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Coral Llista Trans. Foto: Joyce Firszt

O coral Llista Trans, criado e regido por Manu Santos, é uma iniciativa que visa quebrar barreiras e ressignificar a representação das vozes trans em corais. Com inscrições previstas para fevereiro, o coral busca dar visibilidade e espaço às pessoas trans, travestis, transgêneros e não-binárias, destacando a importância da cidadania e das vozes silenciadas no contexto da música.

Tradicionalmente, os corais dividem as vozes em naipes – baixo, tenor, contralto e soprano – com a classificação de vozes graves sendo associada ao gênero masculino e as vozes agudas ao feminino. Essa definição vocálica, fortemente vinculada ao gênero, acaba sendo um desafio para pessoas com vozes que não se encaixam nesses padrões, especialmente para aqueles que, como Manu Santos, são trans e possuem uma voz grave.

“Não há necessidade de colocar gênero nesses sons. A insegurança entre a voz e a identidade é algo muito forte”, compartilha Manu, refletindo sobre suas próprias experiências como mulher trans em corais tradicionais, onde sua voz grave era geralmente associada ao naipe masculino.

A partir dessa reflexão, Manu criou o Llista Trans, um coral composto por mais de 30 pessoas trans em Curitiba. O grupo realiza ensaios semanais no Departamento de Artes da UFPR, com o apoio de estudantes da UFPR e UTFPR. A ação é realizada em parceria com o projeto de extensão Laboratório de Práticas e Ensino de Canto (Labvox), coordenado pela docente Viviane Kubo.

A proposta pedagógica do coral é única e desafiadora. Criar estratégias de ensino para pessoas trans, muitas com pouca experiência musical, envolve sensibilidade e atenção às diversas individualidades, como os desafios sociais, econômicos e emocionais enfrentados durante o processo de transição de cada participante.

Viviane Kubo, coordenadora do Labvox, explica que, além da complexidade de adaptar o repertório, a reflexão sobre a experiência vivida pela comunidade LGBTQIAPN+ também se reflete nas escolhas musicais. O repertório do coral inclui músicas que falam sobre transfobia, racismo, intolerância religiosa e capacitismo, temas centrais para a vivência e a luta das pessoas trans.

Com a proposta de criar um espaço seguro e acolhedor, o coral Llista Trans não só oferece uma oportunidade para as vozes trans se expressarem musicalmente, mas também se torna um importante espaço de afirmação de identidade e cidadania para essa comunidade.

Llista Trans é, assim, mais do que um coral: é um movimento artístico e social que reforça o poder da música como forma de resistência e visibilidade, especialmente no 29 de janeiro, data que destaca a cidadania e os direitos das pessoas trans, travestis e não-binárias.