
Aos 83 anos, o cantor e compositor Gilberto Gil resolveu sair pelo Brasil em turnê de despedida dos mais de 60 anos de carreira, chamada Tempo Rei, em estádios. Ao mesmo tempo que o artista fala tranquilamente sobre finitude da vida, ele celebra a novidade de se apresentar em estádios com toda a tecnologia a serviço da arte. O show histórico chega a Curitiba no próximo sábado (5) na Arena da Baixada para a alegria dos fãs.
Em entrevista ao Bem Paraná, Gil falou de sua relação com Curitiba, onde fez o primeiro show profissional no início da década de 60 e onde cultivou amizades longínquas com personalidades importantes, como o urbanista Jaime Lerner (1937-2021), o poeta Paulo Leminski (1944-1989), a poetisa Alice Ruiz e o ex-prefeito Rafael Greca. Foi Gil, ao lado de Paralamas do Sucesso e a banda de reggae The Wailers, que fizeram o show de abertura da Pedreira Leminski para apresentações musicais em 1990. “Eu aprecio muito Curitiba, gosto muito do acolhimento, da diversidade humana com descendentes europeus, descendentes indígenas locais, enfim, toda essa coisa, esse jeito do Paraná, com nome indígena, todas essas coisas me comoveram sempre”, contou Gil.
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Ele também falou sobre o difícil trabalho de escolher o repertório de um show tão importante e emblemático como “Tempo Rei”, que une muitos estilos musicais e sucessos de mais de 60 anos de carreira.
Os ingressos, a partir de R$115, ainda estão à venda pela Eventim e se você não comprou; garanta seu lugar num dos shows mais bonitos da história da música brasileira. São duas horas e meia de espetáculo onde Gil percorre toda a sua carreira que vem transcorrendo e transformando nossas vidas há mais de 60 anos.
Leia a entrevista de Gilberto Gil ao Bem Paraná:
Bem Paraná – “Tempo Rei” é anunciada como sua última turnê. Como foi escolher o repertório deste show tão especial diante de tantas músicas?
Gilberto Gil – Muitas foram escolhidas em função do público, que caíram no gosto popular. Também faço escolhas por aquelas que têm um valor afetivo para mim, para minha vida pessoal, meus amores, meus desafetos. Um terceiro critério é o gênero musical, gosto de abranger vários deles. Tem samba baiano, samba carioca, porque o samba tem uma importância de linguagem no Brasil, como a linguagem do Nordeste, por isso forró, herança do grande Luiz Gonzaga. Sem falar no rock, importante desde a Jovem Guarda com Roberto Carlos. Além do reggae também. Temos ali duas ou três canções de cada gênero no repertório.
BP – Do alto dos seus 83 anos, você fala até com certa naturalidade da morte, da finitude e essa turnê de despedida, de certa forma fala sobre isso. Qual a sua real visão sobre isso?
Gil – A finitude é um mistério, mas um mistério obrigatório, porque todos nós sabemos que vamos morre, não sabemos nem como, nem quando. Mas vamos morrer e temos que aceitar de qualquer forma. Alguns aceitam de maneira mais tranquila, para outros é de uma forma mais angustiante, mas é a morte. A minha tranquilidade tem a ver com o fato de que quando alguém se aproxima de certa idade limite, como eu, sabe que está chegando ao fim. Tudo que passa nesta época passa a ter relação com a finitude, então essa que turnê “Tempo Rei” de despedida contém necessariamente esse pensamento de tudo chega ao fim, a nossa vida, tudo que a gente faz, tudo o que a gente quer, tudo que a gente gosta, tudo que a gente transformou em elemento de constituinte, do nosso, do nosso viver, do nosso trabalho, do nosso fazer. Então, neste sentido, essa turnê também tem a ver com esse percepção de finitude.
BP – E como está a recepção do pública na turnê “Tempo Rei”? E como é ver tanta gente jovem admirando o seu trabalho, a sua música?
Gil – Quase todos os artistas da minha geração, acontece esse processo de acumulação. As camadas mais jovens das novas gerações que aderiram ao gosto musical do pai e da mãe que os educaram. Essa transferência de gosto que sempre existiu. É um processo que vem desde o início da carreira. Mas é gratificante ver essas novas adesões, essas novas camadas. É muito interessante você saber que depois de todo esse nosso caminho andado, tem tanta gente com curiosidade de vir para janela e ver a gente passar.
BP- E a expectativa para o show em Curitiba?
Gil – Eu sempre gostei de cantar em Curitiba. Eu me lembro até hoje que meu primeiro trabalho como profissional cantando ao vivo foi em Curitiba nos anos 60, quando a cidade era pequena com pouco mais de 200 mil habitantes. Sempre que eu lançava um disco, um novo trabalho, vinha a Curitiba. Cantei muitas vezes no Teatro Paiol, no Teatro Guaíra.
BP – Você cantou na inauguração da Pedreira Paulo Leminski, em 1990, ao lado de Paralamas do Sucesso e The Wailers?
Gil – Sim, inaugurei a Pedreira, quando ela se tornou um espaço para apresentações musicais. Eu aprecio muito Curitiba, gosto muito do acolhimento, da diversidade humana com descendentes europeus, descendentes indígenas locais, enfim, toda essa coisa, esse jeito do Paraná, com nome indígena, todas essas coisas me comoveram sempre. Não só gosto de Curitiba, mas Maringá, Ponta Grossa.
