Na sala de reuniões refrigerada com ar condicionado na potência máxima, o paulista Amaury Jr. monitora os quase 60 funcionários de sua produtora e programa as badalações da semana. A rotina é dividida em quatro turnos, explica ele. Os 30 anos na estrada do glamour o fazem refletir se não é hora de desacelerar. Mas a aposentadoria não está nos planos do showman de 58 anos. Mesmo porque ele já aprendeu a lidar com o estresse. Ao som de Keep It Comin’ Love, hit que o acompanha desde o começo, cria pautas, esvazia a mente e brinca com seu companheiro, Otto, um cachorro da raça golden. Em conversa com a reportagem, Amaury Jr. fala de suas manias, do único vício – o cigarro – e conta histórias de infância, como a de ser obrigado pelo pai a ler, ao menos, dois livros por mês.

Agência Estado — Com 30 anos na estrada, não pensa em trabalhar menos?
Amaury Jr. — A questão é que, se eu participo da pauta, a execução é mais fácil. Eu tenho uma boa equipe, mas não sou idiota, participo de tudo. Cobrimos uns três acontecimentos por noite. E a gente recusa mais da metade dos convites.

Agência Estado — Parte dos eventos que divulga é patrocinada por empresas particulares. Não dá vergonha?
Amaury Jr. — — Não, eu tenho orgulho! Existe um grande equívoco no Brasil nessa história de patrocínios. Todo mundo é patrocinado por alguém. Eu assumo, então sou o crucificado? O Conrad é meu patrocinador há 14 anos. Quer ver como é bom? Por contrato, todas as atrações internacionais que passam por lá precisam me dar entrevista. Shakira, Enrique Iglesias, Luis Miguel, Liza Minnelli. Nossa, já entrevistei mais de 200 artistas.

Agência Estado — Você entrou nesse mundo aos 14 anos, em Catanduva, certo?
Amaury Jr. —  Eu nasci em Catanduva (SP), mas fui logo para São José do Rio Preto (SP). Meu pai foi filólogo, dedicado à língua portuguesa. Ele tinha como lema que desrespeitar a língua era desrespeitar Deus. Ele me obrigava, assim como a meu irmão, a ler, no mínimo, dois livros por mês. E ele escolhia os títulos. Tudo de Monteiro Lobato! Consequentemente, fiquei bom de redação. Claro que não era tarefa agradável para um adolescente que queria namorar, passear, farrear… Mal sabia eu o bem que ele estava me fazendo, tanto que fui convidado a assinar uma coluna no jornal do colégio. Mais tarde, em São Paulo, trabalhei na TV Tupi e no Diário Popular na época do Gallery (famosa casa noturna dos anos 80), um campo de recolhimento de notícias. Saía de lá com cinco colunas, mas não era moleza. Tinha de ralar.

Agência Estado — E qual a dificuldade hoje?
Amaury Jr. — A dificuldade é que São Paulo se pulverizou em 300 diferentes tribos. A palavra ‘celebridade’ hoje ficou banalizada. Celebridade é Ivo Pitanguy, Hebe… Com o fast famous, hoje em dia, qualquer um é celebridade. Nem uso muito a palavra no meu programa. Uso ‘famoso’, ‘celebutante’, algo assim.

Agência Estado — Estar na TV não é se render ao fast famous?
Amaury Jr. — É claro que tenho de conviver com isso. Às vezes, falo coisas difíceis na televisão e me chamam a atenção na RedeTV!. É uma coisa que eu herdei. Na minha casa, só se falava a língua portuguesa culta, meu pai discutia a origem das palavras. Quando comecei na TV, eu tinha um quadro negro em que meu pai escrevia todos os erros que eu cometia e me ligava: Você tá louco? Quer me envergonhar?.

(O apresentador acende um cigarro).
Agência Estado — Há dois meses, você me disse, em outra entrevista, que iria parar de fumar…
Amaury Jr. — Ele venceu. Eu tive pneumonia, mas o médico disse que era viral, que eu estava ótimo. Pra quê? Mas eu vou parar. Pode escrever: daqui a 30 dias, eu não vou fumar. Já parei umas 60 vezes de fumar, a vida é estressante.

