
O artista curitibano Felipe Scandelari tem bastante destaque no circuito artístico local, com suas pinturas figurativas, através da técnica clássica do óleo. Em sua série de quadros, Renascimento, Scandelari cria releituras com base nos grandes mestres. Nascido em Curitiba, em 1981, onde vive e trabalha, formou-se Bacharel em Pintura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná no ano de 2006. Atualmente, é representado pela Sève Art Galeria, com sede em Curitiba (na Alameda Dr. Carlos de Carvalho, 1547).
Seu processo criativo parte de referências renascentistas, que funcionam como ponto de partida para composições contemporâneas. A fotografia integra a etapa inicial: familiares, amigos ou imagens coletadas online assumem o lugar dos personagens históricos que podem ser apreciados na série Renascimento. O uso de múltiplas referências e o “enxerto” de imagens criam diálogos entre culturas e tempos distintos. Muitas vezes, personagens de diferentes obras são combinados, produzindo encontros inéditos e reinterpretando narrativas clássicas em chave contemporânea. Não se trata apenas de releitura, mas de um verdadeiro “renascimento” de imagens que ganham novos sentidos.
“Deuses, entes naturais e cores. O artista brinca com o criador ao efetuar uma desconstrução do imaginário renascentista. Manipula os mitos com muita liberdade, de forma lúdica. Diverte-se com deuses e heróis: nas suas pinturas, eles trocam de sexo (em sua Vênus, a Deusa vira um Deus), ou se travestem em personagens reais no cotidiano do artista: esposa, filhos, amigos e pessoas aleatórias (…). Outras vezes, salta de uma pintura para outra. Mistura personagens, imaginando um diálogo possível entre eles, e cria outra imagem: Nada Mais Importa empresta o anjo de Michelangelo e o diabo de Bartolomé Bermejo, ambientados em uma paisagem de Jan Van Eyck”, afirma a crítica de arte Maria José Justino.
Segundo Justino, as informações que o artista nos dá não resolvem o mistério, na medida em que provocam ambiguidades. As imagens nascem de outras imagens. “Cabe ao espectador buscar, inventar, encontrar sentidos, como nas antigas narrativas. Scandelari deixa a critério do espectador interpretar as imagens tal como as entende. Cada recorte é um fato; somados, criam inquietudes envoltas em um clima enigmático. Deixa florescer o dionisíaco”, complementa a crítica de arte.
Ainda sobre o processo criativo, após reunir suas referências, Scandelari transfere o desenho para a tela com lápis grafite e inicia a pintura, em sua maioria realizada a óleo, por vezes combinada com acrílica, aplicadas em camadas. Em alguns momentos, lixa a superfície para suavizar o relevo, alcançando acabamento refinado. O processo alterna entre pincéis largos e finíssimos, equilibrando gesto expressivo e a precisão nos detalhes. Uma curiosidade é que ele é daltônico e, por isso, enfrenta desafios cromáticos singulares — o rosa-claro percebido como branco, os verdes confundidos com marrons —, especialmente ao representar a pele.