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Quarentena copia o espanhol REC

A sensação de já-vi-isso-antes ao ver o filme americano Quarentena será inevitável para quem assistiu ao espanhol REC

Jones Rossi/Agência Estado

A sensação de já-vi-isso-antes ao ver o filme americano Quarentena será inevitável para quem assistiu ao espanhol REC. Quarentena é uma refilmagem que copia quase quadro a quadro o filme espanhol, com direito a diálogos reproduzidos integralmente. Até o nome da protagonista, Angela Vidal, permaneceu inalterado. Tanto a versão espanhola quanto a americana são um prodígio de finanças. Os espanhóis gastaram 1,5 milhão de euros – equivalente R$ 4,5 milhões – para fazer REC, e os produtores americanos fizeram Quarentena com R$ 12 milhões, valores baixíssimos para os padrões atuais. Um dos motivos do baixo custo é o enredo.

Contam a história da repórter Angela Vidal, que apresenta um programa sobre a rotina de quem trabalha de madrugada. Quando vai a um quartel de bombeiros para segui-los em uma ocorrência, fica presa com eles em um prédio no qual as pessoas apresentam estranhos sintomas, estão sujas de sangue e aparentemente não têm consciência do que fazem, quase como zumbis. Quem fecha o prédio, sem maiores explicações, é o próprio governo, para desespero de quem ficou dentro.
Aí mora a esperteza dos espanhóis. Como se fosse uma reportagem, a história é filmada por apenas uma câmera, sem  grande estrutura de produção, efeitos especiais e mudanças de ângulo. Quem conduz os olhos do espectador é o “cameraman”. Por isso, há várias cenas em que a imagem fica fora de foco ou é escura. Os cortes são apenas temporais. O restante é filmado em plano sequência. Com um orçamento que mal pagaria metade do cachê de Nicole Kidman no épico Austrália, Quarentena não foi fenômeno de bilheteria, mas os US$31 milhões arrecadados nos EUA equivalem a três vezes o valor investido na produção. Este é o segredo dos produtores, Roy Lee e Doug Davidson. A fórmula consiste em pegar um filme de terror estrangeiro, manter a história e apenas trocar os atores por americanos, de preferência que recebam cachês reduzidos. No caso, a bela Manuela Velasco deu lugar à atriz Jennifer Carpenter. Os dois se tornaram notórios ao buscar na Ásia filmes de terror  e lançarem versões com atores ocidentais. Como em uma linha de produção, os filmes são fabricados em série. Quarentena ficou pronto em apenas três meses, já que não foram feitas muitas mudanças. “Eles seguiram o original porque era muito eficiente e não queriam reinventá-lo”, disse o produtor Lee, sobre o trabalho dos diretores da versão americana, os irmãos John e Dre Dowdle. E assim nasce mais um clone made in Hollywood.