguei o mar com o ritmo, daí o batismo do álbum. Já o ‘Maré’ tinha, como foco principal, a questão do mar que vem e que volta, e essa ação é representada pela própria maré. E o Margem surgiu como algo metalinguístico, sobre a condição marginal do artista, daqueles que estão à margem de tudo”.
Questionada se a ideia da trilogia surgiu logo na concepção de ‘Maritmo’, Adriana explicou que o processo surgiu como uma necessidade, e não como uma fórmula pronta. “Quando me mudei para o Rio, morei primeiro em Ipanema, depois no Jardim Botânico, e acabei retornando à Ipanema. Neste retorno, percebi minha relação com o mar e a necessidade dele na vida”. Tanto que a cantora deixa claro: a concepção de ‘Margem’ veio apenas durante o lançamento do álbum ‘Maré’. “Nestes 21 anos que separam o lançamento do primeiro e do último álbum, fiz vários trabalhos, e fui criando o conceito do ‘Margem’ de maneira paralela, sem prazo, sem expectativa, e isso só ficou claro para mim durante o lançamento de ‘Maré’. Foi um processo totalmente novo, pois foi a primeira vez em que levei tanto tempo para produzir um trabalho, pude me preocupar ao máximo com a qualidade”.
Sempre lembrada por conta de sua preocupação em elaborar um trabalho não apenas musical, mas também visual, Adriana chamou a atenção ao raspar o cabelo para o videoclipe do single ‘Margem’. Ela afirma que a parte visual sempre foi uma preocupação. “Acho importante registrar o andamento da música com a parte visual, registrar a ação, o que realmente acontece. Tem a ver com isso, sobre aquele momento que só pode ser aquele, o momento presente que não existe mais, mas se encontra registrado. Porque a vida é isso: nós só temos o presente. Todo o resto é impermanente”.
Parcerias e releituras
Nos dois primeiros álbuns da trilogia, Adriana regravou composições de artistas como Cazuza, Roberto Carlos, Caetano Veloso e Arnaldo Antunes. Mas em ‘Margem’, ela decidiu revisitar canções de sua própria autoria, mas que nunca tinha gravado. “Duas canções eu fiz especialmente para a Maria Bethânia (Tua e Era Para Ser), e de alguma forma, elas dialogam comigo agora. Eu sempre estive muito envolvida com composição, mas as aulas na universidade (ela leciona Letras na Universidade de Coimbra, em Portugal) me ajudaram nesse processo”.
Falando em regravações, Adriana foi tema de um projeto, intitulado ‘Nada Ficou no Lugar’, em que muitos artistas da nova geração reconstruíram canções de sua autoria. Ela conta que foi consultada a respeito, mas que preferiu não interferir em nada. “Eu faço a canção e, depois de ganhar vida, ela vai para o mundo. Eu queria ser surpreendida, pois acho genial quando um intérprete pega uma determinada obra e recria”. O resultado foi aprovadíssimo por Adriana, que destaca a recriação da canção ‘Cariocas’, pela cantora Mahmundi: “Eu, como gaúcha, cheguei no Rio cheia de constatações em relação aos costumes, aos sotaques. Todos nós agimos assim, quando nos dirigimos para outros lugares. E no Rio não é diferente, há um sotaque diferente em cada local. Eu coloquei ‘cariocas tem sotaque’ na minha letra, e a Mahmundi me surpreendeu, me corrigindo ao dizer ‘cariocas tem sotaques’. Ela me deu um baile (risos)”.
Adriana se considera tímida e diz que prefere fazer composições, ao invés de estabelecer parcerias. Mas citou três nomes com os quais tem vontade de fazer gravações: “Tenho muito interesse em fazer algo com o Gilberto Gil, o Rodrigo Amarante e o Rubel, mas não há nada programado”.
Após se apresentar com a turnê ‘A Mulher do Pau Brasil’ no Teatro Guaíra, no ano passado, Adriana vai retornar à Curitiba com a turnê de ‘Margem’ no mesmo local, no dia 24 de agosto (um sábado). Ainda não há informações sobre preços de ingressos e início das vendas.