O mês de março vai ser mágico para os forrozeiros de Curitiba. Após três anos num limbo por conta da pandemia e de questões burocráticas, o tradicional Forró da Lua voltará a acontecer na primeira sexta-feira do próximo mês, no dia 3 de março. O evento, que contará com as participações do grupo Forró de Maravilha (formado por quatro mulheres) Areia Branca e Fuá de Latada (que volta aos palcos especialmente para o retorno do Forró da Lua), foi anunciado há cerca de duas semanas e já está com os ingressos promocionais esgotados. Ainda não se sabe se haverá venda de bilhetes na hora do evento, como tradicionalmente acontece. Para acompanhar as atualizações, siga as redes sociais @forrodaluacuritiba.
Idealizado por Sandra Ruthes, Renato Zóia e Guilherme Rolim, o Forró da Lua retoma suas atividades justamente no mês em que comemora seu nono aniversário. Com expectativa de casa cheia, em torno de 800 pessoas devem aproveitar o evento, realizado pela última vez em março de 2020, quando aconteceu a edição de seis anos do festejo. “Na semana seguinte [ao último Forró da Lua] fechou tudo por causa da pandemia”, recorda Ruthes, que é professora de dança e hoje vive na Suíça, mas voltará ao Brasil para organizar e participar do evento em Curitiba.
Nos anos seguintes, além da pandemia, questões burocráticas impediram o retorno do Forró da Lua. É que o Clube Dom Pedro II, que há anos recebe o evento, estava sem um alvará necessário para que a festividade fosse realizada. A espera, contudo, valeu a pena, comenta Ruthes, explicando que o espaço passou por uma reforma durante a pandemia e exaltando o fato do festejo voltar a acontecer num momento em que todos estão mais seguros. “Estamos voltando num momento em que sabemos que as pessoas vão estar em segurança, graças à vacina [contra a Covid]. Às vezes ficamos chateados, queríamos voltar o quanto antes. Não é na hora que a gente quer que aconteça, mas de repente agora que é o momento certo, né?!”, ressalta ela.
Além disso, o tempo de espera parece ter gerado uma expectativa imensa no público. Prova disso é que o Forró da Lua, tradicionalmente, realiza a venda de ingressos na hora do próprio evento. Para a edição de março, contudo, não há ainda certeza se isso será possível, tamanha a procura pelas entradas, cujos ingressos promocionais esgotaram em menos de três semanas. “Foi uma coisa impressionante, a gente nunca teve tanta procura como agora. Eu acho que realmente foi porque o povo estava com saudade do Forró da Lua. E aí está sendo surpreendente de maneira positiva, a gente está tendo muita procura”, comemora Renato Zoia, que também é um dos idealizadores e organizadores do evento.
Ruthes, por sua vez, ainda destaca que a ideia é retomar o formato tradicional do evento, que voltará a acontecer mensalmente, sempre numa sexta-feira de Lua cheia (ou na sexta mais próxima duma Lua cheia). Essa retomada, contudo, será a partir de maio, já que em abril a sexta de Lua cheia será justamente a Sexta-feira Santa. “A gente vai acabar não fazendo em abril, mas aí voltamos em maio. Teremos maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro e novembro. Em dezembro não fazemos também porque a Lua cheia cai no Natal”, explica.
Para todo mundo dançar: “É um ritmo muito democrático”
Se você não sabe dançar, não tem problema. Segundo Sandra Ruthes e Renato Zoia, o forró é um dos ritmos mais democráticos, no qual a pessoa pode dançar sozinha ou em par, pode fazer um para cá, um para lá ou dois para cá, dois para lá ou ainda dançar fazendo evoluções mais elaboradas. O importante é se divertir.
“O que importa é a gente ter um respeito com o nosso par, ter um respeito com o salão e se divertir. Esse que é o grande lance. Você não precisa fazer aula para ir num ambiente como o Forró da Luaor. Se você gosta do forró e de repente você não sabe dançar ainda ou você acha que você não sabe dançar, lembre que todo mundo tem uma centelha de dança dentro de si. Quando está tocando uma música, você já começa a se balançar, isso é natural e você não precisa racionalizar. Mas se você não tem coragem de dançar, então vai lá para curtir o show”, diz a dançarina.
