O carioca Marcelo Camelo, 33 anos, anda flutuando pela vida. Os pés um pouco descolados do chão o conduziram a um segundo disco solo mais leve em relação ao seu primeiro, o “Sou”, de 2008. O novo “Toque Dela” (Zé Pereira/Universal) traduz bem a visão que Camelo tem da composição: a de carregar a vivência da pessoa que a fez. E nessa vivência dele transferida para suas letras, a namorada Mallu Magalhães, cantora de 19 anos, tem grande importância. Não só pela relação amorosa em si, mas também por tudo o que ela trouxe ao cotidiano dele nos últimos dois anos. Como a mudança de endereço do Rio de Janeiro para São Paulo. “Foi para ficar perto da Mallu mesmo”, admitiu. Filho de uma pintora e um analista de sistemas, o músico, que fez história com a banda Los Hermanos, concedeu uma franca entrevista franca à reportagem.
Agência Estado — Muitas pessoas têm achado ‘Toque Dela’ mais leve do que seu disco anterior. Você concorda?
Marcelo Camelo — Não sei. Cada pessoa tem um referencial. Tenho amigos muito diferentes. Para alguns deles, meu disco é pop demais. Para outros, é pop de menos. Ou é muito rock. Ou é meio bunda mole, coxinha.
Agência Estado — Está mais detalhista neste CD?
Marcelo Camelo — Sou muito detalhista. Nesse disco, eu compus o repertório e juntei o grupo que tocou comigo na turnê passada, o Hurtmold. Ensaiamos por dois meses. Gravamos umas músicas e, depois, dei uma pausa para a consideração do repertório, para saber o que estava legal, o que ainda faltava para o disco estar completo no meu coração.
Agência Estado — E nesses retornos ao repertório, o que você pensava para ele?
Marcelo Camelo — Minhas escolhas são sempre inconscientes. Faço músicas para responder a perguntas existenciais, que são consequentes da minha vida pessoal. Fiz o disco sob essa outra ótica, morando numa outra cidade, com uma outra companheira. É um disco sobre essas pessoas, essas coisas que eu estava vivendo quando eu o fiz.
Agência Estado — E o título ‘Toque Dela’ se refere a esse seu momento com Mallu?
Marcelo Camelo — Deixo meu inconsciente se relacionar com as palavras, sem tentar eu mesmo traduzir aquilo que estava querendo dizer. E depois eu olho para essa música e tento entender o que estava acontecendo comigo, com meu coração, quando a fiz. Meu objetivo é que as pessoas também encaixem os arquétipos particulares delas a essa realidade, e não olhem para mim e tentem traçar alguma ligação entre mim e o que eu disse. O ‘Toque Dela’ não é o toque da Mallu em mim ou na minha música.
Agência Estado — O ‘Sou’ tinha a participação da Mallu, ainda como a artista que você tinha descoberto na internet. Neste segundo CD, você não teve vontade de tê-la de novo?
Marcelo Camelo — A gente nunca faz as coisas muito premeditadamente. A Mallu, assim como eu, é geniosa nas suas escolhas. É difícil convencê-la de que não é aquele acorde, de que não é essa palavra. O tipo de parceria que a gente empreende é dessas em que a própria existência da pessoa modifica o seu olhar sobre o mundo. Eu me mudei para São Paulo para ficar perto da Mallu.
Agência Estado — Vocês ficaram chateados com os comentários feitos quando começaram a namorar? Porque, na época, ela tinha 17 anos e namorava um cara mais velho…
Marcelo Camelo — Eu fiquei muito surpreso com o reacionarismo de parte da imprensa, como alguns veículos que vestem uma roupagem moderna. Na nossa vida cotidiana, isso chateou muito as nossas famílias. Aconteceram alguns fatos desagradáveis, de passar um carro e o cara gritar alguma bobagem. Mas a relação da gente é muito bonita. Então, a contrapartida disso é infinitamente superior a qualquer problema que isso possa trazer.
Agência Estado — Los Hermanos tem feito coisas bem esporádicas. O que vocês estão pensando para a banda?
Marcelo Camelo — Não pensamos. Está em off essa parte da vida. Cada um tocando seus projetos. Assim que se dá nossa relação com a banda atualmente.
Agência Estado — E se rolar convite para um festival? Vocês topam?
Marcelo Camelo — Não, acho muito difícil. Com esse novo trabalho, vou me dedicar só a ele. Como eu estava no intervalo, podia tocar com a banda.
Agência Estado — George Harrison gravou uma versão de ‘Anna Julia’, sucesso da banda. Chegaram a conhecê-lo?
Marcelo Camelo — Não. Jim Capaldi (músico) veio ao Brasil, conheceu a música, me encontrou, gravou e, depois, me ligou dizendo que tinha gravado.
Agência Estado — E como foi para vocês terem uma canção gravada por um ex-beatle?
Marcelo Camelo — Foi emocionante.
Agência Estado — Acha que os fãs dos Hermanos ouvem também o Marcelo solo?
Marcelo Camelo — Não sei mesmo. Acho que uma parte das pessoas continua a gostar de mim. Outra parte, não. É difícil prever esse tipo de coisa.
Agência Estado — Você curte o som da banda Little Joy, do Rodrigo Amarante (guitarrista do Los Hermanos)?
Marcelo Camelo — Sim. Sou “mó fãzão”. Fui ao show no Circo Voador, comprei disco.
