Cultura METAL SINFÔNICO

Mark Jansen, da banda Epica, quer destruir o ego e não tem medo da inteligência artificial

Em entrevista exclusiva ao Bem Paraná, o guitarrista da banda holandesa de metal sinfônico fala sobre a turnê pelo Brasil e os 30 anos de carreira

Luísa Mainardes
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(Foto: Divulgação)

A banda holandesa Epica, um dos maiores nomes do metal sinfônico, retorna ao Brasil para seis shows em 2025. Com passagem por Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, a banda também chega em Curitiba no dia 7 de setembro, com apresentação marcada na Ópera de Arame. Com a promessa de novas músicas, algumas surpresas e os bons clássicos, a abertura ficará por conta da banda italiana Fleshgod Apocalypse.

Liderada por Simone Simons (vocal) e Mark Jansen (guitarra), a banda é conhecida pelos sons orquestrais, vocais operísticos e riffs pesados, com hits como “Cry for the Moon” e “Sensorium”. Em entrevista exclusiva ao Bem Paraná, Mark Jansen comenta sobre a relação com os fãs latinoamericanos, o trabalho por trás do último álbum Aspiral e o marco de 30 anos de carreira, desde que formou a sua primeira banda aos 17 anos, o After Forever. Confira a entrevista na íntegra aqui.

Bem Paraná – Mark, este ano completa 30 anos desde que você entrou oficialmente na indústria musical, com After Forever e, hoje, com Epica. O que você traz dessas últimas três décadas? Você já refletiu sobre isso?

Mark Jansen – Sim, eu reflito o tempo todo e acho que sou uma pessoa completamente diferente agora do que era quando comecei com o After Forever (1995-2009). Tem sido uma jornada incrível, cheia de aventuras, ótimas experiências, mas também como ser humano. Você aprende, muda e se torna a pessoa que é hoje e isso também se deve às bandas. Há muitas experiências incríveis e, de certa forma, um pouco de dificuldade, mas as experiências difíceis também são muito importantes para crescer. Então, sou grato por todas as experiências que encontro.

BP – Quando falamos do gênero ‘metal’, esperamos ver raiva ou fúria, mas quando se trata de ‘música sinfônica’, esperamos um pouco mais de emoção e paixão. Para você, qual é o valor dessa mistura tão incomum?

Mark – Para mim, é importante que haja muita positividade na música. O metal também representa agressividade, porque você libera um pouco de agressividade. É uma ótima válvula de escape. Mas, ao mesmo tempo, queremos criar melodias bonitas e também colocar uma mensagem positiva nas letras. Então, às vezes abordamos temas pesados, mas no final sempre queremos dar um toque positivo, para criar um resultado final bonito.

Pessoalmente, isso é muito importante para mim, porque não gosto de negatividade, pois isso resulta ou pode resultar em depressão. E eu quero, na verdade, o contrário, que quando as pessoas estão deprimidas e ouvem nossa música, elas tenham uma ferramenta para sair da depressão.

BP – Vamos falar sobre o seu último trabalho: Aspiral (2025). Este é um novo passo que a banda está dando, como o álbum define esta nova fase para o Epica?

Mark – Nós discutimos antes de começarmos a trabalhar no álbum e queríamos trabalhar um pouco na direção do The Alchemy Project (2022), que gravamos como se fosse ao vivo no estúdio. Não gravamos camada por camada, mas bateria, baixo e guitarra juntos. Assim, você capta muito mais a sensação ao vivo das músicas e esse é um tipo de energia que você não consegue alcançar quando grava todas as camadas separadamente. Essa é uma diferença muito grande.

Outra diferença foi que não queríamos nos repetir. Então, sempre tentamos integrar alguns elementos novos. Dessa vez, foram alguns sons modernos aqui e ali e alguns toques modernos nas músicas. Ao mesmo tempo, também não queremos perder nossas raízes, porque elas são muito importantes para nós. Queremos soar como o Epica, mas às vezes também experimentamos um pouco, e tentamos fazer isso em todos os álbuns. Às vezes, vai um pouco para um lado, às vezes vai um pouco para outro. Então, concordamos com algumas ideias gerais no início, mas depois deixamos rolar e vemos o que acontece quando seguimos o fluxo.

BP – E vamos falar um pouco sobre a capa do álbum. É a primeira que não tem o nome da banda explicitamente escrito nela, certo? Quais foram as intenções?

Mark – Sim, parte da letra trata da destruição do ego e da ‘mente egóica’. Então, se você deixar o ego completamente de lado e deixar a música falar… Em um certo ponto, pensamos que se é sobre a destruição do ego, também seria legal deixar o nome do álbum de fora, porque é algo que você coloca, especialmente em um tamanho maior, o que está sempre um pouco conectado ao ego.

Na verdade, nosso designer de arte, Hedi Xandt, teve a ideia de deixar o logotipo de fora e nós dissemos: sim, é uma ideia legal. Só tivemos que convencer nosso empresário, porque ele não estava muito feliz com a ideia, porque quando um CD está na prateleira na loja e não há o nome, as pessoas não veem que é a sua banda, mas encontramos uma solução intermediária. Nas lojas, ainda há um adesivo nele. Assim, as pessoas ainda podem ver que é a nossa banda, e todos ficam felizes.

