Artesanato ajuda na ressocialização de pessoas em situação de rua em Curitiba

SMCS

Sandra Lima/SMCS - Atividades são oferecidas a homens de 18 a 59 anos acolhidos na Unidade de Acolhimento Institucional (UAI) Boqueirão

Márcio Aurélio Mussio, 51 anos, aprendeu a fazer macramê na escola, quando era criança. Mal sabia ele que depois de ficar desempregado e em situação de rua, já adulto, a técnica de artesanato que usa apenas mãos e fios voltaria a ser útil.

Mussio voltou a fazer macramê há pouco tempo, depois que foi acolhido pela Prefeitura na Unidade de Acolhimento Institucional (UAI) Boqueirão, há cinco meses. O artesanato faz parte das atividades socioeducativas ofertadas no local. A atividade acontece toda terça-feira e reúne aproximadamente 15 pessoas.

“O macramê me distrai, me desestressa”, conta o homem que trabalhou durante anos na construção civil e acabou perdendo o emprego depois de um acidente de trabalho. Tão importante quanto a distração, o macramê acabou virando fonte de renda para Mussio. Muitas das peças que produz são vendidas e outras ele acaba doando para conhecidos.

Assim como Mussio, o curitibano Wilton Guilherme Miranda, 30 anos, participa da oficina de artesanato. Acolhido na UAI Boqueirão há sete meses, ele conta que já trabalhou em restaurante, na construção civil e em empresa de logística. Hoje, trabalha em um lava car de um posto de combustíveis e mesmo assim não perde as atividades oferecidas aos acolhidos. “Aproveito a oportunidade que estou tendo aqui dentro para aprender em todas as oficinas”, explica.

Além do acolhimento – Além do macramê, os usuários da UAI Boqueirão participam de outras atividades socioeducativas, como leitura, contação de histórias, roda de conversa, costura à mão, crochê e tapeçaria. Eles também são incentivados a participar de cursos de qualificação profissional e são encaminhados para entrevistas de emprego, a partir de contatos feitos pela equipe técnica com empresas da região.

“Nas unidades de acolhimento do município, o atendimento às pessoas em situação de rua vai muito além da oferta de banho, comida e cama”, diz o presidente da FAS, Fabiano Vilaruel, responsável pelas políticas da assistência social de Curitiba.

“Trabalhamos para que essa população tenha as suas necessidades supridas e, a partir de planos individuais, possa superar suas dificuldades e fazer novos projetos de vida”, conclui.

Estrutura – A Unidade de Acolhimento Institucional Boqueirão atende homens de 18 a 59 anos, em situação de rua, que por este motivo estão em situação de risco social. Com características de uma residência, a unidade tem capacidade para atender até 40 pessoas.

Term quatro quartos com camas, travesseiros, cobertores e lençois individuais. Em dois vestiários, os acolhidos têm armários individuais e sete banheiros, quatro deles com chuveiro elétrico.

“Na UAI Boqueirão os usuários encontram um ambiente que respeita as condições de dignidade de cada um”, explica a supervisora do Núcleo da FAS na Regional Boqueirão, Zeila Plath.

Comprometimento – A partir de avaliação técnica, a unidade acolhe pessoas que buscam sair das ruas, ter autonomia, restabelecer vínculos sociais, além de reconstruir projetos de vida para reinserção social e ao mundo do trabalho. Elas chegam à unidade encaminhadas pelos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), Centros de Referência Especializados para Atendimento à População em Situação de Rua (Centros Pop) e casas de passagem, todos coordenados pela FAS.

A assistente social e coordenadora da UAI Boqueirão, Janete Pereira Cunha, explica que das 38 pessoas acolhidas na unidade, 17 estão trabalhando. A maioria no mercado formal, com carteira assinada, na construção civil e no comércio, principalmente em supermercados.

“Na unidade, todos os acolhidos têm acompanhamento social, participam de atendimentos individuais e coletivos que buscam a garantia de direitos, o fortalecimento de vínculos sociais, comunitários e familiares, assim como o desenvolvimento de habilidades e competências”, explica a coordenadora.

Alimentação – A alimentação é bem servida e balanceada, são quatro refeições por dia, como café da manhã, almoço, lanche da tarde e janta. Os cardápios servidos seguem variações mensais e são preparados por uma empresa terceirizada.

“Não calculamos o valor calórico mínimo, mas buscamos garantir uma refeição nutritiva que possa ajudar a melhorar o estado nutricional e, com isso, melhorar a qualidade de vida do acolhido”, explica a nutricionista Carolina, que faz o acompanhamento dos cardápios servidos em todas as unidades da FAS.

A nutricionista avalia quantidade e itens servidos, sabor e até a embalagem. As visitas são periódicas, em unidades e dias aleatórios, sem o conhecimento da empresa contratada.