Volpi: um pintor que se fez à margem do mercado das artes

MON abriga a partir de amanhã a primeira individual deste que é um dos principais artistas brasileiros do século 20

Adriane Perin

Com 117 obras, o crítico de arte e curador Olívio Tavares de Araújo oferece aos curitibanos uma visão completa da trajetória artística de um dos mais interessantes artistas brasileiros – listado entre os cinco melhores pintores brasileiros do século 20 -, Alfredo Volpi.  A exposição Volpi –O mestre de sua época será aberta amanhã, no Museu Oscar Niemeyer, e é a primeira individual dele na cidade.  A mostra foi organizada de forma a ser uma retrospectiva de Volpi (1896-1988), com um recorte que pega meio século de sua produção, desde o final de 1920 até 1970. Olívio conheceu o artista quando foi convidado a trabalhar em um filme sobre o artista – e se tranformou em um especialista. Ser curador, acredita, é “conseguir unir critérios subjetivos e objetivos, que resultam de uma série de eventos artísticos que se refletem na formação do valor da obra”.  “Não se trata de escolher só as principais peças, mas combinar critérios subjetivos que compõem a obra. Uma obra é, também, a reação individual que é capaz de suscitar. Essa interação faz parte de sua qualidade e não só as questões técnicas. Curadoria como exercício combinado de sensibilidade e informação. E é tão excitante, estimulante que nem se percebe a dificuldade”. Hoje em dia, Volpi é um unanimidade, mas nem sempre foi assim para o imigrante italiano, autodidata, que fazia pinturas decorativas na parede, quando a Semana de Arte Moderna varreu as artes brasileiras, colocando seu grupo em destaque nas décadas seguintes. Enquanto isso, Volpi, um contemporâneo dessa turma abastada que teve acesso a informações e obras de vanguarda mundial, seguia sua vidinha despretenciosa de pintor de paredes, situação que só foi mudar na década de 50. Foi na Bienal de São Paulo de 1954 que ele dividiu o prêmio de melhor pintor brasileiro com Di Cavalcanti e foi para as manchetes de jornal. Volpi tinha 58 anos. “Volpi não teorizava sua arte, ele percebia. O que outros famosos fizeram  a partir de um ângulo conceitual, ele fez  intuitivamente”. A postura humilde do artista geraram o reconhecimento tardio.   “Se algum dia ele entrou em alguma das tertúlias dos modernistas  foi para decorar as paredes do ambiente, mas ele nasceu no mesmo ano de Anita Malfati. Só que fez uma trajetória absolutamente marginal. Hoje é inadmissível um artista de 25 anos não ter uma individual. A de Volpi foi com mais  de 45 anos. E só apareceu em grande estilo com o prêmio da Bienal”, explica o curador, emendando que a comenda só foi entregue porque um jurado, Herber Reat, não concordou em entregar para Di Cavalcanti. “ Mas, a Bienal era um evento de vanguarda e tinha que compor com os moderninstas e o jeito brasileiro foi dividir o prêmio”, conta.

Serviço
Volpi –O mestre de sua época. Abertura: dia 29. Até 30/09.  R$4 e R$2. Museu Oscar Niemeyer
(R. Marechal Hermes, 999). Informações:  (41) 3350-4400