Há filmes feitos especialmente para as telas de cinema, pois em tela pequena e com o volume baixo, perdem um tanto de sua graça. Os filmes do bruxo Harry Potter são assim: seus efeitos especiais devem ser apreciados sem a poluição sonora de dentro de casa. Harry Potter e a Ordem da Fênix, nova superprodução dos estúdios Warner Bros., é uma obra que usa as tecnologias para amplificar a emoção.
Quinto filme da série, não traz tanta ação, mas segura o telespectador na poltrona, fazendo-o saltar nos momentos certos. Porém, é um pouco mais estático e traz conteúdo mais denso do que seus antecessores. Para o ator Daniel Radcliffe é também mais sombrio. O personagem dele começa a questionar sua ligação com o Lorde Voldemort e se depara com incertezas sobre sua personalidade. Numa das colocações mais marcantes do filme Sirius Black (Gary Oldman) conforta Harry dizendo que ninguém é inteiramente bom ou ruim e que cada um possuí um pouco de luz e trevas dentro de si.
Os conflitos da entrada de Harry Potter na vida adolescente, com as incertezas e medos inerentes à fase, constroem a trama, feita para agradar os leitores que amadureceram junto com o personagem. Ele se dá conta de que a vida não é um conto de fadas, nem mesmo para bruxos, e começa a ter sentimentos que desconhecia, como a paixão e o medo. Perde a sua ingenuidade típica da infância e dá os primeiros passos em direção a vida adulta.
Também é a aventura na qual os personagens mais se aproximam do mundo real. As paisagens londrinas, maravilhosas por sinal, fazem parte da vida dos bruxos que passeiam à paisana entre os não-bruxos. São vassouras sobrevoando o Rio Tamisa e passando pela Casa do Parlamento e cenas no famoso metrô de Londres.
Neste filme questões políticas também afloram. O Ministério da Magia se impõe na educação com a professora Dolores Umbridge (em ótima atuação de Imelda Staunton), que aplica punições dignas de idade média. Os temas abordados neste quinto filme são para telespectadores mais adultos, até mesmo as piadinhas embutidas na trama, fazem sentido para aqueles que já tem uma certa experiência.
Embora muitas passagens do filme contribuam para trazer Harry mais perto da realidade, o encanto de seu mundo mágico não se perde, a tecnologia dá conta de manter a emoção criada. O uso de efeitos de computador para produzir cenas somente possíveis no mundo da sétima arte e a presença de uma nova personagem, Luna Lovergood (Evanna Lynch), uma bruxinha bem caracterizada, garantem que aquela é uma aventura sobre bruxos e não de meros seres humanos.
A tarefa de passar 700 páginas para a linguagem do cinema não deve ter sido fácil para o diretor David Yates que já é questionado por omissões. Porém, se tratando de duas linguagens diferentes, ambas devem ser exploradas à sua maneira. As duas versões têm pontos positivos, sendo que a produção cinematográfica da saga preza pelo apelo visual, conta com nomes consagrados e, dentro de seus limites, não deixa nada a desejar em relação ao livro.