Insignificancia_João Caldas
Em “Insignificância”, Marcos Veras interpreta Joe DiMaggio, ex-marido de Marilyn Monroe. (Foto: João Caldas)

Nos dias 25 e 26 de janeiro, Curitiba recebe um peça que traz uma proposta hipotética: e se a atriz Marilyn Monroe, o cientista Albert Einstein, o atleta Joe DiMaggio e o político Joe McCarthy se encontrassem em um quarto de hotel em Nova Iorque em 1953? Neste fim de semana, é possível assistir ao resultado desse encontro em “Insignificância – Uma Comédia Relativa”.

Com texto do dramaturgo inglês Terry Johnson, a peça desenvolve uma reflexão através do riso, sobre questões como fama, poder, política e a insignificância da existência humana perante o universo. A peça será apresentada no Teatro Fernanda Montenegro e a venda dos ingressos acontece tanto pelo Disk Ingressos quanto pela bilheteria do teatro.

Sob a direção de Victor Garcia Peralta, o elenco conta com Cássio Scapin, Amanda Acosta, Norival Rizzo e Marcos Veras, este que cedeu uma entrevista exclusiva ao Bem Paraná. Confira a entrevista na íntegra aqui.

Bem Paraná – Marcos, vamos começar do começo: qual é o ponto de partida de “Insignificância”? Pode nos dar uma sinopse?

Marcos Veras – Claro, “Insignificância” é uma comédia, o subtítulo dela é “uma comédia relativa”, porque ela faz rir, mas ela também faz refletir sobre os nossos comportamentos e sobre o mundo moderno, os dias de hoje. É um encontro de quatro figuras emblemáticas dos anos 1950 nos Estados Unidos: a Marilyn Monroe, o seu marido, Joe DiMaggio, que era um grande ídolo do beisebol, o senador dos Estados Unidos, Joe McCarthy, e o Albert Einstein. Então, é um encontro hipotético, fictício, onde não é usado o nome dessas figuras justamente para mostrar a atualidade desses personagens. É um texto escrito em 1983, que se passa em 1953 num quarto de hotel em Nova Iorque.

Ele conversa muito com os dias atuais, porque ele fala de fama, poder, política e quais são os benefícios e os estragos que isso pode fazer em nossas vidas. Então, é uma comédia que te pega aos poucos. Você vai embarcando naquela viagem, naqueles diálogos, naquelas relações, e no final você está impactado com o que viu, porque é uma peça também muito bonita visualmente, um cenário lindo, uma trilha linda e figurinos lindos.

BP – Você já tinha interesse pelo trabalho do Terry Johnson? Chegou a assistir a adaptação para cinema de 1985? Ou “Histeria”, a peça do escritor inglês dirigida por Jô Soares?

Marcos – Eu confesso que antes do “Histeria”, eu não conhecia o Terry Johnson. Através do Rodrigo Velloni, que é o produtor do espetáculo, eu assisti a “Histeria” com a direção do Jô Soares em São Paulo, e é muito interessante ver como esse autor, nesse caso, usou um encontro que existiu entre Sigmund Freud e Salvador Dalí. Muita gente pergunta se esse encontro de Marilyn e Einstein aconteceu, então a cabeça do autor é uma cabeça muito doida também, no melhor sentido da palavra, mas esse encontro não existiu, esse sim é hipotético. Então, eu conheci ele através do Rodrigo Velloni e gosto muito dele usar figuras históricas, conhecidas, para falar dos dias de hoje, provando que a gente mudou muito pouco também em alguns setores da sociedade.

BP – E, até então, qual era a sua relação com o personagem que você interpreta, o jogador de beisebol Joe DiMaggio?

