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Coppola, na masterclass no Guaíra: “Não existe arte sem risco; você precisa mergulhar no desconhecido” Fotos: Luís Pedruco

O cineasta americano Francis Ford Coppola passou esta quinta-feira (31) em Curitiba, onde deu palestra, recebeu comenda, passeou pela Rua XV e até visitou uma estação-tubo. O diretor de clássicos como a trilogia ‘O Poderoso Chefão’ e ‘Apocalypse Now’, ainda participou do lançamento do filme ‘Megalópolis’ em sessão fechada no Cine Passeio. A nova obra do diretor é inspirada em Curitiba. “Este lugar é Curitiba, onde eu vi a criatividade surgindo para tentar fazer a vida das pessoas melhor. Então, em reconhecimento a um lugar como Curitiba e aos grandes artistas que vieram antes de mim e fizeram daqui um lugar de ideias e de sonhos, trago meus mais sinceros agradecimentos”, salientou Coppola sobre a cidade.

O primeiro compromisso em Curitiba foi no Teatro Guaíra. Lá, ele ministrou uma masterclass sobre cinema em parceria com a Universidade Tuiuti no palco do teatro. Fãs, estudantes e profissionais do cinema formaram fila na frente do teatro para pegar o melhor lugar. No dia anterior, os ingressos gratuitos para o evento esgotaram em meia hora.

Além dos estudantes de cinema, o público geral também aproveitou a oportunidade. Com quase seis décadas de carreira, a atriz Regina Vogue, importante personalidade do teatro curitibano, estava igualmente empolgada com a aula de Coppola. “É o poderoso chefão, quem não vai querer ver?”, brinca. “Fico muito feliz de ver essa moçada, porque é também com o novo que a gente aprende. É uma sorte para Curitiba e para o Paraná”, completa.

Coppola subiu ao palco do Guaíra e, esbanjando simpatia, avisou de imediato que estava ali para conversar sobre cinema e tirar dúvidas dos jovens estudantes. Com 25 filmes na carreira, cinco Oscars e tantos outros prêmios, Coppola falou muito pouco sobre si e focou em dividir “segredos” — como ele mesmo chamou — que aprendeu nos mais de 60 anos como diretor. “Não existe arte sem risco; você precisa mergulhar no desconhecido”, disse. “O cinema é uma arte tão nova que podemos dizer que todos nós que fazemos cinema somos um pouco estudantes”, reforça.

A principal dica que deu aos participantes da masterclass foi a de escrever todos os dias. “E nunca volte para ler. Espere alguns dias para isso, senão você vai odiar e vai começar sempre de novo. Também escolha um momento do dia para isso. Eu, por exemplo, escrevo logo cedo, porque de manhã meus sentimentos ainda não foram feridos”, brinca.

Com muita energia, Coppola quebrou o protocolo e, por iniciativa própria, abriu espaço para perguntas e respondeu a cada uma até ser interrompido – pela quarta vez – pela própria produção para dar sequência na agenda programada para o dia.

Mesmo com a agenda apertada, o diretor fez questão de revisitar alguns pontos turísticos de Curitiba. Na sua estadia em 2003, ficou três semanas da cidade e nesta quinta-feira, além de andar pela Rua XV de novembro, também entrou em uma estação-tubo. O transporte público da cidade foi inclusive citado pelo cineasta durante a masterclass. “Estamos em 2024 e Curitiba segue sendo uma referência, os ônibus daqui (biarticulados) são uma inovação”, salientou.

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Coppola em uma estação-tubo

Protagonista do filme ‘Megalópolis’ é inspirado em Jaime Lerner

Francis Ford Coppola retorna à capital paranaense 21 anos depois da temporada de três semanas que passou em Curitiba 2003. A estadia naquela época foi justamente para buscar inspirações para a cidade utópica que seria retratada em ‘Megalópolis’, que no filme recebeu o nome de Nova Roma. O cineasta começou a planejar a produção ainda em 1979, logo após o lançamento do clássico ‘Apocalypse Now’.
Curitiba já era considerada referência em áreas como meio ambiente e transporte público, o que atraiu o diretor para cá, atrás de um “protótipo” que funcionasse para o seu filme.

No longa, o protagonista Cesar Catilina (Adam Driver) tem a intenção de reconstruir a cidade de Nova Roma (uma referência a Nova York pós 11 de Setembro e ao Império Romano), transformando a megalópole em uma cidade autossustentável. “Uma cidade com a qual as pessoas possam sonhar”, como uma das linhas que fala o protagonista já no trailer de divulgação de ‘Megalópolis’.

Segundo o próprio diretor, o personagem de Catilina, um arquiteto utópico, foi inspirado no ex-governador e urbanista Jaime Lerner, com quem Coppola visitou vários pontos turísticos quando esteve em Curitiba e que continuou mantendo contato nos anos seguintes. Na agenda do diretor na Capital nesta quinta-feira também está, inclusive, uma visita ao Instituto Jaime Lerner.

“Uma coisa que me inspirei em Curitiba e no trabalho visionário de Jaime Lerner foi como ele olhava para um problema e buscava uma solução usando a criatividade. Como quando ele percebeu que era necessário ter um novo tipo de transporte público que resolvesse o problema da população, que crescia, em vez de simplesmente seguir as antigas regras do mundo”, afirmou o diretor.

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Diretor recebe a mais alta honraria do Paraná

Francis Ford Coppola recebeu nesta quinta-feira (31), do vice-governador Darci Piana, a comenda da Ordem Estadual do Pinheiro, a mais alta honraria do Estado, já oficializada em decreto.

Antes da homenagem, o diretor de “Apocalypse Now” e da trilogia “O Poderoso Chefão” participou de um almoço, no Palácio Iguaçu, com o governador Carlos Massa Ratinho Junior e recebeu das mãos do governador uma ilustração do artista curitibano Poty Lazzarotto.

O vencedor de cinco Oscars foi agraciado com o título de Grande-Oficial da Ordem do Pinheiro, que é conferido a figuras de importância notável. Antes, o diretor lotou o Teatro Guaíra numa conversa com estudantes de cinema e público em geral na manhã desta quinta.

O cineasta agradeceu a homenagem e destacou o ambiente de criatividade que encontrou em Curitiba. “Obrigado por esse momento espetacular, estou muito agradecido. Entre todas as coisas extraordinárias que aconteceram nos meus 85 anos de vida, nada é mais maravilhoso do que visitar um lugar e ver a criatividade jorrando de uma maneira que ajuda nossos semelhantes a trazer alegria onde existe infelicidade, celebração onde há guerra e inteligência onde, infelizmente, existe estupidez”, disse.