Algumas pessoas ficaram completamente chocadas, como se nós tivéssemos atirado para um balde de gelo, mas depois elas começaram a descobrir toda a história por trás e, então, começou a fazer sentido. No início é sempre difícil, quando só tem a capa e alguns singles, as pessoas ainda não sabem qual será a história completa e como será o álbum inteiro. Nós encontramos uma maneira de lidar com isso e eu disse a algumas pessoas: “Sim, esperem pelo álbum final e depois julguem”. E, claro, nem todo mundo gosta do álbum. É impossível agradar a todos sempre, mas muitas pessoas disseram, depois de ouvir o álbum e se acostumar com ele, que realmente começaram a gostar. As pessoas têm opiniões diferentes sobre qual álbum elas mais gostam. Então, para cada álbum, há fãs.

BP – As letras do Epica são muito reflexivas sobre a humanidade, espiritualidade, história e outros assuntos filosóficos. Mark, me conte um pouco sobre você, o que você lê? A quem você costuma recorrer para se alimentar filosoficamente?

Mark – Leio muitos livros diferentes e, especialmente, quando trabalho em letras, começo a ler muito mais do que quando não estou trabalhando. Então, sempre que há um novo álbum e começo a trabalhar nas letras, fico realmente interessado em ler muito. Como Eckhart Tolle, um escritor de quem li vários livros e também ouvi muitos podcasts. Sempre acho que ele consegue explicar assuntos muito complicados de uma maneira bem fácil. Adoro ouvir ele, porque ele sempre traz um pouco de humor, o que eu gosto, porque não se deve levar tudo muito a sério. Ele sempre sabe como abordar assuntos pesados com um humor bem leve.

Há muitas outras coisas que leio e também textos antigos com ensinamentos de sabedoria, porque acho que no passado as pessoas já eram muito conhecedoras de assuntos que, hoje em dia, nós muitas vezes esquecemos. Então, ao pesquisar o passado, você encontra muitas pérolas muito interessantes sobre o que é a existência, que hoje em dia estão um pouco esquecidas. Então, eu pesquiso muito os antigos ensinamentos de sabedoria para encontrar informações muito úteis.

BP – Mark, como você e a banda lidam com as recentes transformações tecnológicas? Elas te assustam?

Mark – Às vezes, conversamos sobre isso e, em alguns casos, fico um pouco mais preocupado com a direção que isso pode tomar do que em outros. Cheguei ao ponto em que não tenho mais medo disso. Costumava me assustar muito pensar no que a inteligência artificial poderia fazer se dominasse o mundo e destruísse a humanidade. Hoje em dia, acho que as coisas acontecem do jeito que acontecem e deve haver uma razão para isso. Se eu ficar o tempo todo com medo disso, vou perder o agora.

Então, tenho medo de algo que pode acontecer, mas talvez não aconteça. Talvez, isso tenha um resultado maravilhoso. Também não sabemos, mas podemos especular muito sobre isso, mas o agora é a única coisa que realmente importa. E no agora, temos que ser o mais felizes possível e aproveitar as pequenas coisas, porque as pequenas coisas da vida são, na verdade, as maiores coisas. Então, apenas sentir a brisa do verão na pele, isso me deixa muito feliz. Eu devo olhar nos olhos da minha filha, que já tem um ano e oito meses agora. Essas são as coisas mais bonitas da vida para mim.

A inteligência artificial ainda pode tirar empregos. Ela pode criar música que talvez seja melhor do que a de muitas bandas, certo? Mas não tenho medo disso. As pessoas também tinham medo no passado de coisas como o Spotify, que tirariam toda a renda das bandas, mas nós sempre encontramos uma nova maneira de fazer isso funcionar. Eu apenas sigo o fluxo e vejo o que acontece e, então, encontramos nosso caminho. Existem possibilidades ilimitadas para o bem e para o mal, pode ser das duas maneiras e podemos fazer uso disso e podemos ser destruídos por isso, mas não faz sentido ficar muito preocupado com isso.

BP – E agora, no próximo mês, Epica estará de volta ao Brasil com uma turnê que passará por seis cidades. Como é para você se apresentar no Brasil? Há alguma diferença no público latino-americano?

Mark – Sim, o público latino-americano é definitivamente mais apaixonado do que o público em geral, porque há alguns países que são, como sempre dizemos: “Esses países são como a América Latina”. Então, é sempre algo bom, porque significa que a galera fica realmente animada e envolvida com o show. E isso também é o que, pelo menos, nós mais gostamos. Quando há países no mundo onde as pessoas são mais ouvintes e menos interativas, elas provavelmente apreciam o show tanto quanto as pessoas na América Latina. Mas, para nós, é mais divertido quando as pessoas realmente se expressam, gritam e se movimentam. É muito mais divertido.

BP – Por fim, gostaria de deixar uma mensagem para os fãs brasileiros que estão esperando por vocês em menos de um mês?

Mark – Cada turnê trabalhamos com um repertório um pouco diferente. Sempre tentamos mudar as coisas e ter algumas surpresas também, porque não seria nenhuma surpresa se os setlists fossem os mesmos em todos os lugares. Então, tentamos mudar as coisas e experimentar coisas novas, mas também temos novas músicas que nunca tocamos antes. As pessoas também podem esperar algumas surpresas agradáveis e alguns bons clássicos.

Serviço – Epica (com Fleshgod Apocalypse)

Quando: 7 de setembro (domingo)

Onde: Ópera de Arame (R. João Gava, 920 – Abranches)

Vendas: www.fastix.com.br