BP – Você foi amigo do urbanista e ex-governador Jaime Lerner?
Gil- Fui muito amigo de Jaime Lerner. Acompanhei crescimento dele como realizador, urbanista, arquiteto gestor público, tudo isso sempre tive muito gosto pela coisa. Conheço bem o Rafael Greca e tantas outras pessoas. Teve Paulo Leminski, que era um grande amigo também. Alice Ruiz. Para a filha deles, Estrela, eu dei o nome de uma música minha. Enfim, gosto muito dessa terra.
BP – Será seu primeiro show em um estádio aqui em Curitiba. Como está a expectativa?
Gil – Essa é realmente uma nova dimensão para mim, cantar para grandes públicos, embora já tenha feito isso esporadicamente. Mas assim, uma turnê inteira em grandes estádios é novidade. E tudo mais é uma novidade para mim porque tem uma diferença muito grande dos pequenos locais, como teatros. Esses lugares trazem outras exigências de cenário, de sonorização, projeções, da banda. Tem a coisa da tecnologia que permite muitas coisas para a música popular. Tudo isso é um estímulo. Mas estou me adaptando rapidamente, até porque a recepção do público tem sido ótima.
BP – Você falou da tecnologia à disposição da música. Como é que é a tua relação com redes sociais?
Gil – É muito modesta. Uso pouca coisa, alguns aplicativos de comunicação. Sempre tive muita dificuldade com coisas elétricas e eletrônicas, desde amplificadores das guitarras (risos). Tudo foi um problema para mim. A internet também é um problema.
Cinco curiosidades de Tempo Rei, show de Gilberto Gil
- A superbanda de Gil é formada por 14 pessoas. A direção musical é familiar, dividida pelos filhos do cantor, os músicos sensacionais Bem Gil (guitarra) e José Gil (bateria).
- Gil fica presente no palco durante duas horas e meia e reveza o violão e a guitarra entre as músicas.
- Gil conta em cena que fez uma trilogia “RE”. Refazenda, Refavela e Realce. Ele canta todas no show e durante “Realce” um enorme globo espelhado lembra as antigas pistas de dança.
- No final, durante a música “Toda Menina Baiana”, cai uma enorme chuva de papel picado e sobre o público. Parece final de campeonato de futebol.
- Em cada cidade Gil convida um artista para fazer uma participação especial. Já passaram pelo palco da turnê nomes como Marisa Monte, Chico Buarque, Anita, Liniker… em Brasília foi Alexandre Carlo cantor da Natiruts. Quem será o convidado de Curitiba?



Repertório do show – que pode sofrer mudanças:
1. Palco (Gilberto Gil, 1980)
2. Banda um (Gilberto Gil, 1982)
3. Tempo rei (Gilberto Gil, 1984)
4. Aqui e agora (Gilberto Gil, 1977) – citação vocal
5. Eu só quero um xodó (Dominguinhos e Anastácia, 1973)
6. Eu vim da Bahia (Gilberto Gil, 1965)
7. Meu divino São José (tema de domínio público) – citação vocal
8. Procissão (Gilberto Gil e Edy Star, 1965)
9. Domingo no parque (Gilberto Gil, 1967)
10. Cálice (Gilberto Gil e Chico Buarque, 1973)
11. Bat macumba (Caetano Veloso e Gilberto Gil, 1968) – citação Instrumental
12. Back in Bahia (Gilberto Gil, 1972)
13. Tenho sede (Dominguinhos e Anastácia, 1975) – citação instrumental
14. Refazenda (Gilberto Gil, 1975)
15. Refavela (Gilberto Gil, 1977)
16. Não chore mais / No woman no cry(Vincent Ford, 1974, em versão em português de Gilberto Gil, 1979)
17. Balafon (Gilberto Gil, 1977) – citação instrumental
18. Extra (Gilberto Gil, 1983)
19. Vamos fugir (Gilberto Gil e Liminha, 1984)
20. A novidade (Herbert Vianna, Bi Ribeiro, João Barone e Gilberto Gil, 1986)
21. Realce (Giberto Gil, 1979)
22. A gente precisa ver o luar (Gilberto Gil, 1981)
23. Punk da periferia (Gilberto Gil, 1983)
24. Extra II – O rock do segurança (Gilberto Gil, 1984)
25. Retiros espirituais (Gilberto Gil, 1975) – citação instrumental
26. Se eu quiser falar com Deus (Gilberto Gil, 1980)
27. Drão (Gilberto Gil, 1982)
28. Estrela (Gilberto Gil, 1981)
29. Esotérico (Gilberto Gil, 1976)
30. Expresso 2222 (Gilberto Gil, 1972)
31. Andar com fé (Gilberto Gil, 1982)
32. Emoriô (João Donato e Gilberto Gil, 1975)
33. Frevo rasgado (Gilberto Gil e Bruno Ferreira, 1968) – citação instrumental
34. Esperando na janela (Targino Gondim, Manuca Almeida e Raimundinho do Acordeom, 2000)
35. Aquele abraço (Gilberto Gil, 1969)
36. Toda menina baiana (Gilberto Gil, 1979)
37. Sítio do Picapau- Amarelo – citação instrumental