Paulinho da Viola será uma das atrações do Mimo, um evento que segue em alguns pontos da cidade até domingo, Dia das Mães. A abertura será às 18h desta sexta, 12, na Arena B3 com o artista português Manuel de Oliveira.

Depois, às 21h, migra para o Grande Auditório do Masp, onde se apresentam os argentinos do Piazzolla Octeto Electrónico, liderado por Nico Sorin. Já no Parque Villa-Lobos, no qual Paulinho estará no domingo, a partir das 18h30, vão se apresentar nomes como a banda Jupiter & Okwess, originária da República do Congo, a saxofonista americana de jazz Lakecia Benjamin e o produtor inglês Prince Fatty, com a também inglesa Shniece Mcmenamin.

Era a tarde triste de quarta, 10, pós-velório de Rita, quando Paulinho da Viola atendeu o telefone de sua casa, no Rio, para falar sobre sua vinda. Seu show será generoso, gratuito, e contará com a participação de sua talentosa filha, Beatriz Rabello.

Mas Rita, a “rainha do rock”, se fez presente logo no início da conversa. “Eu estava vendo as imagens pela TV, muito triste perdermos alguém como ela.”

As fronteiras territoriais não devem ser respeitadas quando falamos de alguns nomes, sugere Paulinho. E mesmo o samba e o rock, dois gêneros monarquizados o tempo todo, guardam perigos redutores quando elegem seus reis e empossam suas rainhas. “Aparentemente fomos criados em universos diferentes, mas isso não me parece verdade.”

‘Vou seguindo até quando der’, diz Paulinho

Em meio a nomes de tantas origens e idades que estarão no Mimo Festival, Paulinho da Viola exerce a liberdade que seus 80 anos lhe garantem.

Álbum novo? “Tenho algumas composições, mas não sei ainda qual a melhor maneira de lançá-las. Não sei bem lidar com esse negócio de lançar uma música por vez.” Marcenaria? Aquela que ele tem em casa e onde passa boa parte do tempo consertando objetos? “Está meio desativada desde a pandemia.” Então, aposentadoria? “Agora que eu não posso parar mesmo (risos)”, diz. “Eu não penso em parar de fazer shows, nada disso. Vou seguindo até quando der. Claro que há um desgaste maior em pegar aviões, mesmo usando a fila das prioridades. O problema é que agora tem mais gente na fila das prioridades do que na normal.”

Ser transgressor seria um charme permitido aos roqueiros, mas condenável no mundo samba, que carrega toneladas de passado nos ombros? “Não”, afirma o sambista. “O samba também foi e pode ser transgressor. João da Baiana, Donga, Garoto, Radamés, Laércio de Freitas, Esmeraldino Salles, Valdir Azevedo, Canhoto da Paraíba, Pixinguinha, Lupércio Miranda, todas essas pessoas foram transgressoras dentro da linguagem do choro.”

E Paulinho da Viola? Convidado a fazer uma reflexão sobre suas próprias transgressões, e ele poderia citar, por exemplo, a construção ousada da harmonia de Sinal Fechado, de 1969, Paulinho pega a saída de emergência do passado: “Olha, eu sou um homem do século 19, não sei bem o que eu estou fazendo aqui. Não lido bem com celular, não entendo esses direitos autorais, que não pagam mais como pagavam, não sei lidar com esse negócio de lançar uma música por vez no Spotify”. E sorri.

Um portal em suas memórias nos leva ao Recife, final dos anos 1960, quando foi fazer sua primeira apresentação na cidade. “Foi lá que ouvi jazz e conheci um dos álbuns mais marcantes de minha vida, The Prophet, de Thelonious Monk. Você não imagina como aquilo mexeu comigo.” Já era sua primeira “transgressão”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.