Zumbis parecem um tema batido. Como diferenciá-lo no mercado de entretenimento? O escritor Rodrigo de Oliveira achou uma maneira: dando a eles uma origem cientificamente explicável. Nada de zumbis que simplesmente surgem do nada. Na série literária que se inicia com o recém-lançado O Vale dos Mortos, ele crava que dois terços da população mundial se transforma em morto-vivo por causa de um planeta em rota de colisão com a Terra – o que cumpre uma profecia do Apocalipse, da Bíblia. “Então 2/3 de todas as pessoas no Planeta são acometidas por uma estranha doença… E abriu-se o poço do abismo, de onde saíram seres como gafanhotos com poderes de escorpiões. E os homens buscarão a morte e a morte fugirá deles”, diz a profecia. Na prática, é isso que transforma a população em zumbi. E é uma ocorrência global. Não há lugar seguro. 

Oliveira, que trabalha como gestor de tecnologia da informação, desenvolve uma obra com referências de clássicos de terror, em especial os de George Romero. Tudo começou com um pesadelo, como ele mesmo relata ao Bem Paraná.

Como você concebeu a série que se inicia com O Vale dos Mortos?
Rodrigo de Oliveira — Após um pesadelo, fiquei com a ideia do livro durante semanas na cabeça. Depois eu li uma entrevista do André Vianco que dizia que se você está com uma ideia na cabeça da qual não consegue se livrar, então está na hora de transformá-la num livro. Aquilo foi revelador, eu me dei conta que eu tinha que passar tudo aquilo para o papel. Após isso, fiquei um ano pesquisando material para a obra, sobretudo a questão da origem dos zumbis, que era um imenso desafio, pois eu queria criar algo original.

A série prevê cinco livros. Você já os escreveu? Pode dizer quais são os nomes dos próximos volumes?
Oliveira — Estou escrevendo agora o terceiro livro da série. O segundo volume se chama A Batalha dos Mortos. Depois virão A Senhora dos Mortos, A Ilha dos Mortos e, por fim, A Era dos Mortos.

Os cinco livros são sequenciais (como os de Harry Potter, por exemplo) ou são independentes entre si (como os de Sherlock Holmes)?
Oliveira — Os livros são sequenciais, será importante ler a série seguindo a ordem correta para garantir um bom entendimento da trama.

Qual é o tom dos livros?
Oliveira — Gosto de pensar que no fundo trata-se de uma história de amor. O amor de um homem e de uma mulher, de pais pelos seus filhos e assim por diante. Mas também trato de assuntos como liderança, trabalho em equipe e solidariedade. É no fundo um livro com uma mensagem muito positiva, e acho que esse tom é o que mais agrada os leitores. Mas sem dúvida temos algumas passagens muito engraçadas, eu não resisto a uma boa piada (risos)!

Zumbis são um tema tipicamente americano. Como fazê-lo pegar no Brasil?
Oliveira — Eu entendo que é um tema universal, porém tivemos um predomínio de obras americanas explorando esse tema. Mas isso está mudando com obras como as do espanhol Manel Loureiro ou mesmo o filme cubano Juan de los Muertos. No meu caso em particular, explorei ao máximo cenários tipicamente brasileiros, citando cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e claro, São José dos Campos, onde a maior parte da trama se desenrola. Trazer esses elementos tão familiares a todos nós nos aproxima do contexto da história, torna mais plausível.

Em geral, os zumbis simplesmente surgem e ponto, sem muitas explicações. Mas os do seu livro têm um conceito diferente: há relação com a história que envolvia uma profecia do Apocalipse e o planeta que passa muito próximo da órbita da Terra. Seria um diferencial?
Oliveira — Sem dúvida é um diferencial. Eu queria trazer algo completamente novo, não via sentido em escrever algo idêntico ao que já havia sido feito. Em geral temos as histórias sem explicação aparente, zumbis criados por vírus ou experiências de laboratório mal-sucedidas conduzidas por pessoas inescrupulosas. Eu queria fugir disso, por isso pesquisei diversos tipos de fenômenos até encontrar a teoria do planeta desgarrado no nosso sistema solar, citada de uma forma bastante alegórica na Bíblia e de um jeito bem mais contundente por diversos estudiosos. A partir desse fio condutor, construí uma explicação completamente nova, que tem agradado bastante os leitores.

