Arte da dobradura transforma papel em brinquedo

Origami ganha cada vez mais fãs por todo o mundo, dispostos a admirá-los e fazê-los

Thais Caramico /Agência Estado

Como um pedacinho de papel pode se transformar em um sapo que pula, uma luneta que aumenta de tamanho ou um pássaro que voa? A resposta está no origami, uma arte tradicional de dobraduras que existe em muitos países, principalmente no Japão. “Você poder criar seus próprios brinquedos com um pedaço de papel. É só dobrar e está pronto”, diz Mari Kanegae, professora da Aliança Cultural Brasil-Japão há mais de 20 anos.

A receita do papel foi inventada na China, atravessou a Coreia e chegou no Japão. Antigamente, as únicas pessoas que tinham acesso ao papel eram os monges, que faziam figuras de flores e pássaros para representar as divindades. Com o tempo, isso foi ganhando popularidade e as mulheres, que não trabalhavam fora, faziam dobraduras para o dia passar mais depressa. Na verdade, aquilo sempre foi uma diversão para elas.

De lá para cá, a arte do origami se difundiu pelo mundo. E por oferecer infinitas possibilidades, cada vez que você aprende a fazer um novo, torna a brincadeira mais interessante. E mais desafiadora. Para quem está começando, é importante saber que existem alguns moldes básicos que possibilitam criar uma série de objetos. Mas há também figuras complicadíssimas de fazer. Para essas, a prática e a paciência são a regra número um. E se você não conseguir parar de criar origamis nunca mais, fique tranquilo. A gente sabe como isso é legal.
Os origamis são figuras antigas criadas por mestres dessa arte. O que as pessoas fazem é copiar as dobraduras ou inventar novas formas”.

O tsuru não é apenas um pássaro grou feito de papel. Ele é um símbolo japonês muito antigo e representa a paz. Mas ganhou popularidade mesmo a partir de 1955, com a história da garotinha Sadako Sasaki. Ela tinha apenas 12 anos quando ficou doente por causa da bomba atômica que atingiu Hiroshima, sua cidade. No hospital, uma amiga contou a ela que o tsuru tinha um significado dentro da cultura japonesa: quem completasse mil pássaros de papel poderia fazer um pedido que ele seria realizado. Sadako queria ficar boa e sair do hospital. Mas ela só teve forças para fazer 964 e acabou morrendo. Desde então, todo ano, milhares de pessoas enviam tsurus ao Monumento da Paz das Crianças, em Hiroshima. É uma homenagem ao Dia da Paz, à garotinha e, ao mesmo tempo, um pedido para que essa história de bomba e coisas ruins não aconteçam nunca mais.

Quer adotar um origami?
“Todo papel encontra um dia o seu origami”. Tico Volpato repete a frase de uma amiga para explicar essa história de doar dobraduras. Desde criança, ele adorava transformar papel em figuras. “O que mais me encanta é ver surgir pássaros, cães, flores e leões de uma simples folha, sem cortes e uso de cola”, diz.  E não é que o garoto Tico, depois de adulto, virou um pai dos origamis? Sim, ele não pode olhar para um papel perdido por aí (seja panfleto, brochura ou um guardanapo qualquer), que logo pensa: “hummm, isso daria um ótimo porquinho, barco ou qualquer outra coisa”. Assim, Tico foi juntando ao longo de seus 30 e poucos anos de origami uma série de objetos dobrados. Até que resolveu criar um blog (desdobrei.blogspot.com), onde você pode acompanhar o mundo dos origamis e ainda fazer um curso online de cinco módulos. No entanto, a parte mais legal do blog é a seção “Adote um origami”. Toda sexta-feira ele apresenta as dobraduras que fez durante a semana. E quem quiser pode enviar um e-mail (com o endereço) dizendo que quer adotar o bichinho. Tico envia por correio e não cobra nada. A satisfação dele é saber que as dobraduras que levaram horas para ser feitas vão continuar sendo bem cuidadas. Ah, ele não aceita encomendas e também não guarda lugar na fila.