Com mais de 15 milhões de cópias vendidas dos seus álbuns, e uma trajetória ímpar de sucesso durante os 14 anos em que permaneceu na ativa, a Legião Urbana é, indiscutivelmente, a maior banda de rock da história do país. A sua influência e alcance, tanto para quem vivenciou a sua existência, quanto para as gerações que vieram depois, é algo a ser analisado para compreender não só a cultura musical, mas também a própria história do país. Afinal de contas, muitas letras do grupo foram responsáveis por trazer à tona os anseios e questionamentos de boa parte dos brasileiros, sobre os problemas sócio-políticos do Brasil.
Após a morte do vocalista Renato Russo, em 1996, o grupo se desfez, mas os integrantes remanescentes, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, acabaram cedendo aos pedidos e expectativas do público, e voltaram a se reunir. Após alguns tributos realizados no início da década, Dado e Bonfá se uniram, em 2015, e começaram a excursionar com a turnê ‘Legião Urbana XXX Anos’, contando com o ator e cantor André Frateschi nos vocais, e que revisitava o repertório do primeiro LP, lançado em 1985. Com pouco mais de 100 apresentações, e um público estimado de 500 mil pessoas, não foi de se estranhar a expectativa para que a Legião se reunisse novamente, desta vez, para relembrar os álbuns seguintes. E o desejo dos fãs foi atendido: o grupo se reuniu novamente, neste ano, para tocar as canções dos álbuns ‘Dois’ (1986) e ‘Que País é Este 1978/1987’ (1987), em turnê que chega a Curitiba, nesta sexta (23), para única apresentação na Live Curitiba.
Dado Villa-Lobos concedeu entrevista exclusiva para o Bem Paraná, para contar um pouco do novo espetáculo, e de possíveis novidades envolvendo o grupo, na entrevista que você confere a seguir.
BP — O que levou você e o Marcelo Bonfá a realizarem a nova turnê?
Dado — Devido ao grande êxito da excursão dos 30 anos do primeiro disco, achamos e tivemos a certeza de que deveríamos dar sequencia à essa ideia com o ‘Dois’ e ‘Que País é Este’. Não só para homenagear o público que nos acompanha há tanto tempo, mas também como uma forma de celebrarmos a nossa própria história, que não fica resumida em um único disco.
BP — Praticamente, mais da metade das letras da Legião são atemporais, mas o repertório do ‘Dois’ e do ‘Que País é Este’ dialogam bem com a atual realidade do país. Ao que você atribui essa atualidade das composições?
Dado — À magia e intuição, à percepção e tradução da condição humana, e à vontade de se fazer discos que ficassem pra sempre no catálogo da companhia de discos, e na memória do público. Acredito que a sintonia e química que conseguimos passar com as canções também foram fatores especiais nesse caminho.
BP— Na sua concepção, quais são as músicas de maior destaque dos dois álbuns?
Dado — Eu tenho como preferidas e mais relevantes ‘Tempo Perdido’, ‘Andreadoria’, ‘Eduardo e Monica’ e ‘Índios’ e vindo do ‘Que País é Este’, a própria canção-título, que nos assombra há mais de 30 anos. ‘Angra dos Reis’ também é uma grande canção.
BP — Qual a grande diferença entre o “fazer show” com a Legião agora, e o “fazer show” com a Legião, de 30 anos atrás (fora a ausência do Renato Russo)?
Dado — Hoje temos a noção do que essas canções representam para nós e para o público, e a diferença está nessa compreensão, junto a maior serenidade e controle do que se passa no palco.
BP — Existe a possibilidade de novas turnês, revisitando os álbuns posteriores da Legião?
Dado — É possível que façamos o ‘Quatro Estações’. Vai depender, novamente, da resposta do público (risos).
BP — Agora, uma curiosidade que não quer calar. Existe algum projeto inédito envolvendo vocês e a Legião, ou ainda não é o momento de se pensar em ineditismo?
Dado — Não, nada em vista. Tinhamos o plano de lançar os outtakes do ‘Dois’, onde lá havia uma grande versão de ‘Juizo Final’ de Nelson Cavaquinho. Também existe uma versão em inglês de ‘Fábrica’, entre outros takes incríveis. Tudo isso vetado pelo herdeiro do Renato. Não tenho mais paciência para lidar com isso. (Giuliano Manfredini, filho de Renato, é o detentor, por herança, de toda a obra de Renato, incluindo os materiais relacionados à marca Legião Urbana)
BP — Quais as diferenças nas gravações do ‘Dois’ e do ‘Que País é Este’, e que você consegue lembrar de imediato?
Dado — O ‘Dois’ foi pensado com muito empenho e estratégia em termos de sonoridade, com mais violões e certo lirismo, sem abrir mão da genética do pós-punk. Já o ‘Que País é Este’ foi rápido e eficaz, como uma espécie de presente para os fãs. Renato queria gravar o que restava do repertório da sua banda anterior, o ‘Aborto Elétrico’, e temos ali só duas “inéditas”, ‘Angra dos Reis’ e ‘Mais do Mesmo’.
BP — A turnê para homenagear o primeiro álbum fez muito sucesso. O que o público pode esperar desse novo espetáculo do grupo?
Dado — Mais sucessos! Está incrível juntar de novo essa grande banda e circular pelo nosso grande país. Prometemos a mesma energia aplicada na turnê anterior.
Serviço
Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá tocam Dois + Que País é Este da Legião Urbana
Quando: hoje, às 23h59
Onde: Live Curitiba (Rua Itajubá, 143, Novo Mundo)
Classificação: 16 anos
Quanto: R$ 60 a R$ 130. Ingressos à venda pelo Disk Ingressos