Afinal, qual é a proporção da população que vira zumbi?
Oliveira — A grosso modo temos falado em 2/3 terços da população, apesar de eu assumir em algumas passagens que esse número variou de lugar para lugar, tanto para mais quanto para menos.

O problema da transformação em zumbis é global. No livro, você trata disso globalmente ou relata apenas algumas poucas localidades?
Oliveira — Eu dou um enfoque maior numa região específica, bem brasileira, mas mostro rapidamente a crise explodindo em diversos lugares como Brasília, Washington DC, Paris e Pequim, para assim deixar claro que a crise é global e incontrolável.

Há uma cena em que a presidente Dilma Rousseff se vê em apuros porque todos à sua volta viraram zumbis, inclusive o ex-presidente Lula…
Oliveira — Algumas pessoas têm atribuído um caráter político a essa passagem, mas na prática não foi minha intenção. Um dos pontos cruciais em histórias como essa, ao meu ver, é deixar claro como aconteceu a perda de comando, onde uma nação deixa de ter seus líderes e mergulha na anarquia. Portanto, mostrar presidentes sucumbindo à praga era um ponto fundamental. Tanto que eu também mostro o apocalipse zumbi do ponto de vista do presidente americano e do presidente chinês.

Daria para dizer, maldosamente, que Dilma não vira zumbi porque ela já é um zumbi?
Oliveira — (Risos) Não, eu achei que ganharia um tom muito mais dramático mostrando-a como alguém que não se transformou em zumbi, para depois se transformar em mais uma vítima dessas criaturas. Explorar este momento revelador, onde a pessoa mais poderosa de um país se vê tão perdida e impotente como todos os outros cidadãos comuns dá uma dimensão maior da crise e do quanto ela é irreparável.

Aqui em Curitiba existe a Zombie Walk, um evento em que as pessoas se vestem de mortos-vivos e desfilam nas ruas nos domingos de Carnaval. Será que vai ter alguma referência disso em algum dos cinco livros?
Oliveira — Quem sabe? Não seria uma má ideia escrever alguma passagem mostrando a Zombie Walk. Só tem que ser em flashback, antes do apocalipse. Depois disso, as pessoas estarão ocupadas demais se mantendo vivas para pensar em brincadeiras desse tipo.

Como foi a experiência de lançar o livro primeiro por conta própria, via internet, e só depois fechar com uma editora?
Oliveira — Foi um atalho na realidade. Todo autor quer ver sua obra publicada, mas às vezes demora anos para conseguir alguém que aposte nele, isso se conseguir. Eu tinha os recursos necessários para lançar o livro de forma independente, mesmo que a minha antiga editora tenha me dado mais apoio do que eu imaginava e eu sou grato a eles por isso. Depois de ter essa primeira experiência como independente, ficou mais fácil conseguir abertura com uma editora maior e com muito mais recursos, sobretudo pois eu já tinha um nome razoavelmente difundido nesse meio.

A editora, a Faro Editorial, vai distribuir o livro em formato tradicional, no papel, e em formato epub e PDF em livrarias virtuais. Como você vê essa novidade de livros virtuais?
Oliveira — Eu vejo os eBooks como uma novidade muito bem-vinda e bastante lógica. Afinal de contas, em um dispositivo como um tablet é possível armazenar centenas, até milhares de títulos, sem necessidade de espaço físico e por preços muito mais acessíveis. Digo mais, os ebooks viabilizam muito o lançamento de novos autores, pois reduz drasticamente o risco das editoras, ao meu ver o maior entrave no momento de se decidir pela publicação de uma obra. Porém, acho que ainda levará um tempo para esse ser o principal meio de uma pessoa ler um livro. Mas acredito que seja questão tempo, trata-se de um caminho sem volta.