Marcos – Eu sempre ouvi falar dele através de uma forma muito ampla, sabe? De uma forma rasa, até. E, curiosamente, quando eu fui chamado para fazer esse personagem, percebi que há poucos registros sobre o Joe DiMaggio. Os poucos registros sempre falam meio que a mesma coisa: um grande ídolo do beisebol, um cara que bateu recordes. Quando você vai pesquisar histórias dele com a Marilyn, a gente esbarra com um relacionamento conturbado, um dos grandes amores da Marilyn. Então, assim, tem poucos registros, mas poucos e bons registros para a construção desse personagem.

O Joe DiMaggio, além de ser um ídolo do esporte, ele era um cara branco e era um cara bronco. Ele era um cara de pouca intelectualidade, casado naquele momento, onde ele estava se aposentando, entrando no ostracismo, ao contrário da Marilyn, que estava em plena ascensão. Então, esse homem não soube lidar. Apesar de ser difícil, a Marilyn também não era fácil, diga-se de passagem. Esse homem não soube lidar com esse canhão de audiência e de assédio em cima da Marilyn.

Um homem apaixonado, leia-se, fica um pouco cego também. Então, ele não soube lidar com muitos setores da vida da Marilyn. A fama da Marilyn, a falta da fama dele, que estava decaindo. Uma conjunção de fatores que deixou esse homem um pouco cego a ponto dele ter agredido ela. Após aquela noite da cena no metrô que a saia dela levanta, essa cena emblemática, foi a única vez que ele bateu nela. E é um homem que passou a vida inteira levando flores ao túmulo dela. Depois da morte dela, ele pediu o corpo dela pra ser enterrado e todos os meses ele ia lá levar flores pra ela até o final da vida. Ele viveu, se não me engano, até os oitenta e poucos anos. Então, foi uma paixão real, um amor bonito, porém questionável e tóxico também.

BP –  E, para você, como esse homem, produto dos anos 1950, conversa com os homens de 2025?

Marcos – Olha, para não generalizar, eu acho que comparado aos anos 1950, hoje a gente discute mais sobre machismo, feminismo, feminicídio e conservadorismo. Hoje, esses assuntos estão mais na mesa, isso eu estou falando dos homens mais atentos, eu estou falando de homens da minha geração para baixo. Eu estou com 40 anos, então acho que a molecada de 20 a 25 já está se falando um pouco mais disso e os homens da minha geração também. Eu acho que a gente caminhou pouco, porém caminhou. Então, a gente tem duas opções, comemorar esse pouco caminho, porém é um caminho.

O homem dos anos 1950, no caso do Joe DiMaggio, entre outros, conversam com o mundo atual nesse lugar, porque a gente ainda vê homens violentos, homens machistas, homens que não sabem lidar com a ascensão profissional, pessoal, amorosa, sexual, física, da própria mulher ou de uma colega de trabalho.

BP – O título é “Insignificância”, mas neste quarto de hotel, temos figuras que não são nada insignificantes tanto para o cinema e esporte, quanto para a ciência e política. Como esse título conversa com a proposta da peça?

Marcos – O autor usa quatro figuras que são importantes, mas que no meio do universo não são nada importantes. Todo mundo vai morrer, todo mundo passa por essa vida, famoso, não famoso, ganhando dinheiro, não ganhando dinheiro, sofrendo, não sofrendo. Então, eu acho que ele mostra a insignificância de cada um de nós, mas principalmente a insignificância de cada um de nós diante do universo. O Einstein tem um diálogo com a Marylin e eles falam, qual é o segredo do universo? Será que a Marylin se sente tão importante e talvez ela seja tão importante quanto as pessoas acham que ela é? Será que o Joe DiMaggio é um cara superior a outros homens e esportistas? Superior à própria mulher?

Então, eu acho que ele coloca todo mundo no mesmo balaio, mostrando a insignificância de todos nós perante a natureza, o universo e a criação do mundo. Nós somos pequenas partículas, né? O texto usa o humor e a comédia para cutucar esse lugar e isso é muito bonito de ver na plateia, porque a plateia sai falando que nem pegou o celular pra filmar os aplausos, que é uma característica das pessoas. Eu recebi muitos relatos de gente falando que não tocou no celular em nenhum momento. Quando eu escuto isso, eu falo: “Caramba, o teatro aconteceu”.