Agência Estado — Qual sua lembrança de infância ligada à musica?
Marcelo Camelo — Lembro de um fascínio muito remoto por música. A família da minha mãe tem alguns músicos. Tive aula de teclado, ganhei um violão. A coisa foi progredindo.
Agência Estado — O que ouvia em casa?
Marcelo Camelo — Morava em Jacarepaguá, zona oeste do Rio, e tocava muito samba nos vizinhos, muita música brasileira. Quando eu tinha uns 12 anos, quem acontecia era Bon Jovi, Poison. Aí, mais adolescente, Pearl Jam, Nirvana. E com 17 para 18 anos, voltei à música brasileira.
Agência Estado — E o lado da família de seu pai é só dedicada a ciências exatas?
Marcelo Camelo — A família do meu pai é portuguesa, então, tem esse lado de ciências exatas. Era família pobre, de imigrantes, muito trabalhadora. Os portugueses são também afetivos. É uma mistura com a qual me identifico. Já do lado do minha mãe, tem italiano, índio e português. A família Souza, que é meu nome do meio, é a mesma de John Philip Souza (compositor da marcha oficial dos EUA). Vem lá do Tomé de Souza, primeiro governador-geral do Brasil.
Agência Estado — Você fez jornalismo, certo?
Marcelo Camelo — Sim, mas larguei no finalzinho, um pouco por causa da agenda da banda. Resolvi trancar, mas não consegui retomar. O disco começou a dar certo. Emendei turnê. Depois, outro disco. Aí já era.
Agência Estado — Você fez a trilha da série ‘Afinal, O Que Querem as Mulheres?’, da Globo? Como foi a experiência?
Marcelo Camelo — Para mim, a experiência de fazer trilha é absolutamente frustrante, porque, frequentemente, as músicas que você faz não são usadas. Minha impressão disso é que o cara fala: “Faz aí um negócio. Essa aí não, faz outra rapidinho”. É como trocar o figurino do ator. É um pouco parecido com o trabalho de compor para outro intérprete. Essa coisa de uma criação artística em função do gosto do próximo é uma combinação que eu, honestamente, não quero mais participar.
Agência Estado — Mas você colaborou nos dois discos da cantora Maria Rita…
Marcelo Camelo — Quando tem uma figura com a qualidade de voz dela, que gosta de suas músicas e resolve bancar a ideia de gravá-las, é fenomenal.
Agência Estado — Já se viu tendo livre acesso a drogas?
Marcelo Camelo — Sou a favor do uso de drogas para a expansão da consciência. A metade da população não só não gosta de drogas, como não quer que a outra metade que gosta faça uso livre delas. Acho isso uma opressão. E causa um problema social gigante.
Agência Estado — E você as usa?
Marcelo Camelo — Acaba que eu fico que servindo meio de exemplo para a vida dos outros e eu não quero me prestar a esse papel. Eu, como cidadão, sou totalmente a favor da liberação. Acho muito atrasado esse olhar das pessoas sobre as drogas.
Agência Estado — E o lado da família de seu pai é só dedicada a ciências exatas?
Marcelo Camelo — A família do meu pai é portuguesa, então, tem esse lado de ciências exatas. Era família pobre, de imigrantes, muito trabalhadora. Os portugueses são também afetivos. É uma mistura com a qual me identifico. Já do lado do minha mãe, tem italiano, índio e português. A família Souza, que é meu nome do meio, é a mesma de John Philip Souza (compositor da marcha oficial dos EUA). Vem lá do Tomé de Souza, primeiro governador-geral do Brasil.
Agência Estado — Você fez jornalismo, certo?
Marcelo Camelo — Sim, mas larguei no finalzinho, um pouco por causa da agenda da banda. Resolvi trancar, mas não consegui retomar. O disco começou a dar certo. Emendei turnê. Depois, outro disco. Aí já era.
Agência Estado — Você fez a trilha da série ‘Afinal, O Que Querem as Mulheres?’, da Globo? Como foi a experiência?
Marcelo Camelo — Para mim, a experiência de fazer trilha é absolutamente frustrante, porque, frequentemente, as músicas que você faz não são usadas. Minha impressão disso é que o cara fala: “Faz aí um negócio. Essa aí não, faz outra rapidinho”. É como trocar o figurino do ator. É um pouco parecido com o trabalho de compor para outro intérprete. Essa coisa de uma criação artística em função do gosto do próximo é uma combinação que eu, honestamente, não quero mais participar.
Agência Estado — Mas você colaborou nos dois discos da cantora Maria Rita…
Marcelo Camelo — Quando tem uma figura com a qualidade de voz dela, que gosta de suas músicas e resolve bancar a ideia de gravá-las, é fenomenal.
Agência Estado — Já se viu tendo livre acesso a drogas?
Marcelo Camelo — Sou a favor do uso de drogas para a expansão da consciência. A metade da população não só não gosta de drogas, como não quer que a outra metade que gosta faça uso livre delas. Acho isso uma opressão. E causa um problema social gigante.
Agência Estado — E você as usa?
Marcelo Camelo — Acaba que eu fico que servindo meio de exemplo para a vida dos outros e eu não quero me prestar a esse papel. Eu, como cidadão, sou totalmente a favor da liberação. Acho muito atrasado esse olhar das pessoas sobre as drogas.