Alternativa viável para a transição enérgica, resposta às mudanças climáticas e estratégia para qualificar o transporte coletivo: os ônibus elétricos já são realidade. Diversas cidades brasileiras também anunciaram a intenção de eletrificar o transporte. Em Curitiba, a estimativa da Urbanização de Curitiba (Urbs) é que os primeiros veículos sejam entregues em maio de 2024.
No entanto, algumas perguntas ainda precisam ser respondidas sobre o assunto. Como será que esses ônibus funcionam? É difícil de implementar?
Os testes para isso estão sendo acompanhados pela CWBUS, um ecossistema de inovação na área de mobilidade urbana. O objetivo da hub é promover debates sobre o assunto, bem como se tornar um ponto de encontro para o desenvolvimento de soluções de eletromobilidade em Curitiba.
Em entrevista ao Bem Paraná, o presidente executivo da CWBUS Luiz Alberto Lenz César explica que o trabalho é de trazer clareza nas informações e escutar cada um dos atores envolvidos no processo de implementação dos ônibus elétricos.
“É um trabalho de integração que vai desde as montadoras até os fornecedores de equipamentos para carga e recarga das garagens. Estamos visitando empresas, escutamos as alternativas que as montadoras têm de carros e peças de fora do Brasil. Assim, nós vemos os erros e acertos que já aconteceram na implementação em outros lugares do mundo” “, diz.
A Lei 16.276/2023, que permite a compra de 70 ônibus elétricos do transporte coletivo, foi sancionada pelo prefeito Rafael Greca (PSD) nesta quarta-feira (20). A meta da Prefeitura de Curitiba é operar 33% do transporte público com veículos de energia limpa até 2030 e 100% até 2050.
Sem reajuste na tarifa
O presidente da Urbs Ogeny Pedro Maia Neto destacou que a lei é necessária para assegurar o retorno imediato da frota de ônibus elétricos para a Prefeitura. Afinal, o atual contrato de concessão do transporte coletivo chega ao fim no ano que vem.
Ele garantiu que a implementação não vai pesar no bolso do usuário. “Mesmo com a compra dos ônibus elétricos, não haverá reajuste da tarifa em 2024”, ressalta.
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Na visão do presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba (Setransp) Maurício Gulin, a chegada dos ônibus elétricos é mais um passo na direção de um futuro mais eficiente e sustentável. Para ele, Curitiba se torna exemplo ao mostrar que é possível adotar medidas de menor impacto ao ambiente sem comprometer a eficiência do transporte coletivo.
“Os ônibus elétricos são mais confortáveis e silenciosos. Ele vai melhorar a qualidade do ar da nossa cidade. A parceria com a cidade faz com que tenhamos iniciativas para melhorar segurança, acessibilidade e comodidade dos passageiros”, explica.
Aprendizado e mudanças na cidade
Para Luiz Alberto Lenz, presidente da CWBUS, os testes são um período de aprendizado para que o serviço seja implementado da melhor forma e possa ajudar na qualificação do transporte coletivo. Desta forma, Curitiba estará em acordo com o que é uma exigência mundial.
“Problemas, erros e acertos, a CWBUS traz clareza para esse processo. Podemos dizer e afirmar que a eletromobilidade veio para ficar, não tem volta. Nós temos que aprender, amadurecer esse processo e entender como funciona”, diz.
Os primeiros 70 ônibus elétricos marcam o início da descarbonização da frota do transporte coletivo, um dos pilares do plano de sustentabilidade do município para as próximas décadas. Essa ação está prevista no Plano de Adaptação e Mitigação das Mudanças Climáticas de Curitiba (PlanClima), que tem o objetivo de consolidar uma política climática com ações transformadoras e inclusivas na capital paranaense.
“Isso trará um benefício para a cidade. Não apenas pela evolução da própria natureza em si, mas a sustentabilidade pode trazer benefícios para os consumidores e população de modo geral. Não é apenas colocar ônibus elétricos. Estão sendo feitas novas alterações na cidade“.
O presidente da CWBUS explica que novas vias, novas estações de ônibus e linhas devem ser implementadas. Com essa alterações viárias, o planejamento da cidade (plano diretor) passa a ser adaptado.
