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Unidas — As componentes da Ala das Baianas da Mocidade Azul e Mariana Felizardo, a rainha da bateria (Lívia Berbel)
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Mariana Felizardo tem 21 anos e se tornou rainha da bateria neste ano, no seu décimo carnaval com a Leões (Luísa Mainardes)

O carnaval em Curitiba, apesar de questionado por muitos, resiste, e vai também colecionando histórias. Uma delas, sobre a participação da comunidade, não importando a idade.

A escola Leões da Mocidade nasceu em 2007, como uma dissidência da Mocidade Azul. No ano da estreia, a Leões homenageou a conhecida Boca Maldita, em Curitiba, e foi campeã no desfile. Desde o início, a agremiação tem uma política seguida à risca: dar espaço aos que estão na escola há muito tempo.

Mariana Felizardo tem 21 anos e se tornou rainha da bateria neste ano, no seu décimo carnaval com a Leões. Depois de tanto aprender e cultivar, ela se tornou umas das rainhas mais jovens. “Eu cheguei aqui bem pequenininha, e meu primeiro passo foi dentro da bateria, comecei como ritmista. Meu primeiro instrumento foi o chocalho, depois aprendi outros instrumentos e agora fui convidada a estar à frente da bateria”, conta.

Gina Ferreira, que é uma das coordenadoras da Leões, conta que uma das belezas da escola é valorizar quem está dentro há muito tempo. A formação da escola é bem familiar, com alas do desfile que são formadas por uma família apenas, como é o caso da família de Mariana.

“Quando eu cheguei aqui, éramos só eu e meu pai. Mas ao longo dos anos minha mãe foi se envolvendo, minha família toda… hoje os Felizardos somam uma ala inteira dentro da Leões. Por isso, também, é uma grande responsabilidade representá-los à frente da bateria. Muitos ali me viram crescer. É uma honra, mas uma responsabilidade enorme também”, conta Mariana.

A idade de Mariana chama atenção por ser muito nova e já estar à frente de um desfile. Mas esse aspecto parece não restringir a nada dentro da Leões. Judite Kuczera, de 50 anos, está à frente das famosas baianas e conta que a idade nunca foi um problema. “Elas gostam de participar”, diz.

“Elas são maravilhosas, mais novas que eu”, brinca, “Eu mesma acabei de fazer 50 anos, estou bem novinha. E é uma maravilha. Entrar na escola foi a melhor coisa que eu já fiz na minha vida. Na época eu estava pra baixo, com muitas coisas acontecendo na minha vida, e a Leões me ajudou mesmo. Sou outra pessoa”, conta Judite.

No grupo das baianas, a integrante com mais idade tem 80 anos e exibe um sorriso sincero e alegre se apresentando. As baianas, a bateria, a rainha e todos ali mostram que o carnaval em Curitiba continua resistindo, alegre e aberto para todos que quiserem se apresentar. “É só ter um sorrisão e na avenida a gente arrasa”, diz Judite, rindo.

“Confesso que já ouvi bastante coisa do tipo, que o carnaval não existe aqui, mas é pra isso que a gente existe. Para mostrar que é totalmente o oposto do que as pessoas pensam e falam. Eu existo para isso. Infelizmente é uma cultura, uma arte, que não é tão prestigiada pela população, mas a gente torce e está aí para que isso mude”, afirma a rainha da bateria.

Para este ano, a expectativa dos que estão dentro da Leões é que a escola vença o desfile. Para Mariana, se vencerem, não será uma surpresa. “Eu costumo dizer que não me surpreendo muito com o que a gente apresenta no desfile, porque minhas expectativas são sempre muito grandes. Nossa comunidade é muito forte e muito potente. E carnaval é isso. Tradição e espera. A gente passa por muita coisa e chegar até aqui é bem emocionante”, finaliza a rainha da Leões.

*Lívia Berbel, sob supervisão de Mario Akira