Agência Estado — O cigarro relaxa?
Amaury Jr. — Meu amor, fui educado no escurinho do cinema, onde todos me ensinaram que era glamouroso fumar. Você acha que foi fácil fumar? Eu não gostava, só aprendi para poder me enturmar. Já assistiu a Casablanca? Contabilizou quantas vezes eles acendem o cigarro? Então, virei dependente químico, parei cinco anos, voltei. É uma luta constante. O cigarro é a minha transgressão! Eu não fumo maconha, nunca fumei. Nunca tomei droga. Mas sou capaz de identificar a quilômetros de distância quem está drogado ou alterado. É a minha transgressão e cada um tem a sua. Qual é a sua?

Agência Estado — Mas por falar em drogas, você, que é um entendedor de festas, acha que as pessoas se comportavam melhor antes?
Amaury Jr. — A partir da década de 80, quando eu já estava na ativa, as pessoas se drogavam ali no Gallery, mas mais levemente. Mas não me importa. Cada um se mata como quer. Eu estou me matando com o meu cigarro aqui. Só não entrevisto pessoas sob esse efeito.

Agência Estado — Você se considera celebridade?
Amaury Jr. — Estando por 30 anos no ar, todo mundo me conhece. Mas eu não me considero. Para mim, estou começando a minha carreira. Às vezes, a minha produção não consegue algo, aí eu me meto. E falam: ‘Ah, você não pode fazer isso’. Como não posso? Aí me falam: ‘Pô, você precisa ser mais estrela. Você é um cara fácil demais’.

Agência Estado — Então, leva uma vida normal?
Amaury Jr. — Não estou nem aí, sabe? Tem gente que se incomoda de ir ao mercado e ter assédio, mas pior se não tiver… Acabei de voltar de Camboriú (SC) e, sem exagero, fiz de 400 a 500 fotos em uma festa. Enche um pouco. Abri um sorriso no automático e fui.

Agência Estado — Nessa rotina de badalação, você raramente aparece com sua mulher e seus dois filhos…
Amaury Jr. — Eles não gostam. Meu filho é arquiteto, nem quer saber. Minha filha está envolvida com moda. Minha mulher odeia, me acompanha porque eu peço. Mas eles entendem. Fiquei um mês de férias. Nas duas últimas semanas, eu já estava enlouquecido.

Agência Estado — Você tem uma produtora, lançou livros, perfume. Está rico?
Amaury Jr. — Eu costumo usar uma frase legal: Tudo que eu sempre quis ter, o dinheiro me deu. Então, sou rico. Carro, por exemplo, já tive de todos os tipos que me deu vontade. O meu sonho era Jaguar, comprei. Meu sonho era ter Mercedes, comprei. Hoje, desencanei e ando com o carro da RedeTV!, com o símbolo do canal. Acho maravilhoso!

Agência Estado — Por que isso?
Amaury Jr. — Desencanei. Hoje, tenho as coisas triviais. Virei um p… leitor – eu abominava leitura e tinha ódio do meu pai. Hoje, se não leio antes de dormir, sou capaz de ficar louco. Já li Bíblia, bula de remédio…

Agência Estado — Segue alguma religião?
Amaury Jr. — Sou católico por tradição familiar, meu pai foi seminarista… Ele largou a batina para casar com a minha mãe (risos). Eu converso, sozinho, com Deus. Mas respeito todas as religiões.

Agência Estado — Você recebeu muitos convites para a política, imagino…
Amaury Jr. — Dezenas! O último foi do Campos Machado (presidente do PTB-SP), no ano passado, para ser deputado estadual. Se eu fosse político, teria tanta coisa para fazer, tem um monte de coisa que eu vejo que está errada… Mas não tenho vocação. Gosto do que faço.

Agência Estado — O público se acostumou a vê-lo feliz. É assim fora da TV?
Amaury Jr. — Eu costumo não cultivar a tristeza. Sou um cara alegre, sempre bem-humorado. Quando tive pneumonia, por exemplo, fiquei triste, horrorizado. Foi a primeira vez que pisei num hospital como paciente. Uso uma frase de lema: O câncer é a tristeza das células. Então, não fique triste nunca!