Franklin de Freitas – Kiss na Pedreira: show histórico

O Kiss surgiu em Nova York em 1973. Eu nasci em Curitiba, em 1974. E fui criado no Planeta Barreirinha.

Vi as caras pintadas do Kiss pela primeira vez em 1982, aos 8 anos de idade, pela televisão. Meu irmão de 9 anos, meu vizinho de 7 anos e eu ficamos fascinados. Ainda em 1982 ganhamos nosso primeiro vinil: Creatures of the Night.

Tudo mudou a partir dali. Entramos num mundo fantástico e passamos a contar com novos aliados. Tínhamos a alegria e a liderança de Paul Stanley para continuar sorrindo nos momentos mais tristes. E sabíamos que War Machine seria nosso hino de guerra, com a cara intimidadora de Gene Simmons ao nosso lado, quando as ruas da Barreirinha exigissem nossa bravura. Ace Frehley nos levaria para longe — até para as estrelas — com seus solos espaciais. E Peter Criss estava ali para nos mostrar que um roqueiro pode ser gentil e carinhoso, até mesmo ao bater em sua bateria.

Os anos passaram e o sonho de ver o Kiss de perto só se contretizou em 1994, no Pacaembu. Ali já éramos jovens universitários. E assistir àquele espetáculo só confirmou que uma parte da nossa infância não tinha terminado. E nunca terminaria.

Em 21 de abril 2015, o Kiss veio a Curitiba pela primeira vez. Em um show histórico na Pedreira Paulo Leminski, tive a oportunidade de realizar vários sonhos. Um deles era o de escrever sobre a ‘hottest band in the world’.

Em 28 de abril de 2022, Curitiba ganhou a oportunidade de dizer adeus ao Kiss. E eu recebi a chance de realizar mais sonhos. Pude levar ao show minha filha de 15 anos, minha esposa, meu afilhado de 13 anos e um grande amigo de longa data.

E esse era o retrato geral da Pedreira nessa noite épica. Gerações diferentes, mentes diferentes participando da mesma aventura. Estavam lá os vovôs roqueiros, mães e pais de caras pintadas, com seus filhos entusiasmados, metaleiros doidões e até alguns curiosos, que estavam lá só para ver de perto esse espetáculo curioso.

E foi um show e tanto. O Kiss foi perfeito no rock alegre de Paul Stanley e no metal de Gene Simmons. O público viajou nos solos de Tommy Thayer e tremeu na batida forte de Eric Singer. A parte visual foi impecável, com luzes, fogos de artifício, explosões, guitarrista voando, baixista cuspindo sangue, baterista cantando balada ao piano… Não faltou nada.

No setlist, também não faltou nenhum clássico. Foi um típico show de despedida. A última turnê.

Na última música, Rock and Roll All Night, a Pedreira virou uma pista de dança gigante. Todos dançaram e gritaram. Os adultos viraram crianças. E as crianças viraram fãs eternos.

Ficou a certeza que o Kiss tentou realmente se despedir de Curitiba. No entanto, não conseguiu. O que aconteceu na noite de 28 de abril de 2022 vai ficar marcado para sempre na mente dos mais velhos e na empolgação eterna dos mais jovens. O Kiss será eterno por aqui e nunca vai deixar a Pedreira.

Silvio Rauth Filho é jornalista, editor do Bem Paraná