Como se dá, atualmente, a prática do desenho no campo da arte? Que formas o desenho assume em cada processo? Qual a relação com a idéia de projeto, ou seja, de que forma o pensamento desenhado se transpõe para outro meio?  Com essas e outras questões em mente e ainda com o intuito de, ainda que precariamente, inventariar as formas que o desenho vem assumindo na contemporaneidade bem como conhecer as especificidades desta expressão na prática artística dos artistas citados,  invadimos a intimidade dos seus processos,  fuçamos seus ateliers, folheamos seus caderninhos, perguntamos insistentemente sobre suas intenções e procedimentos e registramos com fotografia e gravação sonora as visitas. Neste processo se deu a escolha das obras que integram a exposição Cadernos de desenho, que será aberta hoje no Museu de Arte da UFPR (MusA), em Curitiba, com abertura e conversa sobre a exposição hoje , às 16horas.
 A exposição integra o projeto homônimo, contemplado pelo Edital Elisabete Anderle do Governo do Estado de Sana Catarina, que compreende uma exposição itinerante e um livro (a ser publicado em breve), ambos resultados das atividades da pesquisa sobre as obras e processos dos seguintes artistas: Carlos Asp, Fernando Lindote, Julia Amaral, José Antônio Lacerda, Raquel Stolf e Yiftah Peled. Além de Curitiba, a exposição já foi realizada em Florianópolis, no Memorial Meyer Filho e na Galeria de Arte da Fundação Cultural de Criciúma. Na Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew, em Joinville, a exposição acontecerá no mês de agosto.  A concepção do projeto é de Aline Dias. Produção e pesquisa foram realizadas por Aline Dias, Ana Lucia Vilela e Julia Amaral e incluiu a visita aos ateliês dos artistas convidados, provenientes de diferentes gerações, com linguagens e produções artísticas singulares, bem como abordagens e usos distintos do desenho em seus processos.
A exposição não tem como ponto de partida nenhuma idéia predefinida de desenho, nem pretende agrupar os desenhos dos artistas em uma temática, mas procura explorar e inventariar as especificidades e desdobramentos que o desenho apresenta no processo de cada artista. É justamente a conexão entre o conceito central do projeto (expansões e desdobramentos do desenho contemporâneo) e o diálogo singular com cada artista e sua visão própria do desenho no trabalho, que norteia a curadoria.
O caderno de desenho, seja ele uma pasta, um caderno mesmo, um conjunto de folhas presas numa prancheta, arquivos de computador ou folhas dispersas em um saco plástico, ganha relevo neste projeto porque comporta uma dimensão de arquivamento e revisitação. O caderno implica também em rasuras, apagamentos e reinscrições, centrais na prática artística atual. Exibidos ou não como trabalho, estes desenhos não perdem o vínculo com o processo, reorganizando o funcionamento do trabalho, suspendendo modelos de relacionamento e apreensão do mundo e da linguagem.
Raquel Stolf participa da exposição com o trabalho migalhas de corpo mole. Através da repetição obsessiva de pequenas circunferências, o trabalho propõe uma reflexão sobre as relações entre escrita e desenho e a problematização da noção de uma legenda explicativa. A versão apresentada consiste em uma série de desenhos de pequeno formato (cerca de 20x15cm), sobre papel pautado.
    José Antônio Lacerda apresentará na exposição o trabalho Fábrica de Nuvem  Verde. Trata-se de um projeto de intervenção urbana, que consiste em reativar chaminés desativadas no tecido urbano, emitindo fumaça verde.  O projeto inclui o registro fotográfico da ação e a justaposição destas imagens com o desenho do projeto, retirado de um de seus inúmeros cadernos de desenho. Destacando os lapsos e fissuras entre a dimensão projetiva do desenho e o registro fotográfico de uma experiência, a cada nova montagem da exposição, a experiência será realizada na própria cidade, de forma que o registro fotográfico vá agregando, crescentemente, imagens das ações realizadas em todas as cidades onde o projeto realiza itinerância.
    Yiftah Peled apresenta uma instalação inédita na exposição, incluindo interferências na arquitetura, através de pequenas perfurações no painel expositivo e  um objeto que apresenta um desenho – apropriação de um esquema gráfico da anatomia da pele.
    O artista Fernando Lindote apresenta um conjunto de três trabalhos, explorando os contrapontos e disparidades entre os diversos desenhos na produção do artista e de seus campos de referências (os quadrinhos, o desenho de observação, os projetos de instalações, a repetição e a procura das formas exploradas em outras linguagens, etc).
    Julia Amaral apresenta uma instalação composta por um desenho de grandes dimensões, de uma menina-elefante esmigalhada por um menir, realizado diretamente sobre o painel expositivo, criando um diálogo com as situações específicas da arquitetura dos espaços expositivos.  Realizado originalmente em um de seus cadernos, o desenho joga com a mudança de escala requerida para o trânsito ao espaço expositivo. A artista também realizará uma intervenção urbana, através da disseminação de pequenos desenhos (desenvolvidos em vinil adesivo) de encontros de diferentes animais, subvertendo a relação habitual de embate e/ou enfrentamento entre eles.
    Finalmente, Carlos Asp  integra a exposição com uma série de trabalhos, que incluem experiências gráficas realizadas a partir da relação entre imagem e palavra, a repetição, a apropriação de embalagens, bulas e outros suportes provenientes da experiência cotidiana, explorando o caráter precário dos desenhos, dos suportes e de suas próprias ações.

SERVIÇO
O quê: Exposição Cadernos de desenhos
Quando: abertura no dia 1 de julho, quinta-feira, às 16h00. Visitação de 1 a 31 de julho de 2010, de segunda a sexta, das 9h às 18h e sábado das 9h00 às 13h00.
Onde: Museu de Arte da UFPR – MusA.
Endereço: Rua 15 de novembro, 695, 1º. Andar. Centro – Curitiba.
E-mail: [email protected]