Chay Suede grava filme em morro carioca

Redação Bem Paraná com assessoria

A produtora paranaense Cooperativa Cinema & Mídias Digitais, em parceria com a carioca República Pureza, abriu câmera no início de outubro no Rio de Janeiro para rodar o longa A Frente Fria que a Chuva Traz. Com direção do cineasta Neville D’Almeida, os atores Chay Suede, Bruna Linzmeyer, Michel Melamed e Flávio Bauraqui protagonizam a história de jovens milionários que promovem festas de arromba em lajes de uma comunidade carioca. A locação é no Morro do Vidigal, que tem uma das vistas mais privilegiadas da cidade maravilhosa.

O filme é baseado no texto de Mário Bortolotto – originalmente, uma peça teatral – e mostra o luxo e o lixo, o asfalto e o morro, a miséria e a fartura convivendo lado a lado na laje. O próprio Bortolotto também atua – ele tem um importante papel no longa.

O cronograma de três semanas de filmagem foi cumprido sem atrasos. Na penúltima semana de outubro, foram realizadas as filmagens noturnas. De acordo com Marcello Maia, da República Pureza, o trabalho ocorreu tranquilamente, com a equipe afiada e muito integrada. São sessenta pessoas trabalhando juntas em sessenta metros quadrados, registrou Homero Camargo, da Cooperativa, sobre o engenhoso set montado em uma laje do Vidigal. Nos últimos dias de filmagem, a equipe deixou o morro para registrar cenas na praia de Copacabana.

 

Resumo do enredo

O texto de A Frente Fria que a Chuva Traz de Mario Bortolotto, foi adaptado pelo diretor Neville, apresentando contrastes na paisagem carioca do século XXI. Um grupo abastado, formado pelos personagens Alisson, Fabi, Lili, Cristy, Bia e Espeto, aluga de Gru uma laje na favela no Morro do Vidigal, onde promovem festas com altas doses de álcool, drogas e sexo.

Diferente da maioria dos filmes que abordam a favela, este não tem como foco a população pobre, a violência e o tráfico de drogas. Aqui, as novas aventuras dos jovens ricos são isoladas pelo segurança Vítor, cuja função é impedir a entrada de moradores e de pessoas que não foram convidadas. Marginais no grupo, Amsterdan – mulher que chega a se vender para sustentar o vício –, Gru, o menosprezado dono da laje, e Vítor, o segurança que protege os ricos, fazem a mediação entre o mundo seguro e o mundo externo. Porém, uma anunciada frente fria impede que o grupo dê continuidade à sucessão de festas que vinham ocorrendo. A partir daí, alguns conflitos se instalam e as diferenças, até então amenizadas pelos gostos comuns e apaziguadas pela mediocridade, se evidenciam, provocando discussões e finais desoladores. 

 

Cinema local e parcerias

Homero Camargo tem a firme intenção de mostrar que o cinema paranaense é viável sob todos os aspectos. Tanto é que estamos trabalhando dessa forma, a partir de um escritório em uma fazenda, fazendo parcerias e viabilizando projetos como o da Frente Fria, com a República Pureza, que realiza excelentes projetos em cinema. E temos os projetos regionais, que valorizam a cultura paranaense, diz. Ele, que fundou a Cooperativa há 15 anos, quando retornou ao Paraná, destaca o potencial do estado para o cinema. Aqui temos um celeiro de excelentes atores, escritores e dramaturgos. E os benefícios que a produção de cinema traz, impulsionando a economia criativa e gerando trabalho, renda e cultura em vários setores, é inestimável, destaca.

A Frente Fria que a Chuva Traz representa, além da parceria entre produtores paranaenses e cariocas, o encontro de dois grandes artistas brasileiros. O escritor paranaense Mário Bortolotto, nascido em Londrina e radicado em São Paulo, é dramaturgo com atividade artística premiada, e também ator e músico. Considerado um dos grandes poetas do teatro brasileiro, com texto corrosivo e diálogos perfeitos, Bortolotto soma sua verve ao cinema de Neville d’Almeida – também roteirista, escritor, ator e fotógrafo, um dos mais polêmicos cineastas brasileiros.

Neville realizou o segundo filme mais visto da história do cinema brasileiro, A Dama do Lotação, com Sonia Braga. Grandes adaptador de Nelson Rodrigues para o cinema, o cineasta volta às telas com um tema ousado e atual, demonstrando o fascínio que o universo do morro carioca desencadeia. O filme passa pelos dramas existenciais e pela intimidade emocional de alguns personagens. Neville D’Almeida mantém o tom que sustenta seu cinema há mais de 40 anos: Faço um filme como se fosse o último, não vou ficar guardando para depois. E como todos os meus filmes, esse também não vai ser um analgésico, o público sabe disso,  e é por isso que vai ao cinema. Vai pra levar mais um soco no estômago e sair de lá pensando.