João Luis Fiani e Edson Bueno não conseguem esconder a tristeza. Fiani tem a voz embargada, Bueno, chora. Mônica Richbieter parece ainda em estado de choque; Adriano Esturrilho não sabia da morte da atriz Lala Schneider, acontecida entre entre 9 e 10 horas da manhã. Fiani e Bueno foram alunos de Lala, Mônica e Esturrilho estiveram perto dela nos derradeiros trabalhos, no cinema.
Ao que tudo indica ela morreu, aos 80 anos, enquanto dormia, deixando todos atônicos, pois estava bem de saúde e trabalhando, como fez a vida inteira. Foram muitas peças de teatro, cinema e televisão. Além disso, era figura certa em salas de aula e em palestras, incansável na missão que agarrou para sua vida: as artes, mais carinhosamente ainda, nas cênicas, mundo no qual era conhecida como A Dama do Teatro Paranaense, e que sente no peito a dor de sua inesperada, apesar da idade avançada, perda.
Seu corpo será velado a partir das 17 horas, no Hall de Exposição do Teatro Guaíra, instituição na qual foi figura mais do que atuante e o corpo será enterrado, ainda na manhã de amanhã, no Cemitério do Boqueirão.
Fiani, um amigo que a homenageou colocando o nome dela em seu teatro, conta que ela não estava doente. “Até o médico achou estranho. Não dá pra mensurar uma morte dessas. Foram quase 30 anos de amizade. Dizer que foi e vai ser por muito tempo o maior nome do teatro paranaense, por ter feito a carreira a coisa mais importante da vida dela, é pouco” , diz ele, que começaria em abril uma peça sobre a vida da atriz . “A idéia era homenageá-la viva, agora vai ser mais difícil ainda”.
Yara Sarmento confirmou o velório no Teatro Guaíra em meio a sua tristeza. “Nossa diretora já está articulando uma grande homenagem”, adianta Yara, que trabalhou com Lala na televisão nos anos 60 e também no teatro. “Fomos amigas de uma vida inteira. Ela era uma pessoa generosa com inteligência e humor extraordinários. Não bastasse foi um talento impar que fez todo tipo de papel com brilhantismo”.
Mônica Richbieter faz parte da equipe de Mystérios, último trabalho de Lala, por ironia do destino, tendo como um dos cenários um velório. “Não sei o que dizer. Ela foi maravilhosa, é uma pessoa que morreu trabalhando e merecia isso”, comenta Adriano Esturrilho, que filmou em novembro passado o curta Café do Teatro, que contou com participação especial de Lala, vivendo ela mesma. Ele está tentando agilizar a finalização para homenageá-la ainda durante o Festival de Teatro de Curitiba, se for possível. “O filme inicia e termina com ela, é uma homenagem a ela também. E a peça que temos em cartaz hoje, Samuel, no Espaço Falec também virou uma homenagem, é inevitável”, diz.
Para ele, que trabalha com pesquisa de linguagens contemporâneas, o que mais impressionou foi a mente aberta da atriz. “A gente faz uma sátira também ao mundo do teatro e ela teve uma cabeça mais aberta que muito jovem”, conta ele que ao ver O Vampiro e a Polaquinha, com Lala, decidiu encarar os palcos.
Regina Vogue lembra que antes mesmo de vir morar em Curitiba já ouvia muito sobre a força que ela passava a todos. Tem como última imagem dela a participação da atriz no lançamento do Calendário Heroínas, com atrizes paranaense. “Edson Bueno, Fátima Ortiz, toda essa galera passou pelas mãos dela. Com certeza muitas homenagens virão, inclusive no Festival de Teatro, na entrega do Gralha Azul”.
Bueno perde as palavras no meio da curta conversa. “Ela foi minha professora de teatro e uma pessoa muito importante na minha vida, meu primeiro trabalho profissional na direção foi com ela. Acho ela a coisa mais importante que havia no teatro paranaense, era um farol. Tudo que fazia era movida pela paixão e foi um exemplo de caráter, vibração, loucura, amor pelo teatro. Não tem substituto pra ela, grande parte da minha maneira de ver o teatro foi ela que me ensinou. E não só para mim, mas para toda minha geração. Que tipo de homenagem se poderia fazer? Acho que temos de fazer silêncio, porque é muito doloroso…”.
Frases:
“ Já chorei um monte, mas nada a traz de volta. Fica um lacuna porque a Lala era uma referência em tudo. Deixou muitos discípulos que não a esquecerão”.
Regina Vogue
Lala deu os primeiros passos no teatro, anos 50, no Teatro do Sesi, instituição na qual trabalhou por 25 anos e de quem recebeu homeangem em março do ano passado. Na década seguinta foi pedra fundamental na criação do Teatro de Comédia do Paraná.
Na chegada da televisão no Paraná, lá estava Lala, encarando até os fãs que não gostavam de suas vilãs, em tele-teatros. Fez novela e para rede globo, Felicidade. Seu primeiro trabalho no palco, em 1950, foi O Poder do Amor, para o teatro de adultos do SESI. Foi premiada com o Troféu Gralha Azul na categoria Melhor Atriz em 1984-1985 (Colônia Cecília) e em 1992-1993 (O Vampiro e a Polaquinha) em 94 ganhou um teatro com seu nome. Em 2004, Lala Schneider recebeu do Centro Cultural Teatro Guaíra, a Medalha Comemorativa dos 50 anos do Guairinha (Auditório Salvador de Ferrante), homenagem concedida às personalidades que fizeram parte da história do teatro paranaense.
Ao longo da carreira, foram mais de 80 espetáculos teatrais e atuação em nove filmes e oito novelas,acumulando 16 prêmios máximos na sua categoria. São memoráveis as interpretações em “Entre quatro paredes”, de Sartre, dirigida por Armando Maranhão, e “Antes do Café”, de Eugéne O’Neill, dirigida por Eddy Franciosi, encenadas em 1959 e que deram projeção nacional ao trabalho da atriz. Sobre “Antes do Café”, uma curiosidade: Lala foi a primeira atriz a dizer um palavrão em cena.
Luto