A sorte cruzou com uma banda de Curitiba que teve um empurrão fora do convencional. Surgiu de uma proposta feita aos músicos Rodrigo Ribeiro (vocal), Álvaro Larsen (vocal) e André Spinardi (violão) para compor uma música para a trilha sonora do filme Sobbreviver, de David Pimental. O primeiro encontro entre todos os músicos que viriam a formar a Real Coletivo Dub se deu em uma passagem de som na antiga casa noturna Zoe. “De cara apareceu uma afinidade muito grande. Quando nos encontramos novamente , a noite, já parecia que éramos velhos amigos”, comenta o percussionista Thiago Senden, que era da Grande Roda de Tambores, que dividiu o palco naquela noite com a banda de Ribeiro, Larsen e Spinardi, Zacempre. O trio recrutou para a gravação os parceiros daquela noite : Felipe Boquinha (bateria), Cassiano Zambonin (baixo), Rogê Du Cerrado (percussão), além de Senden.
A música para a o filme – que trata da vida dos bodyboards – ganhou o nome do documentário e foi a primeira composição da nova banda curitibana, em 2005. Quando o filme saiu começaram as perguntas de quando o Real Coletivo Dub tocaria – o que os impulsionou a encarar seriamente a questão. Menos de um ano depois, subiram ao palco junto com B. Negão, Dazaranha e Nação Zumbi, também escalados para a trilha. Tudo então passou rápido e, de repente, estavam às voltas com o primeiro CD, homônimo, sendo produzido por Xandão o guitarrista d’O Rappa.
Produção do CD — Um time de peso participou do processo de gravação do álbum, que no encarte dá os créditos a Xandão como produtor, Ricardo Vidal e Tom Sabóia responsáveis pela mixagem e Mauro Bianchi pela masterização. Ao contrário do que muita gente pensou, conta Rodrigo, o caminho para chegar a eles foi aberto por coincidência – e não por um “ bater na porta pedindo para eles gravarem”. Boquinha morava no mesmo prédio que o guitarrista do Rappa, e a sua mulher acabou amiga da esposa de Xandão. Com muita insistência mostrou o trabalho do Real, que até então estava com uma demo gravada no fundo do quintal da casa de um amigo. O sinal positivo foi dado assim: “Quero produzir vocês e só vai sair daqui quando estiver legal o som”. Começaram então as gravações no estúdio Caroço, do guitarrista, em Curitiba.
Coincidentemente o banda estava entrando em férias, o que deu mais tempo para o produtor junto da banda paranaense. Vidal, por sua vez, há um bom tempo queria mixar um disco da banda carioca e nessa “o Xandão incluiu a gente no pacote”, afirma Senden, contando sobre a condição proposta ao catarinense para trabalhar com o Rappa. “Senti que foram 15 anos de trabalho em uma tarde que você pode sentar do lado de um cara que é super interessante, e ouvir. Aquilo não tem preço”, exclama o vocalista .
Nos novos tempos, quando qualquer um tendo um computador, um microfone mais ou menos e um bom software é capaz de fazer a sua própria produção, a figura do produtor ficou de lado. “Você grava um CD dentro da sua casa. Isso facilitou muito, mas a chance de você fazer um disco mais ou menos é muito grande”, afirma Ribeiro. Gravar, produzir e divulgar-se tornou comum no meio independente, afinal as gravadoras já não tem mais, também, a mesma importância, com a internet fazendo o meio de campo. Mas a turma curitibana valorizou seu produtor. A ponto de ele sentir falta deles em outros trabalhos. Rodrigo conta sobre um dia em que receberam um radio de Vidal às voltas com um artista sem a mesma disposição para ouvir que os curitibanos. “Que saudades do real Coletivo, uma galera que ouve o que a gente fala”.
Curitiba — Desde 1998, Rodrigo circula pela cena independente de Curitiba e acompanhou a pratica do filosofia punk “do It Yourself” em bandas como Sarnentos, Bagaceira, Mothafuckyou e Pelebrói Não Sei?. “Vejo rock muito forte aqui. Mas olhando bem, uma cena mesmo, não existe. Tem pessoas se movimentando”, argumenta. Nostálgico, relembra a antiga casa de shows Aeroanta, tempo em que “o pessoal ia para uma noitada sem a preocupação com que banda tocaria”. “A galera ia porque sabia que ia ouvir uma boa música. Hoje parece que as pessoas têm medo de sair. Acho que a cidade perdeu um pouco de sua movimentação . Mas, é possível reverter a atual situação e difundir mais a cultura sonora das centenas de bandas que se escondem Curitiba adentro”, observa. “Não é um trabalho fácil e ás vezes a galera acaba ficando parado e caindo na mesmice de fazer um ou dois shows por mês e achar que isso é a realidade de ser músico independente”, considera. Sua receita para “tornar a cena ativa” é “formar uma corrente mesclada, para juntos conseguirem um público maior e sem limitações, capaz de escutar de sertanejo a rock”.
Samba Ombrofilo Misto — Certamente você está se perguntando que estilo de música é esse. O Real Coletivo Dub criou um nome peculizar – Samba Ombrofilo Misto – para justificar o som que produz após serem indagados milhares de vezes sobre a qual gênero musical pertenciam. Também para se livrar de algum estereótipo em que a banda poderia ser enquadrada. “Samba vem para definir a ginga que se encontra até no rock. Ombrofila mista é como são chamadas as florestas do Pinheiro do Paraná que integram a Mata Atlântica do Estado, sendo assim uma alusão ao fato de ser uma árvore tradicional da região. Meu sonho é ver nas prateleiras escrito Samba Ombrofilo Misto, definindo o estilo musical daqui”, diz Rodrigo.