A morte da cantora baiana Gal Costa na quarta-feira, 9, afetou diretamente seu conterrĂ¢neo Deivson dos Santos, 29 anos, servidor pĂºblico. “Quando vi a notĂcia, me senti bastante desnorteado. A partida de Gal foi um golpe duro”, conta. O sentimento de luto vivido por um fĂ£ apĂ³s a morte de seu Ădolo Ă© igual ao de perder uma pessoa do seu convĂvio prĂ³ximo, diz a psicĂ³loga especialista em luto Mariana Simonetti.
Segundo Mariana, o luto Ă© um processo de rompimento de vĂnculo, que pode existir tanto com uma pessoa fisicamente prĂ³xima, quanto com alguĂ©m que nĂ£o conhecemos pessoalmente, mas que faz parte da nossa vida.
“Existem formas diferentes de se criar um vĂnculo com alguĂ©m. No caso das pessoas famosas, devido Ă exposiĂ§Ă£o, a gente acaba se sentindo prĂ³xima a elas e, com isso, criamos o vĂnculo”, explica. “Geralmente, isso se dĂ¡ por identificaĂ§Ă£o e admiraĂ§Ă£o, seja pelas letras das mĂºsicas, pelos trabalhos ou pela prĂ³pria personalidade da pessoa.”
No caso de Deivson, ele conta que cresceu em Salvador e desde criança ouvia muito as canções de Maria BethĂ¢nia, amiga prĂ³xima de Gal. Ă€ medida em que foi crescendo, começou a conhecer e se identificar com as canções da autora de Divino Maravilhoso. “É como se a cada aniversĂ¡rio eu me lançasse ainda mais em Gal Costa, por isso a chamo de ‘amor da minha maturidade'”, define.
Luto coletivo
Para alĂ©m da comoĂ§Ă£o pessoal, a morte de um artista tende a provocar um sentimento de luto coletivo. “É quando vĂ¡rias pessoas, de lugares diferentes e estilos diferentes, se sentem impactadas pela morte de um mesmo artista e vivem a mesma dor”, explica a psicĂ³loga.
Se na morte de um ente querido, algumas pessoas optam por nĂ£o falar sobre a perda e se fecham, no caso dos famosos, isso Ă© quase impossĂvel. A notĂcia chega junto a uma enxurrada de vĂdeos, mĂºsicas, entrevistas, entre outros conteĂºdos sobre o artista.
No dia em que Gal Costa morreu, muitas pessoas compartilharam suas mĂºsicas nas redes sociais e relembraram grandes momentos da carreira da artista. A cantora entrou com mais de um sucesso para a lista “Viral 50 Brazil” do Spotify, que aponta as mĂºsicas que mais cresceram em reproduĂ§Ă£o nos Ăºltimos dias. O mesmo aconteceu apĂ³s a morte trĂ¡gica de MarĂlia Mendonça hĂ¡ um ano em um acidente aĂ©reo.
Em geral, sempre que uma grande personalidade se vai, todos se manifestam e cultuam aquela pessoa – o que pode ser um processo de cura da dor interessante, aponta Mariana Simonetti. “Falar sobre a pessoa que se foi ajuda no processo de ressignificaĂ§Ă£o”, explica a psicĂ³loga.
Como lidar com a dor da perda de um artista querido?
Contribuindo para alavancar o nĂºmero de streamings de Gal no Spotify, Deivson conta que mergulhou totalmente na obra da artista apĂ³s a sua morte. “Comecei a ouvir tudo. Retomei as mĂºsicas que eu mais gosto, as entrevistas mais marcantes, falas potentes. Peguei o livro que Gal lançou este ano e fui vendo as fotos, lendo os textos e sentindo profundamente esse luto”, conta.
Segundo a psicĂ³loga, este Ă© um caminho comumente percorrido pelas pessoas que perdem alguĂ©m querido e Ă© benĂ©fico. “Existem diversas maneiras de se viver um luto, mas o ideal Ă© que a pessoa nĂ£o reprima os sentimentos. Se a tristeza e a saudade aparecerem, ela deve senti-la e entender que Ă© um sentimento natural”, diz.
Guardar objetos especiais que remetam ao artista, como um autĂ³grafo, um disco ou um objeto que ganhou em um show, pode ser uma forma saudĂ¡vel de honrar aquela pessoa. A compreensĂ£o deve ser de que a relaĂ§Ă£o fĂ£ e Ădolo nĂ£o acabou ali, apenas se transformou.