Paulo Leminski_Macaxeira_Carlos Roberto Zanello de Aguiar
Foto: Carlos Roberto Zanello de Aguiar

Paulo Leminski (1944-1989) é o autor homenageado da 23ª edição da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, ano em que a Festa volta a ser celebrada no seu período habitual, entre 30 de julho a 3 de agosto.

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Tradição desde a primeira Flip, a escolha do autor homenageado a cada edição é um convite a novas leituras de sua obra, nacional e internacionalmente. Nomes como os dos também poetas Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Ana Cristina Cesar, Hilda Hilst e Maria Firmina dos Reis, e agora Paulo Leminski, contribuem para a construção de uma programação plural, em torno da literatura e das artes integradas, ocupando os espaços públicos de Paraty durante os cinco dias da Festa. A vida e a obra do autor escolhido são tratadas com maior profundidade durante o Ciclo do Autor Homenageado, que antecede a Festa.

Leminski foi um artista múltiplo. Autor de Catatau, uma das grandes invenções na prosa brasileira do século 20, foi um tradutor criativo, biógrafo erudito capaz de fazer perfis de nomes que iam de Trotski a Bashô, judoca faixa preta, publicitário e músico. Com todo esse currículo, ou justamente por conta dele, Paulo Leminski foi, antes de tudo, um poeta.

Curitiba ficou pequena para Paulo Leminski

Gênio inquieto para quem sua cidade natal, Curitiba, logo ficou pequena, o autor tratou de expandir seu círculo de amigos, numa época em que a internet era um sonho distante. Foi por cartas, viagens precárias e longos telefonemas que Leminski, a partir de sua casa no bucólico bairro do Pilarzinho, na capital paranaense, fez-se essa presença tão fundamental na cultura brasileira, seja pelo trabalho editorial junto à editora Brasiliense, seja em parcerias com os músicos mais populares do país, como Caetano Veloso, Moraes Moreira, Jorge Mautner, Guilherme Arantes e Itamar Assumpção.

“A poesia é uma expressão muito cara ao Brasil, país que tem uma relação tão íntima com a música, e o Leminski é uma espécie de embaixador dessa relação, por sua compreensão profunda de que a poesia e a música se misturam para comunicar melhor. Além disso, sua produção em prosa e em textos críticos é fundamental para entender um contexto da produção literária brasileira, que passa pelo concretismo, tão importante na nossa poesia, mas também por um processo de multiplicação, com a poesia marginal, a autopublicação e a democratização literária como um todo”, conta a curadora literária Ana Lima Cecilio sobre o autor escolhido para a homenagem da Flip 2025.

Paulo Leminski deixou ao Brasil um legado que vai muito além da sua própria obra. Ele inaugurou um modo de encarar a literatura e a poesia que extrapola os espaços tradicionalmente restritos a elas. Compreendeu profundamente que a erudição tem mais valor quando ela vai até as pessoas.

Paulo Leminski estará presente nas ruas de Paraty

“Paulo Leminski estará presente nas ruas de Paraty enquanto a cidade é ativada por uma festa em torno da literatura e das artes. A partir da escrita, Leminski foi um artista dedicado a criar maneiras de transbordar os suportes convencionais, que pensava a linguagem para que seus textos pudessem extrapolar as formas preestabelecidas – para que assim circulassem e chegassem àqueles ainda estranhos ao convívio com a poesia. A partir do gesto de tirar as coisas de lugar, é como se ele nos fizesse a pergunta: por que a literatura e as artes não estão mais presentes na vida das pessoas? A partir desse mesmo gesto, Leminski nos ensinou tantas vezes, em haicais e em refrões, que a utilidade da arte é ser arte em primeiro lugar, que a poesia, enquanto linguagem, é infalível em ampliar as fronteiras da nossa imaginação. Há um talento único em Leminski ao criar condições para receber o inesperado, sendo ele um mestre em criar deslocamentos que fazem da arte algo inevitável. Por isso Leminski pensava em formas de fazer literatura a partir da cidade, já a Flip, a seu modo, a partir de um desejo sinérgico, pensa em formas de fazer cidades a partir da literatura em seu campo expandido. Na companhia de Leminski, a 23ª Flip será mais uma vez uma experiência na qual as pessoas poderão viver, ao menos por alguns dias, a utopia na qual a cidade é invadida pela literatura, que transforma a experiência urbana coletiva”, afirma Mauro Munhoz, diretor artístico da Flip.

A homenagem a Paulo Leminski é um resgate da atitude de generosidade do artista, a generosidade que nasce do reconhecimento profundo de que a função da arte é chegar nas pessoas, é provocar a reflexão, é armar os leitores com senso crítico, humor e perspicácia.

Direção artística


Mauro Munhoz é arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e mestre pela mesma escola, na área de Estruturas Ambientais Urbanas. Sua dissertação – Revitalização urbana sustentável de Paraty a partir de seus espaços públicos de borda d’água – levou à fundação da Associação Casa Azul, atuante nas áreas de arquitetura, urbanismo, educação e cultura. É diretor artístico do Programa Principal da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), da qual foi um dos fundadores. Em 2012, ganhou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), na categoria Urbanidades, pela requalificação da praça da Matriz de Paraty. Assinou sua primeira obra pública em 2008: o Museu do Futebol, em São Paulo, que lhe valeu o prêmio do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) na categoria Restauro e Requalificação.

Curadoria literária


Ana Lima Cecilio é formada em Filosofia pela USP. Trabalhando há 20 anos no meio editorial, foi editora da Carambaia e do selo Biblioteca Azul, da Globo Livros, onde foi responsável por trazer ao Brasil importantes autores, como Elena Ferrante, que virou febre entre os brasileiros. Publica, semanalmente, a newsletter A Lábia com dicas de livros. Foi curadora da 22ª Flip, em 2024.

Sobre a Flip


A Flip, que teve sua primeira edição em 2003, emergiu de um longo processo iniciado em 1993. Foi reconhecida como Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial da Cidade de Paraty, e Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro. Os encontros promovidos nos cinco dias de festa são parte essencial de uma manifestação cultural muito mais ampla, fruto de uma relação que atravessa as ruas da cidade de Paraty em todos os meses do ano.

Contemplada com os prêmios APCA 2011 na categoria Urbanidade, e Faz Diferença, pelo jornal O Globo, em 2023, na categoria Livros, a Festa, que a cada ano atrai um público mais amplo e diverso, reúne personalidades do mundo da cultura e da literatura para conversas e outras atividades, além de promover ações de incentivo à leitura e à formação de novos leitores com um programa educativo para crianças e jovens ao longo de todo o ano, que culmina na celebração da Flipinha e FlipZona.

A cada ano, um projeto artístico, arquitetônico e urbanístico é elaborado para promover um novo encontro com o território do qual emerge. A literatura é ferramenta para criar pontes entre diversas formas de arte e conhecimento para apresentar novas possibilidades de ocupação dos espaços públicos, com cultura e educação. A Flip é um projeto realizado pelo Ministério da Cultura e Governo Federal e pela Associação Casa Azul, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.