Jacyra Abujamra traçou uma daquelas trajetórias incomuns no mundo das artes. O talento para o desenho se mostrou bem cedo – e o pai, atento percebeu. Porém, ela deixou a arte para depois de criar os filhos e voltou depois dos 40, para construir uma carreira que será repassada em obras na exposição Universo Feminino, que abre hoje às 19 horas, no Mabu Royal & Premium Hotel, com lançamento de um catálogo. Pinturas, gravuras, desenhos, fotografias e instalações, obras que usam diferentes técnicas, servem bem para dar uma ideia do trabalho desta simpática senhora, boa de conversa. Disse que estava um pouco nervosa por ser uma conversa por telefone, mas engrenou logo.
Desde muito cedo ela tomou gosto pelo desenho, satisfação que se traduzia nas melhores notas de seu boletim para esta disciplina. Mesmo sendo uma época em que pais não davam muita ateanção para o que pensavam os filhos, o pai dela notou que a menina tinha jeito e a matriculou numa aula de pintura. “Foi uma surpresa quando me chamaram. Ele não era muito de falar e não imaginava que tinha percebido que eu gostava de desenho”, conta ela que nasceu em Palmas e veio para Curitiba aos 6 anos.
Depois daquele primeiro curso, no Colégio Cajuru, onde estudou até meados dos anos 40, veio o tempo de ser mãe e a pintura ficou de lado. “Antigamente a gente casava e tinha que cuidar dos filhos. Eu era uma pessoa muito tímida e só fazia o que era pra se fazer. Não fui uma mulher que abria espaço, eu esperava acontecer. Acho que até nesta parte minha descendência do lado do papai, árabe, pesou”, conta, citando que tem sangue ainda de italiano, alemão e até de índio, segundo a mãe. Ou seja uma autêntica brasileira. “Nunca fui atrás desses culturas para minhas obras, até esqueço. A parte brasileira é tão forte que nem penso nas outras. Até porque acho que todo mundo é igual, ninguém é melhor que o outro”. Lembra, no entanto, da descendência árabe na hora de tentar entender seu jeito. “Eles acreditam muito no destino. Isso eu herdei, porque não tinha ilusões. Achava que se algo fosse pra mim, iria acontecer. Talvez se eu fosse diferente, mais ativa mais esperta, aconteceriam mais rápido”, filosofa. Que nada, Jacyra, cada pessoa tem seu tempo, e se ninguém é mais importante que ninguém, também ninguém é igual. “Vejo meus netos que fazem tanta coisa ao mesmo tempo, são estimulados o tempo todo, têm que fazer coisas. Por isso a juventude tá muito aprisionada, é tanto tem que fazer… Mas, cada um tem que ter sua natureza. Se tiver que esperar vai ter que esperar”, diz, sábia.
Quando retomou os cursos de artes foi para o ateliê Alfredo Andersen. “Parar a gente até pára, mas fica um vácuo dentro da gente”. Foi quando conheceu Adaline Caron, que tinha uma galeria e aulas. “Toda minha família foi unânime que eu deveria me dedicar. Eles sabiam que era algo que eu precisava. Minha primeira exposição foi em 1973”. Mais tarde, Edilson Viriato, o curador da mostra, que lhe reforçou a ideia de cada um é cada um. “Nosso encontro foi muito legal. Sem saber que ele seria meu professor gostei das obras dele e decidi comprar. Ali, foi nascendo uma turminha que ele comanda, umas 70 alunas”, conta.
Viriato organiza viagens culturais e já as levou as vários lugares para conhecer, in loco, a História da Arte. “Ele é um desbravador e o mas importante: ele analisa a obra de cada um, nota tendência e estimula cada um buscar seu caminho”, elogia. “Dá a informação para gente procurar o que temos dentro, não ficar copiando. Isso é fabuloso nele”.
Jacyra já passou por várias fases, diz que agora está de volta ao desenho. Ela mantém um ateliê em casa, onde reúne as velhas amigas do tempo de Adaline. Diz que se fosse fora de casa, se distrairia menos. “Mas tem muitas vantagens receber as amigas em casa. Passo a maior parte do meu tempo lá, qualquer tempinho desço lá”. Toda essa história está lá nas entrelinhas desta exposição.
SERVIÇO
Universo Feminino e lançamento do livro sobre Jacyra Abujamra
Dia 28 às 19h. Mabu Royal & Premium Hotel
( Praça Santos Andrade, 830). Informações: (41) 3219-6000