Com Amy Schumer, comédia ‘Sexy por Acidente’ recai na pieguice da autoajuda

Folhapress

FOLHAPRESS – Mistura de comédia e autoajuda, “Sexy por Acidente” vacila nas duas direções. A proposta de fazer crítica bem-humorada sobre padrões estéticos inatingíveis não se sustenta nem no riso nem na suposta injeção de amor-próprio.

De início, é preciso livrar a barra de Amy Schumer, estrela do filme. A comediante americana acrescenta doses significativas de graça a uma personagem que sofre nas mãos de um roteiro acomodado.

Os deslizes, então, caem nas costas dos diretores Abby Kohn e Marc Silverstein, também responsáveis pelo script. A dupla já havia trabalhado em outras produções do gênero, como “Idas e Vindas do Amor” (2012) e “Ela Não Está Tão a fim de Você” (2009).

A história de Renee (Schumer) parece buscar inspiração nas primeiras páginas de “O Diário de Bridget Jones” (2001). Uma mulher em guerra contra a balança que se mata nas aulas de spinning para caber na minissaia. Mas a (anti)heroína de “Sexy por Acidente” tem um quê de melancólica e é bem menos carismática do que a de Zellweger.

Cansada de se sentir invisível em uma sociedade que valoriza a barriga “negativa”, Renee recorre ao sobrenatural. Motivada pelo clássico “Quero Ser Grande”, ela vai a uma fonte e joga a moeda que lhe transformará em beldade.

Por sorte, o longa resiste à solução barata e escolhe um viés que lembra “O Amor É Cego” (2001), mas sem apelar aos efeitos visuais que multiplicaram as medidas de Gwyneth Paltrow.

Ao recobrar a consciência depois de bater a cabeça, Renee passa a se enxergar como uma top model. Embora nada tenha efetivamente mudado em sua aparência, ela se enche de segurança, conquista o emprego que sonhava e dois pretendentes de respeito.

Essa alteração da autoimagem poderia embalar a tal crítica bem-humorada que o filme propõe. Entretanto, da maneira como a narrativa se desenrola, o bolo desanda quase por completo –a força de Schumer e a atuação divertida de Michelle Williams salvam parte da receita.

O empoderamento feminino e a autoconfiança surgem às custas de um argumento tosco: um tombo feio na academia. O banho de autoestima da protagonista vem acompanhado de atitudes ridículas e grosseiras que apenas reforçam os estereótipos e os preconceitos criticados na tela.

As piadas nem sempre fazem rir. E o desfecho piegas -“você é tão bonita quanto pensa que é…”- parece campanha de marca de sabonete.

Apesar das intenções nobres, “Sexy por Acidente” se perde pelo caminho e acaba boicotando suas próprias mensagens e aspirações.

SEXY POR ACIDENTE (I FEEL PRETTY)

PRODUÇÃO EUA, China, 2018

DIREÇÃO Abby Kohn e Marc Silverstein

ELENCO Amy Schumer, Michelle Williams e Rory Scovel

CLASSIFICAÇÃO 12 anos

QUANDO Estreia nesta quinta (28)

AVALIAÇÃO Ruim