Segue a entrevista da escritora  Zoë Heller.

AGÊNCIA ESTADO — A relação entre uma mulher madura e um menino pode ser escandalosa em Washington ou Londres, mas os códigos morais variam de região para região. Em países mais pobres, eles tendem a ser mais flexíveis. O que a intrigava mais no caso Le Tourneau?
ZOË HELLER — O desejo de defender a família nuclear é apenas um aspecto da questão e não fornece resposta para a rejeição a esse tipo de relacionamento por sociedades como a americana. Na maioria das sociedades industriais, as pessoas permanecem oficialmente “crianças” além do que deveriam, em comparação a outras partes do mundo. Na América, ou na Inglaterra, um garoto de 15 anos que atingiu a puberdade ainda é visto como menor, vulnerável à exploração sexual ou de outra natureza. Prestei muita atenção ao caso Le Tourneau quando comecei a escrever o livro e alguns elementos de sua história aparecem de fato no livro, embora não possa dizer que ela seja a inspiração dele. Meu principal interesse era a relação entre as duas mulheres, Bárbara e Sheba.

AE — Suas personagens femininas, conservadas suas diferenças, parecem simpáticas, mas a caracterização do personagem masculino Willy, em Everything You Know, é um sórdido anti-herói. Por que você escolheu um tipo tão antipático em seu livro de estréia?
ZOË — Tenho de discordar. Não acho que Sheba desperte alguma simpatia ou que Willy seja sórdido. Ambos são complicados, moralmente ambíguos. Willy pode ser um misantropo, mas é também engraçado, autocrítico e agudo em suas observações. Eu realmente o amo. Quanto a Katie, tinha apenas 20 anos quando escrevi o roteiro do filme e, como não a criei, já que foi uma invenção do diretor, não posso falar sobre ela.

AE — Resenhistas respeitáveis como Edmund White colocam você no mesmo panteão de Ian McEwan e Martin Amis. Qual é sua relação com a literatura desses dois autores e o tema de seu próximo livro?
ZOË — Gosto de ambos. Considero o livro de Amis, Dinheiro, uma obra-prima. De McEwan, meu favorito é Reparação. Fiquei extremamente orgulhosa de ter sido comparada a esses dois grandes autores. Quanto ao meu próximo livro, ele se chama The Believers e é sobre uma família nova-iorquina.