BP – Marcos, você como figura pública e que precisa lidar com a fama nos dias de hoje se relacionou com o texto/seu personagem de alguma forma?

Marcos – Olha, você imagina, nessa época nem rede social tinha, nem celular tinha, então as celebridades, os famosos eram celebridades raiz, tinham que ter batido recordes. Então, é uma época que a Marilyn fez muito filme, trabalhou e ralou. O Joe DiMaggio também. O Albert Einstein estava fazendo os cálculos dele pra teoria da relatividade, então, era resultado de muito trabalho. Não que isso hoje não aconteça, mas hoje está potencializado por esse aparelhinho que estamos falando aqui: o celular.

O celular democratizou a fama, democratizou a arte, o trabalho, mas também democratizou muita coisa rasa e muita coisa nociva. Particularmente, eu lido muito bem com isso, porque eu não sou de família rica, eu não tenho padrinho artístico, tudo é muito fruto de trabalho, disciplina e pé no chão. Eu entendo, porque a profissão do artista é vender sonhos, a gente conta histórias, a gente faz rir, a gente emociona, eu entendo isso, mas eu, Marcos, eu sou muito pé no chão. Eu tenho que acordar todos os dias pra trabalhar e não me sentir superior a ninguém, não me acho mais importante do que ninguém, me acho insignificante, assim como todos nós.

BP – Neste fim de semana a peça chega em Curitiba. Eu queria saber um pouquinho da sua relação com a cidade, costumam passar por aqui? Gosta? Já tem os lugares favoritos?

Marcos – Eu tenho memórias lindas de Curitiba. Primeiro, porque eu tenho alguns amigos. Eu tenho muitos amigos que nasceram aí, que são artistas, meus colegas: Katiuscia Canoro, Guilherme Weber, Alexandre Nero, Fabíula Nascimento. Então, eu tenho muito carinho pela cultura de Curitiba. O Festival de Curitiba que eu já tive o prazer de participar é um festival que é muito importante pro Brasil.

Come-se muito bem em Curitiba, tenho essa memória de comer muito bem em Curitiba, e um dos filmes mais importantes da minha carreira, “O Filho Eterno”, foi filmado em Curitiba. Então, eu morei em Curitiba um mês e meio, vivi aí num apartamento e filmei durante seis semanas, ao lado da Débora Falabella, com o Pedro Vinícius, que tem síndrome de Down e com um elenco também muito local. Eu tenho muito carinho por Curitiba, porque um dos filmes mais importantes da minha vida foi rodado nessa cidade.

BP – Por último, você poderia deixar um convite para os nossos leitores? Por que eles deveriam garantir um quarto nesse hotel?

Marcos – Há muito tempo eu não vou a Curitiba, mas é uma única oportunidade de vocês assistirem uma comédia muito bonita visualmente, muito atual, muito chique, muito popular, tudo junto e misturado comigo, Amanda Costa, Norival Rizzo e Cássio Scapin, com a direção de  Victor Garcia Peralta, no Teatro Fernanda Montenegro, sábado às 20h e domingo às 18h, um pouco mais cedo, dá pra jantar depois, dormir mais cedo pra trabalhar segunda. Serão somente duas apresentações, “Insignificância” neste final de semana no Teatro Fernanda Montenegro. Os ingressos estão à venda no Disk Ingressos ou na bilheteria do teatro.

Serviço – “Insignificância – Uma Comédia Relativa

Quando:  25 de janeiro, às 21h / 26 de janeiro, às 18h

Onde: Teatro Fernanda Montenegro (R. Cel. Dulcídio, 517 – Batel – shopping Novo Batel)

Duração: 100 minutos

Classificação etária: 16 anos

Quanto: Ingressos na modalidade popular a partir de R$ 40 a inteira e R$ 20 a meia-entrada

Vendas: Ingressos disponíveis em diskingressos.com.br