“Não quer dançar com outra essoa, então dança sozinho, dança lá na frente do palco e viaja junto com a lindeza que são essas músicas, que remetem a tanta coisa boa. A gente precisa disso”, afirma a dançarina, fazendo também um convite aos curitibanos.
Já Renato Zoia reforça que o Forró da Lua se destaca, também, por ser um ambiente que acolhe tribos diversas, e não apenas os forrózeiros da capital paranaense. Na prática, é como se fosse uma balada para quem gosta de dançar – tanto que muita gente que participa da festa nunca havia dançado antes na vida e começa a dançar ali mesmo. “Lá é um salão muito legal porque ele também tem muitos ambientes diferentes. Então você não precisa ficar só dentro do salão da pista de dança. Você pode ir numa pista ali que é só do bar, pode ir lá fora respirar um ar, você pode ficar ali no hall da entrada que é um outro ambiente onde as pessoas estão chegando… Então tem ambientes pra você ficar. Mas é claro que para um bom forrozeiro um calçado que grude no chão não é bom. Pras mulheres, também não precisa de salto. O ideal é sempre um calçado confortável, uma roupa fresca – porque estamos no verão – e o resto, meu filho, acontece na hora”, afirma Zoia.
Comunidade forrozeira em crescimento na capital paranaense
Para o evento de retomada, o Forró da Lua deve receber muitas caras novas. De acordo com Sandra Ruthes, depois da pandemia muitas pessoas acabaram entrando para a dança, começaram a fazer aulas, e agora vão experimentar pela primeira vez o evento de Lua cheia.
“A gente tem muito amigo que dá aula de dança, que dá aula de forró em Curitiba. Depois da pandemia muitas pessoas novas entraram pra dança, então várias pessoas vão conhecer pela primeira vez. É gente que já tinha ouvido falar durante a pandemia do Forró da Lua, ouviram os próprios professores falando sobre, notaram que todo mundo estava com muita saudade e esses comentários foram deixando essas pessoas curiosas também”, afirma a organizadora da festa, comemorando o sucesso que o forró tem feito não só em Curitiba, mas até mesmo fora do país.
“A gente vai receber um público novo grande também, além dos forrózeiros que já são fiéis. E o que mais me deixa feliz é ver o quanto o forró está crescendo em Curitiba. E não só aí, porque eu estou morando aqui na Suíça. Na Europa o forró está ganhando um uma proporção que não dá pra imaginar. Um tempo atrás você não imaginava que um ritmo tão brasileiro faria as pessoas tomarem tanto gosto. Inclusive, aqui na Suíça já temos grupos que compõem forrós em alemão, em francês… É muito legal e é muito bom estar vendo esse movimento todo”, celebra ela.
Para quem quer conhecer mais sobre o forró, conhecer mais músicas do gênero, uma boa opção é a Forroots, uma web rádio de Eli Moura, que toca forró 24 horas por dia. ALém disso, vale destacar a tradição que Curitiba têm no estilo. Hoje, por exemplo, há grupos em atividade como o Areia Branca, Bombaião, Forró Maneiro, FOrró De Maravilha, Iara Trio e Forró Manacá fazendo a festa dos adeptos. Além disso, outros nomes que foram importantes, mas não estão ativos, são a Jangada Ligheira, Forró de Rabeca, Trio Quartinha, Xaxa do Xexé e o saudoso mestre Pita (in memorian), que foi um grande sanfoneiro que fez forró por muitos anos na capital paranaense.
“Eu fico muito triste quando eu vejo em Curitiba uma farmácia em cada esquina, sabe? Eu fico pensando ‘meu Deus, se as pessoas soubessem o quanto a dança é mais remédio do que uma farmácia…’ Você consegue encontrar o remédio na dança porque você vai ficar mais feliz e essa alegria que você encontra na dança toma conta do teu corpo e ela deixa o teu corpo mais forte, sabe? Não estou dizendo que a dança cura. Não. Mas a dança é terapêutica. Ela é muito terapêutica. Se as pessoas descobrissem o remédio que é a dança, a nossa sociedade seria muito mais bonita, seria muito menos violenta. Não importa teu nível. Não importa se você não souber dançar. Não importa mesmo. Sabe o que importa? É você ir lá e estar feliz e você ser responsável pela tua felicidade. É muito mágico o quanto a dança traz de benefício pra tua vida.”
Sandra Ruthes, dançarina, idealizadora e organizadora do Forró da Lua