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Casa da Baba tem história (Luísa Mainardes)

Uma casinha colorida, móveis clássicos, cheirinho de bolo e um sorriso da Baba. Ao chegar na casa, que fica bem no início de Santa Felicidade, em Curitiba, é assim que qualquer pessoa é recebida. Além de boa gastronomia, o local conta histórias de perseverança e imigração na capital paranaense.

Gheysa Pires é a neta que idealizou a Casa da Baba. Ainda pequena, quando o local era realmente a casa da sua avó, Gheysa tinha um quadrinho e, durante o processo de alfabetização, escrevia: Restaurante da Baba. Mal sabia a curitibana que, ainda criança, adivinhou o futuro da família.

A família da Baba, que, na verdade, se chama Aglair Pires, chegou no Brasil quando sua mãe (a bisa da família) tinha menos de cinco anos. Alemães por uma parte e de sobrenome Menegusso (italianos) em outra, eles foram umas das 14 primeiras famílias a se instalarem em Santa Felicidade.

Tudo começou em 1953

A casinha rosa e verde entrou na história em 1953, quando a Baba, ainda criança, chegou ali com seus pais e irmãos. Entre idas e vindas da fatídica casinha, já senhorinha a Baba continuou vivendo ali, mas um elemento foi essencial para a mudança: acessibilidade. Com ruas estreitas, escadas e um bairro sem serviços essenciais, a neta Gheysa e o marido Murilo Bargouthi notaram que seria melhor trocar de casa com a avó, e aí veio a restauração.

Hoje, a casa que sobreviveu ao tempo, aos trincos e às reformas virou algo novo — mas sem deixar de ser o que sempre foi: um lar. Restaurada com delicadeza pelo arquiteto Ricardo Mesquita, ela se transformou em um espaço de eventos. Mas diferente dos grandes salões impessoais, a proposta ali é outra: oferecer encontros íntimos, com comida caseira e cheia de afeto – de mãe e avó.

Casa da Baba tem afeto

“Essa casa sempre foi fruto de muita luta da minha bisavó”, conta Gheysa, idealizadora do projeto. “Restaurar é manter viva essa história. É honrar todo o esforço que ela fez pela família.” Para ela, cada detalhe da casa — as fotos antigas, os móveis reaproveitados, os livros de culinária guardados pela Baba — carrega um pedaço daquilo que o tempo não apaga. “Tudo isso conta quem nós somos. E hoje, as pessoas têm perdido isso. Mas a gente não é só o presente: somos o resultado de muitas gerações.”

A reforma foi motivada, inicialmente, por necessidade. A Baba já tinha dificuldade de mobilidade e a casa, com escadas e rua íngreme, já não era segura para ela. A estrutura também exigia atenção urgente. “A gente já estava no limite. Mas conseguimos recuperar.” E mais que recuperar: transformar. O que antes era casa de família agora é também espaço de partilha — de encontros, de celebrações, de refeições.

A Baba, por sinal, virou a estampa da casa de eventos. Desenhada pelo arquiteto, de primeira, ela não gostou do seu nariz, mas depois aceitou. Além do talento na cozinha, a Baba tem talento com gente – é amorosa e conquista qualquer um. “A Baba tem um semblante que me lembra muito a doutora Zilda Arns. Você olha, mesmo que ela não esteja sorrindo, os olhos estão sorrindo. Você olha pra ela e ela tá sempre sorrindo”, conta o arquiteto que desenhou a Baba.

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Cozinhar é lembrar e é, também, especialidade da Baba

A cozinha da Baba virou parte fundamental da proposta. O feijão, simples e caseiro, ainda é o preferido dos netos. O nhoque ganhou fama entre os amigos e o bolinho de fubá, mais ainda. Cada evento servido na casa leva um pouco desse saber silencioso, transmitido com afeto. “Tudo o que eu faço, eu faço com muito amor”, repete a Baba, com olhos úmidos ao lembrar da mãe. “Isso aqui era dela. Tem muita coisa dela aqui ainda.”

Os eventos, hoje, acontecem com hora marcada. A casa atende apenas reservas ou promove encontros pontuais. A proposta é oferecer algo personalizado, em que as pessoas possam ser bem acolhidas. “A gente quer que quem venha aqui também sinta que vale a pena preservar a história da própria família. Que entenda o valor da memória”, explica a neta.

No Instagram @casadababa.stafeli há informações para as reservas e dias de funcionamento. A casa foi reformada e está totalmente acessível, com rampas e aspectos necessários para receber qualquer um. Além de um bom brunch, ou jantar, quem visita a casinha também conhece história e recebe carinho.