Atrativo para o usuário
De acordo com o gestor técnico da CWBUS Gelson Forlin, os ônibus elétricos precisam ser atrativos para levar mais passageiros ao transporte coletivo.
“Se o ônibus elétrico continuar com os mesmos problemas que tem na combustão, as pessoas vão deixar o transporte. A gente vai ter um veículo mais caro com a mesma quantidade de pessoas pagando ele. Uma equação econômica financeira que não fica de pé! Nós precisamos trazer mais pessoas para o transporte para que isso seja viável”, diz.
Gelson destaca que os ônibus elétricos devem ter prioridade nos semáforos e fazer trajetos inteligentes. A meta, segundo o especialista, é trazer um sistema que possa fazer com que as empresas identifiquem onde é preciso colocar outros veículos e onde não é necessário.
“É preciso trazer os passageiros de volta para os ônibus e isso não será feito apenas com algo mais silencioso e confortável. Você precisa agregar mais benefícios a esses ônibus e nisso nós estamos trabalhando”.
Alguns componentes dos ônibus elétricos também serão monitorados de perto pela CWBUS durante a fase de testes. Entre eles os pneus, baterias e o ar condicionado dos veículos.
“Ônibus elétrico exige mais estudo que um ônibus a combustão. Antes nós fazíamos a combustão e agora a gente pensa nele como um outro componente da programação. Precisamos saber se a gente vai usar os ônibus em horário de pico, a noite, se a energia será mais barata de noite. Isso ainda precisa ser estudado”.
Mas afinal, como funcionam os ônibus elétricos?
O ônibus elétrico utiliza baterias recarregáveis ao invés de combustíveis fósseis. No caso do motor, a energia elétrica armazenada pelas baterias é convertida em mecânica. Com isso, o tempo de autonomia e a capacidade de passageiros depende de cada modelo.
Os veículos trazem uma série de vantagens. Entre elas estão o menor impacto ambiental e os sistemas de controle e recuperação energética. Além disso, alguns componentes tem características específicas. São eles:
Garagem
De acordo com Luiz Alberto Lenz, é preciso pensar em várias vertentes para a implantação das garagens nos ônibus elétricos. “Você tem a medição dessa rede que chega na garagem, a capacidade, no horário de pico e fora de pico. É preciso fazer obras civis e externas para adaptar esses equipamentos e fazer com que eles sejam acoplados”.
Baterias
Gelson Forlin afirma que novas baterias serão utilizadas nos ônibus elétricos. “Elas precisam ser reestruturas, desmontadas e montadas em componentes que podem ter melhores condições. Mas a mobilidade exige que ela tenha uma performance diferenciada”.
O gestor técnico da CWBUS explica que as baterias tem uma vida útil de oito anos e podem ser trocadas após esse período. De acordo com as montadoras, elas perdem cerca de 20% da capacidade depois do tempo finalizado.
Pneus
Com relação a durabilidade dos pneus, Gelson destaca que são feitos testes de 30 a 40 dias com esse componente.
“É pouco tempo para você definir um padrão de gastos a longo prazo. Nós vamos monitorar os componentes e vários líquidos, faremos isso de perto. A indústria tem fabricantes que vão desenvolver pneus para veículos elétricos. Esse é outro ingrediente que vai entrar na nossa conta. Os pneus devem trazer desempenho parecido com a combustão”.
Outros componentes
Os ônibus elétricos terão ar-condicionado, sistema de acesso à internet (Wi-fi) para os passageiros e tomadas USB para recarga de celular. De acordo com a Prefeitura, ainda terão dois espaços para cadeirantes e 20% de assentos reservados às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, o que representa o dobro do que especifica a normativa nacional.
E-Book sobre ônibus elétricos
Em novembro de 2023, a CWBUS lançou realizou o SUMMIT CWBUS 2023. No evento, a hub reuniu autoridades, especialistas e interessados no tema da mobilidade urbana, com ênfase na eletromobilidade. Para aprofundar o debate sobre o assunto foi lançado um e-book entitulado de “Caminhos para a Eletromobilidade”. O objetivo é esclarecer as principais dúvidas sobre os ônibus elétricos.