Curitiba em ritmo de jazz: agenda cheia de shows e festivais movimenta a cena local

Movimento crescente reúne artistas e público jovem em eventos que resgatam e reinventam a cena musical da cidade

Alana Morzelli
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VERO na estreia de sua turnê "O Jazz da VERO". Foto: Matheus Freitas

A juventude curitibana está pedindo jazz — e está sendo atendida. A cada semana, o som do saxofone, do piano e da bateria ressoa em diversos cantos da cidade, desde o centro histórico até bairros mais distantes. Bares, casas de show e até praças são ocupados por eventos gratuitos ou acessíveis, que privilegiam apresentações ao vivo e repertórios que transitam entre o jazz tradicional, o experimental e o latino-americano.

Quem acompanha a cena musical da cidade já percebe o aumento expressivo de eventos ligados ao gênero. “Nos últimos meses, temos visto várias programações acontecendo simultaneamente, com o surgimento de muitos cantores novos”, comenta Sarah Lantmann, produtora de eventos.

Sarah acompanha o jazz em Curitiba há anos e acredita que esse crescimento não é um fenômeno passageiro. “Esse movimento vem ganhando força há bastante tempo, graças ao empenho de diversas pessoas que trabalham para ampliar o espaço do jazz.” Hoje, o público é mais diverso e abrangente: “Não é mais algo exclusivo ou difícil de acessar. O interesse está chegando para a população em geral, e isso é muito bacana.”

Esse novo olhar do público tem influenciado também o repertório dos artistas locais, como a cantora Verônica Melhem, conhecida como VERO, que lançou recentemente seu projeto cênico-musical “O Jazz da VERO”. Para ela, o jazz representa liberdade artística e qualidade técnica. “O jazz é um estilo virtuoso, que entrega muita qualidade musical”, afirma.

VERO explica que, para ela, o nome “jazz” surgiu antes mesmo do entendimento completo do estilo para sua arte. Ela ressalta que o maior desafio do gênero é coordenar a banda, definir as funções dos músicos e, ao mesmo tempo, permitir o improviso, conhecido como a essência do jazz. “Diferente de outros estilos, eu me permito improvisar no jazz”, conta. Além da música, a dimensão cênica do show cria uma conexão intensa com o público: “Performar jazz é entregar emoção, improvisação e uma experiência ao vivo.”

A cantora destaca que muitos artistas contemporâneos, como o guitarrista Pedro Afaro, têm renovado o jazz com releituras modernas, essenciais para atrair a juventude e expandir a cena local.

Embora o centro de Curitiba concentre a maior parte dos eventos, o jazz começa a ganhar espaço em bairros periféricos e até em cidades próximas. Um exemplo é o festival “Jazz na Ilha”, que acontece durante todo o mês de agosto na Ilha do Mel, uma oportunidade única de apreciar boa música em um cenário natural. Festivais em Paranaguá e Morretes também contribuem para levar o jazz a mais lugares no Paraná.

Outro aspecto relevante é a democratização do gênero. “Ainda existem locais mais elitistas, mas hoje muitos eventos oferecem entrada gratuita para mulheres, pessoas trans e músicos, tornando o jazz mais acessível”, explica Sarah. Essa abertura está quebrando o estigma do jazz como algo clássico e caro, criando espaço para uma diversidade maior de público e artistas.

A história que inspira o presente

Segundo o jornalista e escritor Adherbal Fortes de Sá Júnior, autor do livro Curitiba no Tempo do Jazz Band, o jazz chegou à capital paranaense entre os anos 1950 e 1970, impulsionado pela riqueza trazida pelo ciclo do café. “Curitiba vivia um momento de efervescência econômica e cultural. Havia muito dinheiro circulando por conta do café, o que permitia a criação de espaços como clubes, salões e cinemas onde o jazz era tocado e dançado”, explica. 

Ele ressalta que, além das influências vindas do eixo Rio-São Paulo, o Paraná também recebia discos e músicos vindos da Argentina e dos Estados Unidos, o que ajudou a consolidar uma cena própria na cidade.

“Naquela época, o jazz não era só música, era um estilo de vida, um ponto de encontro para artistas e fãs”, relembra Adherbal.

Hoje, esse legado se reflete no crescimento atual. “Ver o jazz renascer com tanta força, especialmente entre os jovens, mostra que a história está viva e em transformação. Curitiba está redescobrindo um pedaço essencial da sua identidade cultural, agora com um olhar novo e mais aberto.”

Veja os próximos eventos de jazz em Curitiba e região

Circuito Jazz Barleria – Barleria (Curitiba)
Quintas-feiras de agosto: 7, 14, 21 e 28
A partir das 18h
Shows gratuitos com El Merekumbé, François Muleka & Fernando Lobo, Muçurana e Mumbai Express
Bar Barleria
Entrada gratuita

Curitiba Jazz Sessions – Circuito de Primavera
24 de agosto a 14 de setembro

Ópera de Arame
A partir de R$175,00

Curitiba Jazz Festival 2025 – Praça Afonso Botelho
21 e 22 de dezembro de 2025
Entrada gratuita
Praça Afonso Botelho
Apresentações de artistas renomados e programação cultural para toda a família